São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Liberatore volta à HQ e retoma saga de Lucy

Italiano desenha história de amor da primata, cujo esqueleto foi achado em 74

Exposição em Paris acompanha lançamento de "Lucy - L'Espoir" na Europa; ilustrador ficou dez anos afastado dos quadrinhos

Divulgação
A primata Lucy desenhada por Tanino Liberatore para o livro recém-lançado na Europa, feito em parceria com Patrick Norbert

GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez anos depois, ele está de volta. Três milhões de anos depois, ela está de volta. Ele é um dos principais quadrinistas italianos, Tanino Liberatore, ilustrador do andróide Ranxerox. Ela é Lucy, a célebre ancestral da humanidade cujo esqueleto foi encontrado na África em 74.
O retorno de ambos está registrado em "Lucy - L'Espoir" (Capitol Editions), álbum de quadrinhos que acaba de ser lançado na Europa, acompanhado de uma exposição em Paris com as ilustrações de Liberatore para o projeto, criado em parceria com o roteirista Patrick Norbert.
A HQ imagina uma saga para Lucy -um hominídeo da espécie Australopithecus afarensis, encontrado na Etiópia-, colocando-a como uma Eva que vive a "primeira história de amor do mundo", o romance original que geraria a humanidade.
Além de marcar a volta de Liberatore às HQs, o novo álbum também é seu reencontro com a ancestral, que já havia desenhado no livro "Le Rêve de Lucy" (o sonho de Lucy), do escritor Pierre Pelot em parceria com o antropólogo Yves Coppens, membro da expedição que descobriu o esqueleto.
"Foi justamente Coppens quem sugeriu meu nome para o roteirista de "Lucy, L'Espoir'", disse Liberatore à Folha, que falou com o desenhista por telefone e ao vivo, na abertura da exposição em Paris.
"Estou trabalhando com Lucy desde o fim de 1999. Tudo começou quando pensava num cenário para um filme. Norbert me pediu que fizesse desenhos parecidos com os que havia feito para "Le Rêve", queria 12 ilustrações grandes, em crayon, que fiz. Depois de discutirmos, decidimos fazer desenhos diferentes, e surgiu a HQ."

Perdida na selva
Em "Lucy", a heroína se perde de seu bando após uma tempestade. Vagando amedrontada pelas savanas africanas, sozinha pela primeira vez, ela cruza o caminho de um caçador australopiteco de outro bando, assiste a ele desafiar o macho dominante de um grupo e perder a briga, virando um pária.
É entre esses dois solitários que se desenvolve o romance, com traços de "Romeu e Julieta", graças às diferenças intransponíveis entre suas "famílias". A relação dos dois começa hostil, depois se torna cautelosa e, por fim, amorosa.
"A esperança" [do subtítulo francês, "l'espoir'] foi uma sugestão minha, para que os leitores se dessem conta de que essa primeira história de amor representa a mesma esperança que temos até hoje."
O traço hiperealista que Liberatore usou para ilustrar os personagens pode ser conferido nas 11 páginas disponíveis no site www.lucy-bd.com/preview.html.


Longa pausa
Liberatore, 54, é irônico ao falar sobre sua ausência do meio que lhe deu fama, as HQs.
"Estou com essa mania de lançar uma nova HQ a cada dez anos... espero estar vivo para fazer a próxima", disse. "Mesmo meus outros álbuns tiveram um bom intervalo entre eles. Não sou um grande desenhista de quadrinhos, sou um ilustrador. Repetir a mesma coisa por 50, 60 páginas, como nas HQs, é verdadeiramente frustrante para mim. Também não encontrei histórias que me interessassem para desenhar."
O desenhista, que além de ilustrar trabalhou com filmes durante sua ausência dos quadrinhos, pretende agora se voltar para suas aquarelas, óleos e atividades como ilustrador.
"Meus projetos imediatos são desenhar para mim mesmo, fazer quadros e aquarelas um pouco diferentes de tudo que já fiz até agora. Depois decidirei se vou fazer outra HQ."

Exposição em Paris
Vinte e quatro dos desenhos originais feitos por Liberatore para "Lucy" foram reunidos para uma exposição em Paris.
Durante a abertura, na última sexta-feira, o ambiente moderníssimo da pequena galeria Arludik, na Île Saint-Louis, contrastava com a selva africana de 3,7 milhões de anos dos quadrinhos.
Divididas nas duas pequenas salas da galeria, as pranchas emolduradas de 1,10 x 0,70 m custavam entre 1.500 e 3.800 (no livro de assinaturas do vernissage, um fã reclamava do "preço abusivo").
No evento, o autor aproveitou para autografar exemplares da nova HQ e, falando à reportagem, elogiou o Brasil.
"Estive no Rio há cerca de 20 anos. No começo, pensei que não iria gostar, porque não sou exatamente um fã de samba; ledo engano, terminei a viagem e fui embora encantado com a beleza da cidade. Me disseram que está mais perigoso agora, mas sei que o desenho das montanhas não mudou."
A exposição acontece até 15 de janeiro, com entrada franca. "Lucy", o álbum, ainda não está disponível no Brasil, mas pode ser comprado em livrarias on-line como a Amazon francesa (www.amazon.fr) ou a Fnac (www.fnac.com).


LUCY - L'ESPOIR
Autores:
Tanino Liberatore e Patrick Norbert
Editora: Capitol Editions
Quanto: 23,56 (R$ 62), em média


Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.