São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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CINEMA

Ator de "Big Fish" fala sobre fama, vícios, cinema britânico e a importância de saber contar histórias

Ewan McGregor já é "imprescindível" na cena de Hollywood

Divulgação
Cena de "Peixe Grande", de Tim Burton, indicado ao Oscar de trilha sonora e que estréia hoje


JAMES RAMPTON
DO "INDEPENDENT"

Estou sentado tranqüilamente, vendo o relógio de parede pregado sobre a lareira de um quarto no hotel Dorchester, em Londres, quando Ewan McGregor entra cheio de energia, com o ar de uma criança que passou a noite trancada numa loja de brinquedos.
Tirando o botox, o escocês de 32 anos talvez seja o produto mais procurado em Hollywood neste momento. O que será que lhe confere esse status de imprescindível? McGregor irradia aquilo que os executivos de Hollywood gostam de chamar de "o fator X".
Em "Peixe Grande", um filme imaginativo e visualmente belíssimo de Tim Burton, McGregor faz o jovem Edward Bloom. O filme não é apenas um conto de fadas meloso -tem algo a nos dizer sobre o poder de contar histórias. "Sem histórias, nos restariam apenas a política e os supermercados. E que espécie de mundo seria esse?"
Como Edward em "Peixe Grande", todos nós gostamos de dramatizar nossas vidas. "Sendo celta, adoro a idéia de poemas e canções sendo passadas de geração em geração. Naturalmente, enfeitamos nossas histórias. Ninguém quer contar uma história medíocre".
Em "Peixe Grande", McGregor transmite a sensação de uma presença muito descansada na tela. Atuar é algo que lhe parece ser natural. Ele atribui isso ao fato de ter eliminado muitos supérfluos de sua vida.
"Hoje em dia, atuar está mais administrável para mim", ele confirma. Ele admite que houve época em que gostava da vida frenética do showbiz, mas diz que tudo isso mudou: ""Não estou interessado em ser famoso. Estou muito interessado em ser bem-sucedido -e existe uma diferença muito grande entre as duas coisas. A fama é uma chatice".
McGregor diz que ajudou muito quando ele resolveu parar de beber álcool, há três anos. "Não conseguia ser um bom pai, bom ator e bom bebedor. Alguma coisa teria que cair fora -e foi a bebida. Eu já tinha tomado o suficiente."
A invasão de privacidade é outra coisa que o deixa furioso. Além disso, McGregor enxerga o perigo de os jornais se colocarem como guardiães da moral e dos bons costumes. "Nossa imprensa tablóide se baseia numa moral que não pertence a ninguém", ele reclama."
A boa notícia é que essas queixas não impedem McGregor de ser ator, a profissão que ele sempre quis ter. Quando era criança, em Crieff, Perthshire, ele idolatrava seu tio, Denis Lawon, que representou Wedge Antilles nos filmes "Guerra nas Estrelas". Depois de concluir o colégio, McGregor estudou na Escola Guildhall de Música e Drama, em Londres, de onde, em 1993, foi chamado para fazer seu primeiro papel importante, no seriado de Dennis Potter "Lipstick on Your Collar", do Channel 4.
Em seguida, passou para o cinema e iniciou sua ligação fértil com o diretor Danny Boyle em "Cova Rasa". McGregor colaborou com Boyle outra vez no filme que o fez famoso, "Trainspotting", e em seu primeiro trabalho em Hollywood, "Por uma Vida Menos Ordinária".
O estrelato chegou com quatro sucessos enormes de bilheteria: "Guerra nas Estrelas - Episódio 1: A Ameaça Fantasma", "Guerra nas Estrelas - Episódio 2: O Ataque dos Clones", "Moulin Rouge" e "Falcão Negro em Perigo". No ano que vem o ator estará nas telas outra vez no papel de Obi Wan Kenobi no próximo episódio da saga "Guerra nas Estrelas".
Ele tem opiniões fortes sobre o cinema britânico. "Nós, no Reino Unido, perdemos a noção de trama. Se continuarmos a produzir comédias românticas piegas sobre pessoas que se casam, o público vai se cansar. Não conheço essas pessoas. Quem são? Onde vivem? Acho que só pode ser em Notting Hill."

Tradução Clara Allain


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