São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2001

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CRÍTICA

Caráter cinematográfico das letras do compositor faz a diferença

DA REPORTAGEM LOCAL

Não é todo dia que sai um disco assim. Sob olhar desatento, "Aboiando a Vaca Mecânica" poderia passar por cópia de Lenine, pois se vale dos mesmos recursos "afrociberdélicos" pré e pós-mangue beat que consolidaram a carreira de seu parceiro.
Mas fica evidente que não há cópia: são parceiros, contemporâneos, devem ter passado os anos à sombra dialogando sobre música; várias das mais cortantes canções de Lenine têm vindo de Lula.
Para lá do já habitual regionalismo eletronizado (aqui às vezes fundado excessivamente em securas sintéticas de pandeiro), sua estréia solo evidencia dois valores raríssimos na atual cena nacional: Lula prima pelo texto em poemas sempre formosos e pela criação de imagens, historietas, pequenas ficções de rico imaginário.
Nisso salta aos ouvidos "Cano na Cabeça", um rap que retrata o primeiro assalto de um moleque. Quase tão cinematográfica é "Roupa no Varal", uma cena de sexo da perspectiva das roupas do casal ("as nossas roupas vão sair pra jantar/ nos levar para dançar/ e depois ficar a sós/ suadas no tapete, esquecidas de nós").
A poesia venta em melodias e arranjos aprumados como os de "Rio-Que-Vem" e da árida "Noite Severina" ("daqui a pouco/ o dia vai querer raiar", sopram ele e Pedro Luís, qual novos e mecânicos Geraldo Azevedo e Ednardo).
Para arrematar, vem "Rosebud (O Verbo e a Verba)", que entrega o jogo todo: "O verbo tentou se matar em silêncio/ e quando a verba chegou/ era tarde demais, o cadáver jazia/ a verba caiu aos seus pés a chorar/ lágrimas de hipocrisia". Esse é o assunto.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Aboiando a Vaca Mecânica
    
Artista: Lula Queiroga
Lançamento: Luni (0/xx/81/ 3269-1325 ou 3441-1241, luni@elogica.com.br)
Quanto: R$ 25, em média




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