São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002 |
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LIVRO/LANÇAMENTO Biografia mais completa do trompetista Chet Baker é lançada agora no Brasil Longa jornada noite adentro
CASSIANO ELEK MACHADO DA REPORTAGEM LOCAL Já com a existência repleta de sulcos, Chet Baker dava uma entrevista para um documentário quando o repórter lhe perguntou por que não colocava todas as suas espantosas histórias no papel. Em close, o rosto vincado do trompetista abriu um sorriso e disse: "Ninguém acreditaria". Chet Baker tinha razão. Ninguém poderia crer na sua autobiografia por duas razões. Primeiro por ter sido mesmo sua vida um bocado inacreditável. Segundo porque, como bom mito que era, Baker alimentava com grossos fardos de pequenas mentiras a fornalha de sua mistificação. Em 1994, um escritor norte-americano resolveu enfrentar o "ninguém acreditaria" lançado pelo músico e chafurdar nos trigos e joios da vida do artista, nascido em 1929 e morto numa sexta-feira 13 de 1988, despencado da janela do segundo andar de um hotelzinho em Amsterdã. Foram sete anos de trabalho, mais de 500 entrevistas e viagens tricontinentais e James Gavin publicou com estardalhaço em maio deste ano nos Estados Unidos "No Fundo de um Sonho - A Longa Noite de Chet Baker". Este mês, essa montanha-russa com um dos jazzistas mais populares da história ganha versão brasileira. A editora Companhia das Letras está lançando aqui as minuciosas 500 páginas da biografia. "Não é um retrato nada agradável de se ver." As palavras não são de nenhum resenhista do livro, mas de seu próprio autor, James Gavin, em entrevista à Folha.
Não há meios-tons nessa história. Tomando como marco zero o esvaziado enterro de Baker, ao qual compareceram 35 pessoas, Gavin mostra o passo a passo da transmutação de "pretty boy", como o garoto de face apolínea era chamado na infância, em "cadáver cantante" (como o classificou o prestigiado "Village Voice"). Os detalhes da longa viagem noite adentro de Baker são abundantes no livro. Gavin chega ao requinte de descrever, por exemplo, como funcionavam as seringas nos anos 40, antes da invenção da injeção de êmbolos deslizantes. E dos problemas com drogas, nos leva às nove prisões, às 2.500 multas de excesso de velocidade e aos roubos feitos pelo cantor de "Let's Get Lost" para bancar seu vício. Mas não é só o Chet perdido, ufa, que nos traz "No Fundo de um Sonho". Gavin narra cada uma das glórias também, personificadas no nascimento do sopro gelado de seu trompete, anos 50. Mas nem aí o biógrafo dá total refresco ao biografado. Ao falar do concerto que o catapultou ao estrelado, em 1952, com o já mito Charlie Parker, Gavin desmente versão que Baker consagra nas suas memórias -sim, ele disse que ninguém acreditaria, mas escreveu memórias, lançadas no início do ano no Brasil. Não é verdade que ele teria sido selecionado em uma audiência com dezenas de trompetistas, sustenta. "Chet inventava muitas histórias, construía seu mito. Meu livro ajuda a separar o que era verdade ou não", diz Gavin. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Para biógrafo, beleza pôs Chet na história Índice |
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