São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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Crítica/livro/"Bendito Maldito..."

Rigorosa, biografia narra vida sem retoques de Plínio

CRÍTICO DA FOLHA

Biografias de grandes artistas são tentativas de organizar os fatos da vida de modo a iluminar as glórias da obra.
"Bendito Maldito - Uma Biografia de Plínio Marcos", de Oswaldo Mendes, enfrenta o desafio com galhardia e, além de narrar a saga desse extraordinário dramaturgo, revela-o como um personagem fascinante.
As dificuldades dessa realização começavam de o autor ser um amigo próximo do biografado. Mendes teve de esperar dez anos para aceitar a missão, que lhe estava destinada como um mandato natural desde a morte de Plínio. Talvez por isso, o biógrafo foi incansável no rigor jornalístico e recorreu a todas as fontes possíveis para deslindar na miríade de versões sobre os fatos algo como uma versão definitiva.
Em se tratando de Plínio Marcos (1935-1999), essa busca de evidências sobre o transcorrido tem como complicador a circunstância de ele ter sido pródigo em gerar histórias sobre as experiências vividas e de haver um "cipoal de relatos", como define Ilka Marinho Zanotto no prefácio, a desbastar.
O peso desses casos e quase lendas, contados à exaustão pelo próprio Plínio em vida, acaba se refletindo na forma e na estrutura do livro.
Oswaldo Mendes divide a biografia em três atos, cada um repartido em cenas, e estas em episódios. Cada ato cobre um período da vida de Plínio, mas essa macrodivisão evolutiva não impede que haja recorrências pontuais, na medida em que pessoas citadas em fases distintas se intersectam e remetem a fatos passados ou a ocorrências futuras.
Esse vaivém se justificaria na opção de um desenvolvimento não linear, mas gera algum sobressalto no leitor, pois volta e meia este reconhece histórias já contadas, reaparecendo muitas vezes com as mesmas frases citadas, só que de uma nova perspectiva.
Pode-se dizer que o biógrafo preferiu pecar pelo excesso do que pela omissão -e, por vezes, redundar para oferecer ao leitor a fruição dos episódios como partes autônomas.

Em boa companhia
Entre os achados mais notáveis, incluem-se histórias deliciosas de personalidades do teatro brasileiro, como Procópio Ferreira, Cacilda Becker, Tônia Carrero e Alberto D'Aversa, que trançaram suas vidas e feitos artísticos com a do protagonista do livro.
Ou revelações surpreendentes, como as que dão conta de suas dificuldades com a esquerda e das condições leoninas que Augusto Boal impôs para a estreia de "Dois Perdidos numa Noite Suja", no Teatro de Arena, no ano de 1966.
Também é preciosa a configuração dos núcleos familiares do escritor, tanto o que abrigou a sua infância e adolescência como aqueles formados por ele na maturidade -e que geraram a verdadeira tribo em que se converteu sua família.
A biografia de Mendes resgata com honestidade e paixão uma história que não podia ser esquecida. Entre as várias facetas de Plínio Marcos -de palhaço, camelô, ator, dramaturgo, diretor, polemista, cronista ou tarólogo-, a identidade que emerge mais forte é a de um ser humano raro e que teve como principal virtude ser ele mesmo sempre, sem retoques, o tempo todo. (LUIZ FERNANDO RAMOS)


BENDITO MALDITO - UMA BIOGRAFIA DE PLÍNIO MARCOS

Autor: Oswaldo Mendes
Editora: Leya
Quanto: R$ 44,90 (497 págs.)
Avaliação: bom




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