São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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"QUERO FICAR COM POLLY"

Stiller se reafirma como anti-herói americano

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Ben Stiller é um caso à parte no cinema americano. Ele conheceu ao menos um sucesso estrondoso e, desde então, vem emprestando sua figura a comédias escatológicas. Quase todas procuram repetir a experiência seminal de "Quem Vai Ficar com Mary?" (1998). São filmes formulários, mas que trazem um humor tão cara-de-pau e direto que acabam conquistando pela honestidade.
Stiller encarna um certo americano médio fadado ao fracasso. Não é propriamente um "loser", mas simplesmente o homem sem jeito, um James Stewart pouco sedutor e sem pingo de nobreza. Conquistador atrapalhado em "Mary", noivo desprezado em "Entrando numa Fria" ou um modelo patético em "Zoolander", Stiller construiu sua persona cinematográfica como o anti-herói americano do momento.
Em "Quero Ficar com Polly" ele faz Reuben, corretor de seguros todo certinho que, em plena lua-de-mel, flagra a esposa (Debra Messing, do seriado "Will & Grace") com o instrutor de mergulho (Hank Azaria). De volta a Nova York, Reuben atravessa uma série de situações humilhantes (sua mãe fez o favor de espalhar a notícia para o nada discreto chefe do filho) antes de começar a namorar Polly (Jennifer Aniston).
Stiller defende seu papel sem cair na auto-indulgência, cultivando um distanciamento raro e uma falta de vergonha de debochar de si próprio. Assim, evita qualquer possibilidade de sentimentalismo. Mas ele também não é apenas cínico. Há uma crítica real em seu trabalho.
A lenta superação do trauma de seu personagem vai ser concreta, prática e despsicologizada. Rueben precisará ultrapassar obstáculos físicos para ficar com uma mulher que é o oposto dele, livre e chegada a uma alimentação exótica (belo pretexto para piadas nos banheiros). Golpes de faca em travesseiros de pena farão parte de sua terapia não convencional.
"Quero Ficar com Polly", evidentemente, não prima pela originalidade. Tampouco vai tão longe no humor quanto o absurdo "Quem Vai Ficar com Mary?". Mas tem outros elementos que garantem o interesse, além da presença de Stiller. Como a escalação da própria Jennifer Aniston, a estrela do seriado "Friends", como a avoada Polly, ou a de Phillip Seymour Hoffman, ator geralmente associado ao "cinema de qualidade", como o amigo porcalhão Sandy. Hoffman é também responsável por algumas boas piadas críticas do filme, para além da escatologia: seu personagem é um ator que fez sucesso na infância e agora dedica-se a uma montagem comunitária de "Jesus Cristo Superstar". Na lista eclética de alvos de "Quero Ficar com Polly", sobram pedras até para os musicais da Broadway.


Quero Ficar com Polly
Along Came Polly
  
Produção: EUA, 2004
Direção: John Hamburg
Com: Ben Stiller, Jennifer Aniston
Quando: a partir de hoje, nos cines Eldorado, Iguatemi e circuito



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