São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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POPLOAD

"Hey Ya!" assola a música pop

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

É impressionante o poder que tem esta já antológica ópera hip hop, do rapper Andre Outkast. Não falo só do fato de o carrancudo pop erudito Lou Reed dizer que quando "Hey Ya!" toca o mundo fica melhor.
"Hey Ya!" parece não ter mais fim. A canção não só ainda não enjoou de tanta hiperexposição nestes cinco meses de veiculação como também começa a ter vida própria e não pertencer mais a Andre 3000, seu autor e uma das metades do Outkast. "Hey Ya" pertence ao mundo.

Outkast e Charlie Brown
Não é o que você está pensando. Este Charlie Brown não é o Jr. O que aconteceu aqui é uma das mais felizes reutilizações de uma música já vista. E o mais novo fenômeno da internet. Se você não foi atingido por ele, pode esperar. Você vai. No meio da semana passada começou a circular na rede virtual uma paródia da música do Outkast, batizada (a paródia) de "Hey Ya, Charlie Brown".
Obra de dois nerds de computador, é um clipe com a turma da tirinha Peanuts (Charlie Brown, o cão Snoopy...) dançando o sucesso do Outkast. É sensacional. Charlie Brown aparece com o "One-two-three-four" e então o erudito Schroeder manda ver no piano, Snoopy na guitarra e o grunge Pig Pen no contrabaixo. O resto da turma dança "Hey Ya!" em uma ótima sequência de animação, dessas de você não parar de sorrir. Sorrir, não rir. O vídeo não é engraçado: é encantador.
O zum-zum virtual levou a emissora americana ABC a mostrar o "Hey Ya, Charlie Brown" na TV. Esse foi o problema. Em dois dias a United Media, marca que detém os direitos de imagem do Peanuts, varreu a net e eliminou qualquer endereço do clipe.
Mas os sites de distribuição de MP3s e arquivos em geral organizaram um troca-troca mundial do clipe "Hey Ya, Charlie Brown".
O especialista de internet do "New York Times" anteontem ria da atitude da United Media, dizendo que a empresa estava cometendo o mesmo erro infantil da indústria da música em relação aos MP3s. "É difícil parar uma coisa dessas, que na verdade só está fazendo um bem tanto para a turma do Charlie Brown quanto para o próprio Outkast", disse o jornalista Wilson Rothman.

"Hey Ya!" é sexo casual
A letra de "Hey Ya!" reproduz uma situação logo após uma transa de Andre 3000. Seria a continuação de "She Lives in My Lap", a música anterior no disco "Love Below", do Outkast. Em "Lap", Andre faz sexo com a tal "she" dele. O que vem em "Hey Ya!" é que Andre ama a garota, transa com ela, mas não quer comprometimento. Já que nada é para sempre, por que o amor seria?
Ele fala que ela acha que entendeu, mas não entendeu, não. Ele não quer conhecer os pais dela. Ele só quer transar com ela e fazê-la rebolar como uma polaróide.
Aí é que está o poder de "Hey Ya!". Em um país careta que se escandaliza com o seio quase nu da Janet Jackson, criancinhas, religiosos e políticos se matam de chacoalhar quando toca a música do Outkast, a grande apologia do sexo livre dos últimos tempos.
Em plena campanha para as recentes prévias nos EUA, essa pré-candidatura à presidência americana, o general da reserva Wesley Clark usou "Hey Ya!" como modelo em um discurso para jovens. Questionado se tinha conhecimento do conteúdo da letra, ele disse que não manjava de rap, mas que a música o fazia balançar como uma "polaroid picture".

@ - lucio@uol.com.br


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