|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Caráter cinematográfico das letras do compositor faz a diferença
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é todo dia que sai um
disco assim. Sob olhar desatento, "Aboiando a Vaca Mecânica" poderia passar por cópia de
Lenine, pois se vale dos mesmos
recursos "afrociberdélicos" pré e
pós-mangue beat que consolidaram a carreira de seu parceiro.
Mas fica evidente que não há cópia: são parceiros, contemporâneos, devem ter passado os anos à
sombra dialogando sobre música;
várias das mais cortantes canções
de Lenine têm vindo de Lula.
Para lá do já habitual regionalismo eletronizado (aqui às vezes
fundado excessivamente em securas sintéticas de pandeiro), sua
estréia solo evidencia dois valores
raríssimos na atual cena nacional:
Lula prima pelo texto em poemas
sempre formosos e pela criação
de imagens, historietas, pequenas
ficções de rico imaginário.
Nisso salta aos ouvidos "Cano
na Cabeça", um rap que retrata o
primeiro assalto de um moleque.
Quase tão cinematográfica é
"Roupa no Varal", uma cena de
sexo da perspectiva das roupas do
casal ("as nossas roupas vão sair
pra jantar/ nos levar para dançar/
e depois ficar a sós/ suadas no tapete, esquecidas de nós").
A poesia venta em melodias e
arranjos aprumados como os de
"Rio-Que-Vem" e da árida "Noite
Severina" ("daqui a pouco/ o dia
vai querer raiar", sopram ele e Pedro Luís, qual novos e mecânicos
Geraldo Azevedo e Ednardo).
Para arrematar, vem "Rosebud
(O Verbo e a Verba)", que entrega
o jogo todo: "O verbo tentou se
matar em silêncio/ e quando a
verba chegou/ era tarde demais, o
cadáver jazia/ a verba caiu aos
seus pés a chorar/ lágrimas de hipocrisia". Esse é o assunto.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Aboiando a Vaca Mecânica
Artista: Lula Queiroga
Lançamento: Luni (0/xx/81/ 3269-1325
ou 3441-1241, luni@elogica.com.br)
Quanto: R$ 25, em média
Texto Anterior: Música/Lançamentos: Antes e depois do mangue Próximo Texto: Outros lançamentos Índice
|