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Espanha quer se tornar referência em arte latina
Sem bienal expressiva, e com maior feira de arte em queda, país aposta nos museus para se reerguer no circuito global
Reina Sofía compra obras e tem como meta declarada realizar ao menos uma exposição a cada ano com nomes latino-americanos
DO ENVIADO A MADRI
Uma lâmpada solitária que
pende do teto, instalação de Felipe Cohen na Arco, ou as tranças de papel japonês que Mira
Schendel faz quase desaparecer no espaço contrastam com
o peso que artistas latino-americanos têm conquistado na
agenda de exposições de alguns
dos maiores museus espanhóis
e portugueses.
Parte da explicação do fenômeno está na linguagem discreta, das utopias modernistas e
seus desdobramentos concretos. Enquanto curadores redescobrem esses movimentos,
também dão margem a crescente fetichização em torno
desses artistas. Sem uma bienal
expressiva e em plena decadência de sua maior feira de arte, a
Espanha aposta nos museus
para se reerguer no circuito
com nomes que viraram moda.
"Estamos loucos pela América Latina", diz Consuelo Ciscar,
diretora do Instituto Valenciano de Arte Moderna.
No coração do país, o Reina
Sofía tem como meta declarada
realizar pelo menos uma grande exposição por ano com latino-americanos. "Queremos ser
o museu referência para isso na
Europa", afirma Maria José Salazar, diretora de patrimônio
do museu, à Folha. "Estamos
levantando um fundo para isso,
comprando muitas obras."
Do outro lado da fronteira,
Ricardo Nicolau, do Museu de
Serralves, no Porto, diz que está de olho em artistas emergentes do Brasil, não só nos consagrados. "Há uma revisão em
curso e certo fetiche em torno
dos anos 60 e 70. Temos modernistas desalinhados, que
não correspondem ao que deveria ser o moderno."
Nesse ponto, museus ibéricos aproveitam a brecha das
frágeis relações entre instituições latino-americanas para
incrementar suas coleções e redesenhar parte da história. "Já
houve esse interesse no passado, mas agora a dinâmica é outra, com uma vontade de releitura", resume Mauro Herlitzka, diretor do Museu de Arte
Latino-Americana de Buenos
Aires. "A Espanha quer se tornar o país-chave para o reposicionamento da arte na região."
Mas isso não quer dizer que
vai conseguir. Mesmo com a
euforia, há quem veja uma tentativa desesperada de se reequilibrar na geopolítica aguerrida das artes visuais. "São Paulo tem mais chance do que a
Espanha de virar esse centro",
diz Rodrigo Moura, curador do
Instituto Inhotim. "É natural
querer esse papel, mas eles não
estão agora em condições de
ser o centro de nada, não é assim tão fácil."
(SILAS MARTÍ)
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