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`Senhorita Else' dessacraliza o privado
DANIELA ROCHA
enviada especial a Curitiba
``Senhorita
Else'', texto de
Arthur
Schmitzler escrito no começo do século,
será levado ao
palco com parafernália tecnológica pela Cia.
Razões Inversas, do diretor Márcio Aurélio.
Desta vez, TV e vídeo vão mostrar os sentimentos e pensamentos de Else, uma menina de 19
anos. No cenário, 12 torres cercarão o palco.
É na boca de cena que tudo
acontece em ``Senhorita Else''.
Enquanto a ação se desenrola à
frente, no fundo estarão as vozes
e imagens do que as personagens
estão sentindo ou intencionando. ``É um trabalho em cima de
estereótipos. Confronto o que
está sendo visto com a situação
que revela a condição psicológica de quem fala'', disse o diretor.
Mas, segundo ele, a música, sugerida pelo próprio autor, também é reveladora. ``Ela é uma
forma sofisticada de representar
as nuances da personagem.''
Schmitzler reproduzia partituras com trechos de música em
seu texto para mostrar o ritmo
dos personagens. Em uma das
cenas, o autor cita uma sonata de
Beethoven. ``Ouvi com cuidado
todas as sonatas, mas percebi
que ele se referia à `Sonata ao
Luar', que é o estereótipo das sonatas românticas para a representação de uma mocinha.''
``Senhorita Else'' traz a história
de uma menina que está passando férias com a tia rica e um primo médico. Ela (Else) recebe
uma carta de sua mãe sugerindo
que conseguisse dinheiro junto a
um barão rico hospedado no
mesmo hotel para salvar a família da falência.
Else teria de fazer tudo escondido da tia, em um prazo de dois
dias. Ela pede o favor ao barão,
mas ele diz que só daria o dinheiro se a visse nua por 15 minutos.
``Schmitzler trata da revelação
pública de algo privado. É uma
situação ingênua que caracteriza
a grande liquidação que vivemos
hoje. Else tem que entrar nesse
jogo'', disse Márcio Aurélio.
Segundo o diretor, Else, no
fundo, era uma menina que esperava um príncipe. Este era o
seu ideário mítico, que não corresponde à sua realidade.
A tia é interpretada por um homem, caracterizando o feminino
que é masculinizado pelo poder.
``Não vemos a realidade, mas o
que ela provoca. Tornamos a
realidade reveladora'', afirmou
Márcio Aurélio.
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