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POPLOAD
"Hey Ya!" assola a música pop
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
É impressionante o poder
que tem esta já antológica
ópera hip hop, do rapper Andre
Outkast. Não falo só do fato de o
carrancudo pop erudito Lou Reed
dizer que quando "Hey Ya!" toca
o mundo fica melhor.
"Hey Ya!" parece não ter mais
fim. A canção não só ainda não
enjoou de tanta hiperexposição
nestes cinco meses de veiculação
como também começa a ter vida
própria e não pertencer mais a
Andre 3000, seu autor e uma das
metades do Outkast. "Hey Ya"
pertence ao mundo.
Outkast e Charlie Brown
Não é o que você está pensando.
Este Charlie Brown não é o Jr. O
que aconteceu aqui é uma das
mais felizes reutilizações de uma
música já vista. E o mais novo fenômeno da internet. Se você não
foi atingido por ele, pode esperar.
Você vai. No meio da semana passada começou a circular na rede
virtual uma paródia da música do
Outkast, batizada (a paródia) de
"Hey Ya, Charlie Brown".
Obra de dois nerds de computador, é um clipe com a turma da tirinha Peanuts (Charlie Brown, o
cão Snoopy...) dançando o sucesso do Outkast. É sensacional.
Charlie Brown aparece com o
"One-two-three-four" e então o
erudito Schroeder manda ver no
piano, Snoopy na guitarra e o
grunge Pig Pen no contrabaixo. O
resto da turma dança "Hey Ya!"
em uma ótima sequência de animação, dessas de você não parar
de sorrir. Sorrir, não rir. O vídeo
não é engraçado: é encantador.
O zum-zum virtual levou a
emissora americana ABC a mostrar o "Hey Ya, Charlie Brown" na
TV. Esse foi o problema. Em dois
dias a United Media, marca que
detém os direitos de imagem do
Peanuts, varreu a net e eliminou
qualquer endereço do clipe.
Mas os sites de distribuição de
MP3s e arquivos em geral organizaram um troca-troca mundial do
clipe "Hey Ya, Charlie Brown".
O especialista de internet do
"New York Times" anteontem ria
da atitude da United Media, dizendo que a empresa estava cometendo o mesmo erro infantil da
indústria da música em relação
aos MP3s. "É difícil parar uma
coisa dessas, que na verdade só
está fazendo um bem tanto para a
turma do Charlie Brown quanto
para o próprio Outkast", disse o
jornalista Wilson Rothman.
"Hey Ya!" é sexo casual
A letra de "Hey Ya!" reproduz
uma situação logo após uma transa de Andre 3000. Seria a continuação de "She Lives in My Lap",
a música anterior no disco "Love
Below", do Outkast. Em "Lap",
Andre faz sexo com a tal "she" dele. O que vem em "Hey Ya!" é que
Andre ama a garota, transa com
ela, mas não quer comprometimento. Já que nada é para sempre, por que o amor seria?
Ele fala que ela acha que entendeu, mas não entendeu, não. Ele
não quer conhecer os pais dela.
Ele só quer transar com ela e fazê-la rebolar como uma polaróide.
Aí é que está o poder de "Hey
Ya!". Em um país careta que se escandaliza com o seio quase nu da
Janet Jackson, criancinhas, religiosos e políticos se matam de
chacoalhar quando toca a música
do Outkast, a grande apologia do
sexo livre dos últimos tempos.
Em plena campanha para as recentes prévias nos EUA, essa pré-candidatura à presidência americana, o general da reserva Wesley
Clark usou "Hey Ya!" como modelo em um discurso para jovens.
Questionado se tinha conhecimento do conteúdo da letra, ele
disse que não manjava de rap,
mas que a música o fazia balançar
como uma "polaroid picture".
@ - lucio@uol.com.br
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