São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Ana Ottoni/Fotografia
Modelo desfila na casa de Tufi Duek


Em sua casa de 2.900 m2, Tufi Duek apresenta rosas que desabrocham em golas, mostra Milhazes e Tenreiros e oferece "crispes" de pão-folha. Por Paulo Sampaio

Entre rosas e espinhos

Tufi Duek conta aos jornalistas que ligou para seu assistente no dia 24 de dezembro, "em pleno processo criativo", e disse: "Já sei onde vai ser o desfile! Na minha casa. Claro! Tem tudo a ver com rosa, com intimidade..." O desfile foi na quarta-feira passada, ocupou quatro ambientes do casarão dos anos 40, no Jardim Europa, e dividiu o público em grupos: a "primeira classe", cujas estrelas eram Regina Guerreiro e Costanza Pascolato, foi acomodada no hall ao lado da escadaria da entrada; a "classe executiva", que abrigava figuras como Rutinha Malzoni, Lenny Niemeyer e Adriane Galisteu, ficou no living e no jardim de inverno, à sombra; e o povo da "econômica" ocupou a parte de fora da casa, se abanando ferozmente para aplacar o calor intenso.

 

Duek dá entrevistas no hall de distribuição do segundo andar. "Escolhi a rosa como tema porque ela representa todas as mulheres em uma só. Ela desabrocha numa gola, está em botões pelo corpo, decorando ombros. Criar tem a ver com despetalar...", diz Duek, num acesso metafórico.
 

Quantos metros quadrados tem a casa? "Dois mil e novecentos... Mas, gente, isso não tem a menor importância. O importante é que eu quis abrir as portas da casa onde eu moro sozinho, receber as pessoas na minha intimidade, porque tem a ver com a coleção, o processo..." Ele afirma que, apesar de ter "definido o processo criativo em casa", seu jardim não tem rosas: "O jardim é tropical, do Burle Marx, eu só tenho rosa em vaso", conta.
 

Rutinha Malzoni diz que adorou a idéia do desfile "intimista": "Gosto dessa mistura de vanguarda em uma casca clássica [a casa]". Ela sorri altiva, levanta o queixo, e diz: "Valentino", como se fosse a senha em um filme de James Bond, ao responder a uma repórter de moda de quem é seu vestido.
 

No living com obras de Beatriz Milhazes, Tenreiro, Vik Muniz, Leonilson, Robert Mapplethorpe e outros, o artista plástico Paulo Von Poser, criador da rosa aplicada nas peças da coleção, afirma: "O Tufi tem um olho maravilhoso para arte". Paulo se esgueira para atravessar a fila de cadeiras colocadas entre o living e a sala de jantar com 14 lugares, que está isolada no desfile, e observa o que tem lá dentro, inclusive uma tela pintada por ele mesmo. "A mais maravilhosa é a do (René) Gruau, ilustrador que fez umas campanhas do Dior!"
 

Isaac Duek, irmão de Tufi, chega com um grupo de louras grandes: "O Tufi gosta muito do Andy [Warhol], mas não quero falar das obras. A casa é dele...".
 

Antes do começo do desfile, já acomodada na "classe executiva", uma colunista observa: "A casa do Tufi é estilo a do Nizan Guanaes, sabe? Tudo é escolhido para parecer que ele entende muito de arte". (No fim, a colunista aplaude o desfile, grita "Êêêê" para Duek e estende a mão para ele). Ao levantar-se, ela olha para o chão e detecta uma cópia de um modelo Jimmy Choo de sandálias, nos pés da diretora de redação de uma revista feminina. "Não precisa disso, vai! Ela é diretora de redação!", reage a colunista, que afirma ter um par legítimo das sandálias. A bolsa da diretora de redação, ainda de acordo com a colunista, é um pasticho de Bottega Veneta.
 

Rodeada de fotógrafos, Adriane Galisteu diz "aaaaaamo essa casa! Já avisei ao Tufi: no dia em que ele quiser vender, eu compro de porteira fechada, com tudo o que tem dentro". O ponto alto do desfile, para Galisteu, foram as botas. "Adoro botas. Elas resolvem a vida das mulheres", diz ela. Logo ao lado, uma editora de moda murmura: "Ela deve adorar botas mesmo, para estar com essas galochas [Gucci] de borracha, num calor desses!"
 

Giselle Itié, Christine Fernandes e Fiorella Mattheis posam como uma trinca de soldadinhos uniformizados de Forum Tufi Duek.
 

Alheia ao desfile, Narcisa Tamborindeguy mastiga ruidosamente um punhado de "crispes" de pão-folha. "De quem é o bufê, moço?", ela pergunta ao garçom, enquanto morde um cacho de cereja e joga o cabo longe. Era do Fasano. "Eu sou absurda", ela diz, rindo sozinha, ao lado de um grupo de constrangidos.


Texto Anterior: Em filme de Assis, ator dá "tudo de ruim"
Próximo Texto: Cinema e teatro sobem mais que inflação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.