São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2011 |
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CRÍTICA DRAMA Diretor ainda peca por excesso de temas e de melodrama RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA Antes de tudo, é preciso reconhecer: o fim da parceria com Guillermo Arriaga fez bem a Iñárritu. Em "Biutiful", o diretor se livrou das três linhas narrativas que se unem -muitas vezes a fórceps- no final, fórmula que já havia se mostrado exaurida em "Babel". Com apenas uma trama, um protagonista (Javier Bardem) e uma locação (Barcelona), o estilo dele se tornou menos barroco, menos disposto a se perder em firulas. Bardem é Uxbal, um intermediário. Ele faz a conexão entre espanhóis e imigrantes. De um lado, empreiteiros e policiais corruptos. Do outro, chineses e senegaleses ilegais. Médium, faz também a ponte entre vivos e mortos. No começo do filme, Uxbal se descobre com um câncer terminal e só dois meses de vida. A partir daí, sua preocupação é conseguir dinheiro e encontrar alguém para cuidar dos dois filhos -já que a ex-mulher é bipolar. Mas, como sempre na obra de Iñárritu, antes que algo dê certo, tudo dá errado. Muito errado. Apesar de ter se livrado das barras forçadas dos roteiros de Arriaga, ainda incorre em pecados antigos. Primeiro, tenta dar conta de muito num só filme. O drama de um homem prestes a morrer não lhe é suficiente. Ele precisa falar também de imigração, exploração, corrupção e mediunidade. Depois, segue trabalhando com a lógica do "quanto pior (para os personagens), melhor (para o diretor)" -como se o acúmulo de tragédias fosse necessário para ser reconhecido como artista sério. A soma dessas características define o procedimento básico do cinema de Iñárritu: a globalização do melodrama. Da tradição mexicana, pega o drama rasgado (homem doente, amor impossível, mortes trágicas) e o "enobrece" -ou maquia- com questões globais urgentes. É um cinema de maiúsculas: A Tragédia do Homem Contemporâneo. E, por isso, facilmente confundido com grande arte. Iñárritu será um cineasta mais interessante quando souber escrever também com minúsculas. BIUTIFUL DIREÇÃO Alejandro González Iñárritu PRODUÇÃO Espanha/México, 2010 COM Javier Bardem, Maricel Álvarez e Hanaa Bouchaib ONDE estreia amanhã nos cines Reserva Cultural, Cidade Jardim, Livraria Cultura e circuito CLASSIFICAÇÃO 16 anos AVALIAÇÃO regular Texto Anterior: Raio-X: Iñarritu Próximo Texto: Contardo Calligaris Índice | Comunicar Erros |
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