São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA ELETRÔNICA

Tecno


Um dos inventores do trance, o alemão Sven Vath toca em São Paulo amanhã, em apresentação de lançamento de "Fire", seu novo "disco de artista" feito para clubes


CAMILO ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O alemão Sven Vath é um daqueles DJs que quase atingiram status de mito. Ele chegou primeiro em muitos aspectos da música eletrônica. Começou a tocar discos em 1981, antes do tecno e do house. Dois anos antes, tinha ido à Ibiza pela primeira vez. Em meados da mesma década, começou a lançar produções próprias, coisa que poucos DJs europeus faziam então.
No começo dos anos 90, ele foi um dos arquitetos do trance, estilo mais melódico e hipnótico que viria a se tornar a vertente eletrônica mais popular do planeta uns dez anos depois.
Ele tem uma paixão incontrolável por tocar, chegando a extremos como discotecar por 20 horas seguidas. É baladeiro profissional.
Ele toca em São Paulo amanhã, como parte da turnê de lançamento do seu quinto disco de artista, "Fire". Concebendo o álbum como um disco para clubes, Vath mandou ver grooves house e tecno cheios de detalhes bizarros e sons incomuns, que elevam as faixas para acima da produção eletrônica média. De bônus, uma curiosa versão electro-lounge para "Je t'Aime moi Non Plus", o clássico ofegante de Serge Gainsbourg e Jane Birkin, no qual Vath chama a vocalista francesa Miss Kitten para contracenar com ele.
Sven Vath é um dos personagens mais importantes e influentes da eletrônica nos últimos dez anos. Ele conversou com a Folha por telefone, de Buenos Aires.

Folha - Você é conhecido por tocar sets de até 20 horas. Como consegue?
Sven Vath -
Sou louco (risos). Gosto de abrir a noite e ir até o fim. Assim posso mostrar todo o espectro da minha música. Não é só tecno, é house, tech-house, um pouco de dub, de electro, sons tribais. Mas, nesta turnê, tenho 55 datas em 20 países durante quatro meses, então não posso tocar muito toda noite.

Folha - Você já fez de tudo musicalmente. O que preparou desta vez com este álbum?
Vath -
Bem, "Fire" ("Fogo") representa a paixão que eu ainda tenho pela cultura dos clubes. Este álbum é 100% música para pistas, que é o que venho tocando como DJ. A única exceção é "Je t'Aime". É a primeira vez que faço uma cover. Já o novo single se chama "Mind Games" e está na parada oficial alemã.

Folha - O que pensa dessa onda com forte influência dos anos 80 que está na música eletrônica?
Vath -
É muito bem-vinda. Como DJ é legal ter sons e grooves diferentes para tocar. Mas estava nos anos 80, e muita música com essa influência é lixo. O selo International Gigolo Deejays está lançando coisas boas, como David Carretta, The Hacker [que gravou com Miss Kitten" e Vittalic.

Folha - Com seus selos Eye Q/Harthouse, você ajudou a inventar o trance. O que pensa sobre o trance de hoje?
Vath -
Em 94 eu abandonei esse tipo de som porque ele não estava mais se desenvolvendo, tudo já tinha sido dito. Hoje continua soando a mesma coisa. O trance hoje é nada mais que música pop moderna. É muito leve, fácil de digerir, acho que é por isso que faz sucesso na Inglaterra e nos EUA. Talvez para jovens seja uma boa introdução à música eletrônica.

Folha - No seu site há um texto seu sobre sua atitude com relação às drogas. Porque você quis colocar esse texto lá?
Vath -
Porque tenho visto artigos ruins sobre cultura jovem, drogas e música. As pessoas escrevem clichês demais: rock'n'roll é heroína e álcool, hip hop é crack e maconha e tecno é ecstasy e anfetaminas. Estou aí há muito tempo e vejo o que acontece na cena. Só queria expressar minha opinião. Já vi tantas vezes nos clubes pessoas que tomaram coisas demais e não conseguem segurar a onda. Não deveria ser assim, nossa música tem energia e força. Não precisa acrescentar nada a ela.

Folha - No seu texto você disse que teve de passar por uma síndrome de abstinência de cocaína.
Vath -
Usei cocaína por algum tempo quando era jovem. Mas no dia em que minha filha nasceu, em 8 de setembro de 1989, parei. Estava no hospital vendo tudo e senti que estava fazendo algo muito errado. Resolvi que precisava mudar algo na minha vida. Hoje gosto de tomar uma bebida, adoro uma festa, mas consigo manter um equilíbrio. Sei que não quero ir longe demais porque não preciso e não vale a pena.


SVEN VATH - FIRE WORLD TOUR - Quando: Amanhã, a partir das 23h. Onde: Level (av. Marquês de São Vicente, 319, Barra Funda, tel. 0/xx/11/3612-4151). Quanto: R$ 20 (antecipado no Smartbiz Café - r. Augusta, 2.690, loja 117) e R$ 30 (na porta).



Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Noise é o 3º brasileiro no Homelands
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.