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"QUERO FICAR COM POLLY"
Stiller se reafirma como anti-herói americano
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Ben Stiller é um caso à parte
no cinema americano. Ele conheceu ao menos um sucesso estrondoso e, desde então, vem emprestando sua figura a comédias
escatológicas. Quase todas procuram repetir a experiência seminal
de "Quem Vai Ficar com Mary?"
(1998). São filmes formulários,
mas que trazem um humor tão
cara-de-pau e direto que acabam
conquistando pela honestidade.
Stiller encarna um certo americano médio fadado ao fracasso.
Não é propriamente um "loser",
mas simplesmente o homem sem
jeito, um James Stewart pouco sedutor e sem pingo de nobreza.
Conquistador atrapalhado em
"Mary", noivo desprezado em
"Entrando numa Fria" ou um
modelo patético em "Zoolander",
Stiller construiu sua persona cinematográfica como o anti-herói
americano do momento.
Em "Quero Ficar com Polly" ele
faz Reuben, corretor de seguros
todo certinho que, em plena lua-de-mel, flagra a esposa (Debra
Messing, do seriado "Will & Grace") com o instrutor de mergulho
(Hank Azaria). De volta a Nova
York, Reuben atravessa uma série
de situações humilhantes (sua
mãe fez o favor de espalhar a notícia para o nada discreto chefe do
filho) antes de começar a namorar Polly (Jennifer Aniston).
Stiller defende seu papel sem
cair na auto-indulgência, cultivando um distanciamento raro e
uma falta de vergonha de debochar de si próprio. Assim, evita
qualquer possibilidade de sentimentalismo. Mas ele também não
é apenas cínico. Há uma crítica
real em seu trabalho.
A lenta superação do trauma de
seu personagem vai ser concreta,
prática e despsicologizada. Rueben precisará ultrapassar obstáculos físicos para ficar com uma
mulher que é o oposto dele, livre e
chegada a uma alimentação exótica (belo pretexto para piadas nos
banheiros). Golpes de faca em travesseiros de pena farão parte de
sua terapia não convencional.
"Quero Ficar com Polly", evidentemente, não prima pela originalidade. Tampouco vai tão
longe no humor quanto o absurdo "Quem Vai Ficar com Mary?".
Mas tem outros elementos que
garantem o interesse, além da
presença de Stiller. Como a escalação da própria Jennifer Aniston,
a estrela do seriado "Friends", como a avoada Polly, ou a de Phillip
Seymour Hoffman, ator geralmente associado ao "cinema de
qualidade", como o amigo porcalhão Sandy. Hoffman é também
responsável por algumas boas
piadas críticas do filme, para além
da escatologia: seu personagem é
um ator que fez sucesso na infância e agora dedica-se a uma montagem comunitária de "Jesus
Cristo Superstar". Na lista eclética
de alvos de "Quero Ficar com
Polly", sobram pedras até para os
musicais da Broadway.
Quero Ficar com Polly
Along Came Polly
Produção: EUA, 2004
Direção: John Hamburg
Com: Ben Stiller, Jennifer Aniston
Quando: a partir de hoje, nos cines
Eldorado, Iguatemi e circuito
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