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HQ critica ditadura da Coréia do Norte
Canadense Guy Delisle narra experiências na capital do país em "Pyongyang", que lembra obra de Joe Sacco
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O que você sabe a respeito da
Coréia do Norte? É um regime
fechado, governado pelo ditador Kim Jong-il e que faz parte
do "eixo do mal", segundo os
Estados Unidos. Mas como vivem os norte-coreanos? O canadense Guy Delisle trabalhou
por dois meses na capital do
país e produziu a história em
quadrinhos autobiográfica
"Pyongyang - Uma Viagem à
Coréia do Norte", lançada no
Brasil, contando a experiência.
"Pyongyang" lembra, em
princípio, as obras do maltês
Joe Sacco, autor de reportagens em quadrinhos que viraram livros, como "Palestina".
Há, entretanto, uma diferença
importante: Sacco passa a
maior parte do tempo entrevistando pessoas e coletando histórias. É este o seu trabalho e o
motivo de sua viagem. Delisle,
não: passou os dois meses trabalhando em um estúdio de
animação. Ele teve acesso a
poucos coreanos, que evitavam
falar criticamente sobre o país,
e produziu sua HQ baseando-se
em suas impressões.
Pelo o que canadense descreve, é compreensível que não tenha feito entrevistas. Os estrangeiros têm pouca liberdade: não podem, por exemplo,
pegar um táxi sem seu guia. Delisle era obrigado a circular
quase sempre acompanhado do
guia ou do tradutor -na maior
parte do tempo, com ambos.
Quando se aventurou a, sozinho, conhecer a estação ferroviária que seu guia se recusou a
mostrar, foi seguido e não sabia. No dia seguinte ouviu frases como "Então, foi visitar a
estação?", espécie de aviso para
dizer "Nós estamos te acompanhando".
Ditador
Esta e outras experiências
deixaram marcas em Delisle,
como a onipresença de Kim
Jong-il. Imagens do ditador estão espalhadas, de quadros na
parede a broches, assim como
de seu pai, Kim Il-sung (1912-1994), seu antecessor no comando do país.
O canadense assume, no livro, uma postura crítica sobre a
Coréia do Norte: a falta de acesso à internet, a censura, a constante repetição de mensagens
laudatórias sobre o país e seu líder. "Num certo nível de opressão, pouco importa a forma que
a verdade assuma, pois quanto
maior for a mentira, maior vai
ser o poder do regime, e mais
ele mergulha a população no
terror", escreve Delisle.
Nota-se, durante a leitura da
obra, que não foi um período fácil. Por mais que o quadrinista
disfarce com cinismo e humor
as cenas, há solidão, desencanto e, talvez, um certo ar de superioridade.
PYONGYANG -UMA VIAGEM À CORÉIA DO NORTE
Autor: Guy Delisle
Editora: Zarabatana
Quanto: R$ 35 (192 págs.)
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