São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Radical livre

Matheus Nachtergaele interpreta um jornalista comunista em minissérie da Globo e se prepara para lançar um filme "difícil para o Brasil'

Márcio Souza/TV Globo
Matheus Nachtergaele como o jornalista Tito, em "Queridos Amigos'


LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Matheus Nachtergaele, 39, não tem celular. Motivo: "Não aceito ser roubado sistematicamente pelas operadoras".
Nisso, acredita, se parece com Tito, jornalista radical de esquerda que interpretará na minissérie "Queridos Amigos", da Globo, a partir de 18 de fevereiro. Ex-exilado político, ele se depara com um país em grave crise econômica e tem de afogar, em uma revista pornográfica, todo o talento que pretendia usar para mudar o mundo.
A história, de Maria Adelaide Amaral, se passa em novembro de 1989, fim da campanha Lula x Collor. Tito, é claro, votou em Lula, apesar de não considerar, já naquele tempo, o petista tão de esquerda assim. Esse foi também o voto de Nachtergaele, mais esperançoso que seu personagem, triste por ver a família inteira ajudar a eleger Collor. Em 1989, o ator morava na França, mas voltou "a tempo de ver o debate final" entre os candidatos e "assistir de camarote ao governo Collor".
Hoje, Nachtergaele se decepciona por Lula não ter o hábito de aparecer na TV e dizer claramente: "Olha, gente, o que está acontecendo é o seguinte: eu queria fazer isso, mas não estou conseguindo porque a empresa tal está dificultando etc. etc.".
Nachtergaele confessa ter dificuldades para "perceber o que se passa na política". E acredita que Amaral acertou em dar "essa ré pequena para entender um passado dolorido que a gente, que era jovem, não consegue compreender bem". Dos anos 80, diz se lembrar "da morte de Elis, da Aids e da sensação clara de que o capitalismo tinha vencido no mundo".
"Queridos Amigos", na sua opinião, "vai ser uma minissérie como há muito tempo não se via, com uma coragem que desapareceu da TV, de muito culhão, para ser vulgar".
"Depois de "Os Maias" [Maria Adelaide Amaral, 2001, com Nachtergaele, boa de crítica e ruim de ibope], houve um certo pânico, e as minisséries viraram novelas de época. A TV ficou com medo", analisa. "Queridos Amigos", diz, vai "colocar o dedo na ferida" ao citar "Lula, Collor, Sarney, Ulysses Guimarães" e mais figurões.

Menina morta
Se, na TV, Nachtergaele será um radical com quem guarda certa semelhança, no cinema promete radicalizar de vez.
Neste ano, estréia como diretor com "A Festa da Menina Morta", protagonizado por Daniel de Oliveira. Para se ter uma idéia da obra, vale contar o que Cláudio Assis, diretor dos nada convencionais "Amarelo Manga" e "Baixio das Bestas", disse a Nachtergaele após uma sessão privada: "O filme deve passar por dificuldades no Brasil". Segundo o ator, o longa-metragem "é livre, de autoria, não se encaixa em um modo de narrativa que seja facilitador e vai causar estranheza".
Ele teve a idéia da história quando filmava a minissérie "O Auto da Compadecida" (1999).
"Estava perto de Cabaceiras [PB] e saí para ir a um forró. Acabei caindo em uma cerimônia religiosa na qual o povoado rezava para restos do vestido de uma menina morta que havia sido encontrada por uma família muito católica. As pessoas pediam coisas para os trapos. Eu mesmo rezei", conta.
Em "A Festa...", Daniel de Oliveira é quem encontra o vestido e se torna o santinho de uma seita. O filme começa a rodar festivais internacionais a partir de abril, e o lançamento no Brasil é previsto para o final do ano. Fora isso, Nachtergaele deve participar da série "Os Amadores", da Globo, no segundo semestre.

Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta
Próximo Texto: Análise: Ator representa todos os tipos brasileiros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.