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CINEMA ESTRÉIA
Nolte parte para o incesto em "Reviravolta'
ELAINE GUERINI
enviada especial a Los Angeles
Nick Nolte, 57, nunca escondeu
sua preferência por personagens
autodestrutivos, alcoólatras e desajustados. "Gosto de fazer papéis
que me incomodam", afirma o
ator norte-americano, que volta às
telas na pele de um poderoso dono
de terras que obriga a filha a assumir -inclusive na cama- o lugar
da mãe morta.
Em "Reviravolta" ("U-Turn"),
thriller dirigido por Oliver Stone
que estréia hoje, Nolte interpreta o
que ele chama de um "clássico herói americano". "Ele tem todo o
dinheiro, toda a terra e todas as
mulheres", diz o ator à Folha durante entrevista concedida no hotel Four Seasons de Beverly Hills,
em Los Angeles.
Vestindo um pijama branco com
listras azuis e um roupão azul-marinho por cima, Nolte conta ter
adorado a estranheza de Jack
McKenna, seu novo personagem.
"Ele nos força a reconhecer que
somos todos animais, mesmo que
nossa mente não aceite isso. Nós
simplesmente temos medo de admitir os desejos mais íntimos e secretos."
Todos os pais, na visão do ator,
têm tendências incestuosas. "Ao
aceitar o papel, passei a observar o
comportamento dos pais com relação às filhas procurando algo
suspeito. Percebi que há um certo
erotismo nesse amor, mas, como
isso é proibido, o sentimento é
bloqueado", conta o ator, que é
pai de um garoto de 11 anos. "Infelizmente, perdi duas filhas."
No filme, baseado no livro
"Stray Dogs", do escritor John Ridley, Nolte vive essa complicada
relação com a atriz de ascendência
porto-riquenha Jennifer Lopez.
No início da trama, que se passa
na pacata cidadezinha de Superior, no deserto do Arizona, eles
são apresentados ao espectador
como marido e mulher.
No decorrer da história, quando
a jovem conhece o forasteiro
Bobby Cooper (Sean Penn) e o seduz na esperança de ir embora
com ele, é que o trauma do incesto
vem à tona.
O que mais pesou na decisão de
Nolte em encarnar o novo personagem foi justamente a possibilidade de explorar esse tabu pela
primeira vez em sua carreira.
"Já vivi muitos homens corruptos, assassinos psicóticos, maníacos-depressivos e quase todo tipo
de papel que expõe as hipocrisias
da sociedade. Mas nenhum deles
dormia com a filha pensando na
mulher morta."
Lista negra
Essa galeria de sujeitos desajustados que o ator criou nas telas o
diverte. "Mas, quando estou filmando, sempre ouço uma voz interna, o meu lado careta, perguntando: "O que a sua mãe vai pensar?"', brinca o ator, que já figurou
na lista negra de Hollywood -em
parte pelo uso de álcool e drogas
que o levou a passar anos frequentando clínicas de desintoxicação.
A ganância de Jack McKenna retrata, na opinião do ator, a necessidade que o norte-americano tem
de se sentir superior. "Nos EUA,
ter a esperança de se tornar alguém na vida significa estar pronto para competir e vencer os outros custe o que custar."
Nolte acredita que o poder e o
dinheiro podem fazer com que a
pessoa perca a noção do que é
realmente importante na vida.
"Conheço um médico milionário
que estoca papel higiênico. O número de rolos que ele possui é infinitamente superior ao que conseguirá gastar em toda a vida."
É esse desejo de acumular coisas
que acaba liquidando seu personagem no filme. "Ele tem tudo,
mas é como se não tivesse nada.
No fundo, tudo o que Jack quer é
alguém que o mate, já que ele não
tem coragem de fazê-lo."
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