PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

Ultimamente mais baseada no Rio, onde "se sente autora, como há muito tempo não se sentia", do que em São Paulo, a dramaturga Consuelo de Castro, 57, leva a partir de amanhã à capital carioca o seu texto "Only You", "história que mais gostou de ter contado". A direção é de Bibi Ferreira, 82.
No elenco da montagem, estão Adriana Esteves e Gracindo Junior. A peça, sobre o encontro afetivo de duas gerações, foi exibida pela primeira vez em São Paulo, em 2001. Teve encenação de José Renato, um dos fundadores do Arena, e foi interpretada pelo atual secretário municipal da Cultura paulistano, o ator Celso Frateschi, e pela atriz Rose Abdallah. A produção foi então realizada pela própria autora.
"Na primeira vez, tive tantos problemas... Não fui feliz. Foi um trabalho muito sofrido, eu era inexperiente como produtora. Desta vez, além da conjuntura artística, consegui uma firma que fez a produção, realizei apenas a supervisão dela, então não tive que resolver o cotidiano, o burocrático. E sempre quis ser dirigida pela Bibi, mas as agendas não batiam", diz a criadora de "À Flor da Pele" e "Prova de Fogo".
Para ela, "produzir no Rio é muito mais agradável, tranquilo, profissional, por incrível que pareça. Parece que estou falando algo contra o vento, mas sempre fui assim. Em São Paulo, claro que há exceções, parece-me muito mercantil". Castro prepara um projeto de montagem de outra obra sua, com Marília Pêra e direção de José Possi Neto.
Em "Only You", que Consuelo de Castro define como "uma história de amor que junta duas gerações, apesar do abismo que a política criou entre elas", o esgotado autor de novelas André Fontoura, em crise criativa, próximo dos 50 anos, isolado numa casa de praia, recebe a visita inopinada da jovem atriz Julia. A presença da moça, que muito sabe sobre ele, reata filamentos da memória: o seu amor por Veridiana, desaparecida durante o regime militar, o solapamento de ambições e a troca do teatro pela televisão.
"Acho que esta é a hora de montar a peça. Aconteceu a virada esperada, o texto fala de um passado e de um momento de ressurreição", afirma a dramaturga.
Chama mais a atenção de Bibi Ferreira na obra "a sua carpintaria". "A história de amor é interessante, pois não é simples "água-com-açúcar", mas uma história de um amor verdadeiro entre duas pessoas de idades diferentes, opiniões diferentes e raciocínios diferentes. Essa é a graça."
O cenário, "hollywoodiano" segundo a autora, foi criado por Alexandre Murucci. Lulu Areal assina os figurinos. Rogério Wiltgen realizou a iluminação, Flávio Mendes fez a trilha sonora.