|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
`Ventania' é banho de sangue, diz Villela
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
``Um banho de sangue.'' Assim o
diretor mineiro Gabriel Villela definiu a peça ``Ventania'', um musical escrito por Alcides Nogueira
que tem sexo, drogas e rock'n'roll
como seu trinômio de sustentação
e que chega hoje a São Paulo.
Além das alegorias e metáforas
barrocas de Villela e do texto
``cortante e rasgado'', como definiu Nogueira, a peça tem um terceiro elemento fundamental: a homenagem ao dramaturgo José Vicente de Paula, 51, um dos mais
importantes dos anos 70, autor de
``O Assalto'' e ``Hoje é Dia de
Rock''.
``Sempre tive uma paixão pelo
Zé Vicente. Acho um absurdo ele
ter sido colocado à margem. Minha dramaturgia é pontuada por
referências, e a referência brasileira mais próxima é o Zé Vicente'',
diz Nogueira.
Segundo ele, ``Ventania'' não é
biográfica. ``A peça pega o universo de Zé Vicente, que propicia uma
releitura bem legal. O que interessa
para mim é estabelecer um canal e
dizer o que os sonhos dos anos 70
significam nos anos 90'', afirma o
autor.
A história de uma família -a
mãe-morta, que renasce para contar sua trajetória e de seus três filhos-, norteada pela divindade
que traz a ventania, é o fio condutor do espetáculo.
A mãe (Malu Valle) representa
os valores dos anos 70, o filho Zé
(Davi Taiu) é chamado ``filho do
sol'', Vicente (Eriberto Leão) é o
``filho da noite'' e Sílvia Buarque
interpreta Luiza, uma garota cega
que é ``a filha do crepúsculo''.
``A peça é cindida entre os aspectos lunar e solar, coisas telúricas e
forças demoníacas. Dessa grande
cisão surge o desafio de como juntar noite e dia, numa coisa muito
bonita que talvez seja até o crepúsculo'', diz Alcides Nogueira.
``Queria que acontecesse com
`Ventania' o que aconteceu com
`Um Dia de Rock'. É quase uma celebração. A peça fala da dor, mas,
mais que isso, da necessidade, da
possibilidade e da vontade de recuperação do prazer'', diz o autor.
Barroco
Para Alcides Nogueira, ``Ventania'' é o espetáculo menos barroco
de Gabriel Villela.
``Gabriel é um parâmetro de
qualidade estética. O teatro dele
provoca a reação de ame-o ou deixe-o. Eu gosto disso, gosto de coisas radicais. Meu texto é o anti-Gabriel Villela e, quando conseguimos juntar as duas coisas, foi muito bonito. Acho que `Ventania' até
muda a estética do Gabriel. É sua
peça menos barroca.''
Para o diretor, o encontro de
suas características com o texto de
Nogueira exigiu uma adaptação.
``A metáfora e a alegoria são as
molas mestras com as quais eu
consigo trabalhar. Como sei que os
autores dos anos 70 recorreram a
essas figuras por causa da censura,
achei conveniente adotar o princípio como concepção do espetáculo. Alcides não usa isso com frequência, mas ele tem um conhecimento de causa muito grande. A
gente foi se adaptando'', afirma
Gabriel Villela.
Reação alérgica
No Rio de Janeiro, onde estreou,
a peça de Nogueira e Villela provocou, algumas vezes, ``reações alérgicas'' nos espectadores, segundo
autor e diretor.
``É uma peça sanguinolenta. É
sangrar o bode. Talvez, mais do
que rituais do catolicismo, esse seja um procedimento do candomblé'', diz Villela.
Alguns dos elementos que podem ter provocado tal reação, segundo eles, são as cenas de sexo,
logo no início da peça, e o uso de
sangue.
``O sexo acontece no proscênio,
com a luz muito forte. Um casal,
no Rio, saiu na hora, considerando a cena um sacrilégio'', afirma o
diretor.
Peça: ``Ventania''
Direção: Gabriel Villela
Autor: Alcides Nogueira
Com: Sílvia Buarque, Eriberto Leão, Davi
Taiu, Malu Valle
Quando: de hoje a 20 de abril, sextas e
sábados, às 22h, e domingos, às 19h
Onde: Tom Brasil (r. das Olimpíadas, 66,
Vila Olímpia, tel. 011/820-2326)
Quanto: de R$ 15 a R$ 40
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|