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Medo de desfile no rio Tietê se dissemina entre fashionistas
Público acompanhará show da grife Cavalera, que acontece hoje de manhã, de dentro de um barco; doenças e mau cheiro preocupam alguns convidados
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
"E se eu pegar alguma doença?" "Será que eu levo repelente?" As frases, ditas em tom de
apreensão, estavam na boca de
convidados da Cavalera para o
desfile da grife, previsto para
acontecer na manhã de hoje em
um barco no meio do rio Tietê.
O temor está ligado ao medo
de ser "atingido" pela poluição
do rio, que recebe cerca de três
bilhões de litros de esgoto por
dia. A grife escolheu o local para
fazer ao mesmo tempo um protesto contra a poluição no rio.
"Ainda não sei se vou. Estava
animada, mas muitos amigos
disseram que eu correria um
grande risco de pegar doenças",
disse a consultora de moda
Costanza Pascolato, dois dias
antes do desfile.
"Sou uma hipocondríaca fanática. Não faço idéia de que
doença possa pegar, mas sei
que existem várias", afirma.
Costanza lembra que ouviu a
história de um ator que foi parar no hospital depois de cair
no rio durante a apresentação,
em 2006, da peça "BR-3", do
grupo Teatro da Vertigem, realizada no mesmo barco que levará os fashionistas pelo rio.
Por precaução, a marca distribuiu com o convite um kit
que inclui uma capa de plástico
e uma máscara tipo cirúrgica.
Mas os convidados mais temerosos se preparavam para redobrar os cuidados. "Vou me encher de repelente", diz o apresentador Max Fivelinha.
"Tenho muito medo de ir, e
além disso o perfume não é nada agradável", diz a editora de
moda Regina Guerreiro, que
não pretende colocar seus pés
no local.
Alguns fashionistas, porém,
acham a ida a um "local perigoso" uma espécie de "esporte radical". "Não é divertido pensar
que você vai a um lugar onde, se
cair, pode morrer afogado no
meio do esgoto?", pergunta, entre risos, a designer e editora de
moda Jussara Romão.
De acordo com o médico Vicente Amato Neto, um dos
principais infectologistas do
país, "nada de grave pode acontecer se a pessoa ficar quieta no
barco, sem se molhar".
Mas se ela tomar contato
com a água do rio Tietê corre,
sim, o risco de contrair doenças
graves. "Nessas águas existem
muitos, mas muitos vírus e bactérias que podem causar infecções e viroses sérias", alerta.
De acordo com ele, o contato
com a água na pele pode causar
abcessos, micoses e vários tipos
de infecções cutâneas.
O risco de ser picado por
mosquitos, como o da dengue,
tão temido entre os fashionistas, não é preocupante, segundo o especialista.
"A quantidade de mosquitos
que existe no rio Tietê é a mesma que existe na sua casa", informa Neto.
Os mais hipocondríacos também não devem temer a febre
amarela. "O risco de pegar essas
doenças está em áreas silvestres e matas", explica o médico.
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