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Lirinha apresenta solo teatral em SP
Vocalista do Cordel do Fogo Encantado estréia performance em que questiona a condição de vendedor de poesia
Músico carrega para a cena uma caixa-carrinho a partir da qual aciona alavancas e pedais para disparar luzes e sons durante suas falas
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Poeta e vocalista do Cordel
do Fogo Encantado, João Paes
de Lira, o Lirinha, contava 12
anos quando recebeu o primeiro cachê na vida. Ele não lembra o valor, mas "era pouco".
Foi num concurso de cantoria
de viola no teatro Guararapes,
em Recife. No intervalo, recitou poetas populares no centro
do palco, atrás de um microfone, sob luzes e olhares.
"Estranhei receber aquele dinheiro por algo que até então
fazia de graça, e com muita alegria", diz Lirinha, 31.
Um tanto daquela passagem,
e a trajetória artística cumprida
dali em diante, com o híbrido
de poesia, teatro e música, está
na performance que ele protagoniza, "Mercadorias e Futuro". A estréia acontece em duas
apresentações, hoje e amanhã,
no Sesc Pompéia.
Lirinha retoma o espírito do
teatro que deu origem à banda
no espetáculo "Cordel do Fogo
Encantado", que criou com
amigos na Arcoverde natal, no
sertão de Pernambuco, aos 16.
"Com o espetáculo, exponho
um dos meus maiores questionamentos como artista, que é a
venda da poesia; a função que o
capitalismo me impôs para viver de poesia", conta o autor.
Ele surge em cena como Lirovsky, vendedor de livros que
monta banca em qualquer canto da fictícia Interlândia.
Como o mascate que atrai
sua clientela para a roda anunciando atravessar o aro de bicicleta adornado com facas, o
personagem apela a uma caixa-carrinho de som e luz. Lirovsky
carrega consigo essa parafernália eletrônica a um só tempo rudimentar e sofisticada. Por
meio de alavancas e pedais, dispara os recursos com os quais
interage com as falas. "Vender é
descobrir nas coisas outras
propriedades", afirma.
A corruptela do apelido Lirinha com o nome do personagem, Lirovsky, dá a medida da
extensão biográfica do projeto.
Passa pela memória pessoal,
como no episódio da doença
que o abateu aos 9 anos, parcialmente descrito em off pela
mãe, Lizete, que perambulou
com o menino raquítico por vários médicos, até levá-lo a um
curandeiro, atendendo ao clamor da vizinhança. Fé à vista.
"Lirinha estudou profundamente o tema da profecia para
ter o domínio que o Lirovsky
pede. Fez um processo parecido com construção de personagem, não foi apenas criação de
texto", afirma a atriz Leandra
Leal, 25, que co-dirige a performance do poeta.
A narrativa pretende conciliar os profetas com a consciência da loucura. Roça realidade e
ficção ao percorrer o legado de
três deles: os visionários João
Pedra Maior, Teresa Purpurina
e Benedito Heráclito. "Eles têm
a dimensão do sagrado, mas
sem perder o devaneio. É como
se a profecia fosse devolvida ao
seu lugar de origem, que é a
poesia", diz Lirinha.
Quase paralelo à performance, ele deu à luz o também romance "Mercadorias e Futuro", que deve publicar em 2008,
ano em que gravará o quarto álbum do Cordel.
MERCADORIAS E FUTURO
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel.
0/xx/11/3871-7700)
Quanto: de R$ 4 a R$ 16
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