São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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Nydia Licia, 82, lembra história do teatro

DA REPORTAGEM LOCAL

Nydia Licia, 82, lembra-se daquela noite de 1954 com a nitidez que a memória preserva em casos especiais. "Eu e Sérgio [Cardoso] estávamos voltando para casa e, por acaso, passamos em frente ao prédio. No dia seguinte, ligamos para o proprietário e alugamos o espaço", conta a atriz, que nasceu na Itália e veio criança para o Brasil.
Começava assim a história do teatro Bela Vista, inaugurado por Licia e pelo ator Sérgio Cardoso em 1956. "Não se tratava apenas da reforma de um prédio velho e abandonado, cheio de pombos e de sujeira. Numa mesma noite haveria a inauguração de um teatro, de uma companhia e de uma peça", relata a atriz no livro "Ninguém Se Livra dos Seus Fantasmas" (Editora Perspectiva). Escolheram, para a estreia, "Hamlet", de Shakespeare.
As montagens prosseguiram até 1969, quando os proprietários pediram o terreno de volta. É nesse momento que outra história, a do atual teatro, começa. Para salvar o espaço, o meio teatral fez um apelo para que o governo comprasse o edifício e não tirasse dali a arte. O pedido foi aceito pelo então governador Laudo Natel, em 1971. Mas o sonho da manutenção do espaço tal e qual tinha sido idealizado foi por água abaixo.
"O teatro que transformamos num lugar formidável foi abaixo. Propusemos uma reforma, mas fizeram outro, que levou dez anos para ser concluído", diz Licia. "No projeto inicial, as portas eram tão estreitas que não permitiam a passagem de um piano de cauda."
Vem arquiteto, cai arquiteto, o prédio foi reinaugurado em 1980. Na abertura, Cardoso, que morrera de infarto, em 1972, foi homenageado com o espetáculo "Sérgio Cardoso em Prosa e Verso", dirigido por Gianni Ratto (1916-2005).
Ao saber do projeto de revitalização, Licia reage com um misto de alegria e desconfiança. "Se o projeto de transformação do TBC num centro cultural [prometida pela Funarte] e a escolha de repertório do Sérgio Cardoso tiverem sucesso, pode ser que o Bexiga renasça, até porque estão na região também o Oficina e o Ruth Escobar, todos lugares com história."
(APS)


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