São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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MÚSICA ERUDITA
Maestro, que rege a Orquestra Sinfônica do Estado, critica romantização na interpretação do compositor
Lombard defende Tchaikovski "dietético'

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

Alain Lombard, 58, transformou, como maestro, teatros provincianos -as óperas de Estrasburgo (1972-1983) e de Bordeaux (1991-1995)- em centros de produção que nada mais tinham a dever em qualidade técnica a Paris ou Lyon.
Ex-assistente de Bernstein e Karajan, é um dos regentes permanentes do Met de Nova York.
Lombard está em São Paulo, onde dirige hoje e sábado a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado), no teatro São Pedro.
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Folha - O que está acontecendo com as orquestras européias?
Alain Lombard -
As orquestras procuram outras formas de se apresentar. Quanto à interpretação, há os efeitos benéficos, sobre a música do romantismo ou posterior, do trabalho desenvolvido por maestros especialistas em barroco.
Folha - Ou seja, o retorno às formas autênticas, com instrumentos e afinação de época na interpretação de Bach ou Haydn, também modificou a maneira com que hoje se interpreta Brahms?
Lombard -
É isso. Há hoje uma ênfase maior na forma. Procura-se interpretar literalmente o que está escrito. Há um retorno à interpretação dos períodos em que as partituras foram escritas.
Folha - Daí a aceitar a hegemonia do repertório germânico...
Lombard -
Talvez não seja bem o caso. Há a redescoberta da música sinfônica russa e também um olhar bem mais aberto ao repertório de países não europeus.
Folha - Seria a aceitação da diversidade, que também prevalece no teatro e nas artes plásticas?
Lombard -
Sem dúvida. Hoje não provoca mais estranheza programar Sibelius ou Chostakovitch.
Folha - Mas não haveria outra tendência conservadora, que consiste em açucarar Tchaikovski?
Lombard -
Havia um pouco disso, com interpretações mais para o sentimentalóide. Mas há mudanças ditadas pelo conhecimento que se passou a ter de outras interpretações. Tchaikovski não é o mesmo na Europa Ocidental depois que se popularizaram as interpretações de Evgeni Mravinski, com a Orquestra de Leningrado. São leituras mais "analíticas".
Folha - Mas os adeptos dessa romantização ainda têm um bom espaço nos teatros de ópera.
Lombard -
Que eles façam um bom proveito. Mas creio que não é algo que durará muito mais.
Folha - O sr. acha que a inteligência do público está crescendo?
Lombard -
O público sempre foi inteligente e possui ainda um instinto formidável. Já está tendo direito a um tipo de música que não está mais sob a influência do mercado do disco. O público está mais aberto à experimentação.
Folha - Que tal dirigir a Osesp?
Lombard -
É uma orquestra de qualidade bastante bela. Eu já havia regido outros concertos no Brasil, mas com orquestras estrangeiras. Estou tendo imenso prazer em trabalhar com esses músicos.
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Concertos: Orquestra Sinfônica do Estado, regência de Alain Lombard
Solista: Leonidas Kavakos (violino)
Programa: Tchaikovski, Prokofiev e Brahms
Quando: hoje, às 21h, e sábado, às 16h
Onde: teatro São Pedro (r. Barra Funda, 171, tel. 3666-1030)
Quanto: R$ 10 e R$ 5




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