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Arte do diálogo
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Num momento em que escasseiam as perspectivas de paz no
Oriente Médio, artistas palestinos
e israelenses tomam a iniciativa e
demonstram que a integração é
não apenas possível como também extremamente produtiva.
Como parte dos eventos culturais promovidos durante a realização do Fórum Social Mundial,
entre a próxima quinta-feira e o
dia 28, a Usina do Gasômetro, em
Porto Alegre, vai expor 35 gravuras de artistas plásticos de Israel
(entre eles, Gershon Knispel, Sigalit Landau e Micha Ullman) e
dos territórios palestinos (como
Hossni Radwan, Hisham Muhsin
e Bashir Abu-Rabia). As obras
irão depois para São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, antes de percorrer outras cidades da Europa e
dos Estados Unidos. A exposição
também percorre Israel e os territórios palestinos. Foi aberta em
Jaffa (na galeria Hagar) no último
dia 5 e deve se iniciar em Jerusalém Oriental ainda nesta semana.
"Temos 35 artistas para representar os 35 anos de ocupação israelense da Cisjordânia, de Gaza e
de Jerusalém Oriental. Atualmente, a fogueira da esperança está
praticamente extinta, e estamos
soprando a brasa para reacendê-la", explica Knispel, 70.
"A maioria dos intelectuais quer
deixar claro que o que está acontecendo não é em nosso nome.
Nós nos recusamos a viver na situação atual. Estamos fazendo de
tudo para salvar o caminho do
diálogo entre vizinhos."
A exibição atual é consequência
de uma iniciativa do início dos
anos 1980, quando Knispel era
presidente da Associação dos Artistas Plásticos de Israel. À época,
ele, Suleiman Mansour e outros
artistas promoveram as primeiras
exposições -em Haifa (1980), Jerusalém (1981) e Tel Aviv
(1982)- com o intuito de oferecer aos artistas palestinos uma
oportunidade para exibir suas
obras, que eram vetadas por autoridades israelenses. Eles também
organizaram uma série de projetos conjuntos contra a ocupação e
por um futuro baseado em uma
convivência segura e igualitária,
em que a cultura é vista como um
elemento de aproximação.
A última exposição conjunta foi
realizada em 1997, sob o título
"Compartilhando Jerusalém".
Para a exposição atual, grupos
de artistas palestinos e israelenses
trabalharam em conjunto com a
Coalizão da Paz Israelo-Palestina.
Os princípios defendidos, segundo os organizadores, são: 1) fim
da ocupação israelense de territórios palestinos; 2) dois Estados
para dois povos; 3) Jerusalém
compartilhada; e 4) apoio a meios
não-violentos de resolver o conflito e de um diálogo pacífico.
"Quando o Likud [partido do
premiê de Israel, Ariel Sharon" resolveu rejeitar publicamente o Estado Palestino, em maio do ano
passado, nós nos assustamos. E
agora estamos ainda mais preocupados com a possibilidade de
reeleição de Sharon [nas eleições
do próximo dia 28], apesar das
acusações de corrupção que enfrenta. A solução para o conflito
israelo-palestino é o fim da ocupação e a volta imediata ao diálogo", acredita Knispel.
As gravuras, impressas em
silkscreen (100 x 75 centímetros),
serão vendidas a US$ 6.000 a fim
de pagar as despesas com a realização da obra e financiar outras
atividades em prol da paz, de
acordo com os organizadores.
Oscar Niemeyer
Além das 35 gravuras, obras de
Oscar Niemeyer que passaram
por uma intervenção de Gershon
Knispel integram a exposição. Em
uma delas, Niemeyer (que visitou
Jerusalém em 1964) escreveu:
"Por um mundo melhor. O mais
importante não é a arquitetura,
mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar. Quando a miséria se multiplica, e a esperança foge do coração
dos homens... Só a revolução".
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