São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2010 |
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CRÍTICA DVD Na TV, "O Pagador de Promessas" ganha em carga política Minissérie adaptada em 1988 alonga caracterização de personagens e dá mais relevo à intransigência da igreja ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ COLABORAÇÃO PARA A FOLHA De todas as histórias criadas por Dias Gomes (1922-1999), "O Pagador de Promessas" é a mais marcante. Concebida como peça teatral, que estreou em 1960, a história teve dois desdobramentos: o filme homônimo dirigido por Anselmo Duarte em 1962 e a minissérie exibida em 1988 pela Rede Globo, lançada agora em DVD. A adaptação para a televisão é do próprio autor, que acrescentou personagens e situações à trama, aumentando o peso e a complexidade dos conflitos políticos presentes na peça. A história segue centrada em Zé do Burro (José Mayer), um lavrador que faz uma promessa: levar uma enorme cruz de madeira até o altar da igreja de Santa Bárbara caso ela cure o burro Nicolau. Como a promessa é feita em um terreiro de candomblé -a Iansã, sincretizada com santa Bárbara-, o clero se opõe ao seu cumprimento. A peça tem início com a chegada de Zé a Salvador arrastando a cruz. Já a minissérie começa bem antes, mostrando a vida de um grupo de posseiros em Monte Santo, no sertão da Bahia, o casamento de Zé e Rosa (Denise Milfont) e os conflitos com o maior latifundiário da região, Tião Gadelha (Carlos Eduardo Dolabella). Monte Santo não aparece por acaso: foi palco da Guerra de Canudos (1896-1897). Zé do Burro não é politizado, ao contrário de seus amigos posseiros, que lutam pela reforma agrária ao lado do padre Eloi (Osmar Prado), assassinado a mando de Gadelha. Pouco depois do crime, Zé parte em viagem para Salvador com Rosa. Daí em diante a minissérie segue basicamente a peça: Zé é impedido de entrar na igreja pelo padre Olavo (Walmor Chagas), mas não arreda pé das escadarias, é mistificado pela imprensa, que o toma por santo e revolucionário, e morre depois de um confronto com a polícia. Esta versão alongada da peça caracteriza melhor os personagens e aprofunda o contexto político em que se desenrolam as ações, dando mais relevo à intransigência da Igreja Católica, dividida entre conservadores e progressistas, e à inépcia do Estado, representado pela polícia, que não sabe lidar com o sincretismo religioso. O PAGADOR DE PROMESSAS DISTRIBUIDORA Globo Marcas QUANTO R$ 49,90, em média CLASSIFICAÇÃO livre AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Depoimento: Nelson Rodrigues é o farol que nós temos Próximo Texto: Crítica/Série: "Batman e Robin", de 1949, diverte com charme trash e produção pobre Índice | Comunicar Erros |
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