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MÚSICA ERUDITA
Maestro, que rege a Orquestra Sinfônica do Estado, critica romantização na interpretação do compositor
Lombard defende Tchaikovski "dietético'
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
Alain Lombard, 58, transformou,
como maestro, teatros provincianos -as óperas de Estrasburgo
(1972-1983) e de Bordeaux (1991-1995)- em centros de produção
que nada mais tinham a dever em
qualidade técnica a Paris ou Lyon.
Ex-assistente de Bernstein e Karajan, é um dos regentes permanentes do Met de Nova York.
Lombard está em São Paulo, onde dirige hoje e sábado a Osesp
(Orquestra Sinfônica do Estado),
no teatro São Pedro.
²
Folha - O que está acontecendo
com as orquestras européias?
Alain Lombard - As orquestras
procuram outras formas de se
apresentar. Quanto à interpretação, há os efeitos benéficos, sobre a
música do romantismo ou posterior, do trabalho desenvolvido por
maestros especialistas em barroco.
Folha - Ou seja, o retorno às formas autênticas, com instrumentos
e afinação de época na interpretação de Bach ou Haydn, também
modificou a maneira com que hoje
se interpreta Brahms?
Lombard - É isso. Há hoje uma
ênfase maior na forma. Procura-se
interpretar literalmente o que está
escrito. Há um retorno à interpretação dos períodos em que as partituras foram escritas.
Folha - Daí a aceitar a hegemonia
do repertório germânico...
Lombard - Talvez não seja bem o
caso. Há a redescoberta da música
sinfônica russa e também um
olhar bem mais aberto ao repertório de países não europeus.
Folha - Seria a aceitação da diversidade, que também prevalece no
teatro e nas artes plásticas?
Lombard - Sem dúvida. Hoje não
provoca mais estranheza programar Sibelius ou Chostakovitch.
Folha - Mas não haveria outra
tendência conservadora, que consiste em açucarar Tchaikovski?
Lombard - Havia um pouco disso, com interpretações mais para o
sentimentalóide. Mas há mudanças ditadas pelo conhecimento que
se passou a ter de outras interpretações. Tchaikovski não é o mesmo na Europa Ocidental depois
que se popularizaram as interpretações de Evgeni Mravinski, com a
Orquestra de Leningrado. São leituras mais "analíticas".
Folha - Mas os adeptos dessa romantização ainda têm um bom espaço nos teatros de ópera.
Lombard - Que eles façam um
bom proveito. Mas creio que não é
algo que durará muito mais.
Folha - O sr. acha que a inteligência do público está crescendo?
Lombard - O público sempre foi
inteligente e possui ainda um instinto formidável. Já está tendo direito a um tipo de música que não
está mais sob a influência do mercado do disco. O público está mais
aberto à experimentação.
Folha - Que tal dirigir a Osesp?
Lombard - É uma orquestra de
qualidade bastante bela. Eu já havia regido outros concertos no
Brasil, mas com orquestras estrangeiras. Estou tendo imenso prazer
em trabalhar com esses músicos.
²
Concertos: Orquestra Sinfônica do Estado,
regência de Alain Lombard
Solista: Leonidas Kavakos (violino)
Programa: Tchaikovski, Prokofiev e Brahms
Quando: hoje, às 21h, e sábado, às 16h
Onde: teatro São Pedro (r. Barra Funda, 171,
tel. 3666-1030)
Quanto: R$ 10 e R$ 5
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