São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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HQ critica ditadura da Coréia do Norte

Canadense Guy Delisle narra experiências na capital do país em "Pyongyang", que lembra obra de Joe Sacco

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O que você sabe a respeito da Coréia do Norte? É um regime fechado, governado pelo ditador Kim Jong-il e que faz parte do "eixo do mal", segundo os Estados Unidos. Mas como vivem os norte-coreanos? O canadense Guy Delisle trabalhou por dois meses na capital do país e produziu a história em quadrinhos autobiográfica "Pyongyang - Uma Viagem à Coréia do Norte", lançada no Brasil, contando a experiência.
"Pyongyang" lembra, em princípio, as obras do maltês Joe Sacco, autor de reportagens em quadrinhos que viraram livros, como "Palestina". Há, entretanto, uma diferença importante: Sacco passa a maior parte do tempo entrevistando pessoas e coletando histórias. É este o seu trabalho e o motivo de sua viagem. Delisle, não: passou os dois meses trabalhando em um estúdio de animação. Ele teve acesso a poucos coreanos, que evitavam falar criticamente sobre o país, e produziu sua HQ baseando-se em suas impressões.
Pelo o que canadense descreve, é compreensível que não tenha feito entrevistas. Os estrangeiros têm pouca liberdade: não podem, por exemplo, pegar um táxi sem seu guia. Delisle era obrigado a circular quase sempre acompanhado do guia ou do tradutor -na maior parte do tempo, com ambos.
Quando se aventurou a, sozinho, conhecer a estação ferroviária que seu guia se recusou a mostrar, foi seguido e não sabia. No dia seguinte ouviu frases como "Então, foi visitar a estação?", espécie de aviso para dizer "Nós estamos te acompanhando".

Ditador
Esta e outras experiências deixaram marcas em Delisle, como a onipresença de Kim Jong-il. Imagens do ditador estão espalhadas, de quadros na parede a broches, assim como de seu pai, Kim Il-sung (1912-1994), seu antecessor no comando do país.
O canadense assume, no livro, uma postura crítica sobre a Coréia do Norte: a falta de acesso à internet, a censura, a constante repetição de mensagens laudatórias sobre o país e seu líder. "Num certo nível de opressão, pouco importa a forma que a verdade assuma, pois quanto maior for a mentira, maior vai ser o poder do regime, e mais ele mergulha a população no terror", escreve Delisle.
Nota-se, durante a leitura da obra, que não foi um período fácil. Por mais que o quadrinista disfarce com cinismo e humor as cenas, há solidão, desencanto e, talvez, um certo ar de superioridade.


PYONGYANG -UMA VIAGEM À CORÉIA DO NORTE
Autor:
Guy Delisle
Editora: Zarabatana
Quanto: R$ 35 (192 págs.)


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