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Busca frenética
O premiado cineasta Michael Winterbottom fala sobre sua procura constante por histórias insólitas
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Diego Izquierdo/Reuters
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O diretor inglês Michael Winterbottom, durante sua palestra no festival de Mar del Plata, na Argentina, na última quinta-feira |
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A MAR DEL PLATA
Raros são os cineastas atuais
que concluem um filme por ano.
O inglês Michael Winterbottom
parece ter a fórmula para driblar o
calendário. Ele lançou 12 longas
nos últimos dez anos.
Winterbottom, no entanto, desdenha de sua proficuidade. "Hoje
em dia, não há desculpa para não
fazer um filme. Mesmo se você for
amador, há um cinema ao seu alcance. Com uma pequena equipe
e uma ilha de edição, faço um filme", afirma.
O diretor diz que aprendeu rápido a abrir mão "de projetos
condenados a não se realizar" e
assim escapou da sina de cineastas que "passam dez anos não fazendo um filme e tentando convencer investidores a lhes dar dinheiro suficiente".
Nos orçamentos volumosos, o
cineasta vê um passo para o conservadorismo. "Um negócio em
que, antes de começar a trabalhar,
você tem de caçar um investidor
para te dar 10 milhões de libras
(R$ 37 milhões) não pode ser
bom. Isso é muito dinheiro, e as
pessoas são conservadoras. É por
isso que os filmes tendem a ser
muito mais conservadores do que
a música ou a literatura."
O cinema de Winterbottom, se
não é radical na forma, é ousado
na tentativa de se redefinir a cada
filme. Seu mais recente longa,
"The Road to Guantanamo" (a estrada para guantánamo, 2006),
que levou o prêmio de direção no
Festival de Berlim, no mês passado, revê a prisão de três jovens
britânicos em Guantánamo.
Nada mais diferente do que "A
Cock and Bull Story" (uma história inverossímil,
2005), exibido no
Festival de Mar del
Plata.
Nessa comédia,
Winterbottom faz
uma releitura de
"A Vida e as Opiniões do Cavaleiro
Tristan Shandy",
de Laurence Sterne (1713-1768), intercalando a narrativa de época
com os bastidores
de sua própria filmagem.
Conflitos de
egos dos atores,
dilemas da produção e do diretor,
romances clandestinos da equipe
misturam-se à vida de Tristan
Shandy, numa eficiente receita.
A seguir, o diretor conta à Folha
por que recusou
um filme sobre o
assassinato do
brasileiro Jean
Charles de Menezes em Londres e
dá sinal verde às pretensões do
Festival do Rio de tê-lo entre os
convidados deste ano.
Folha - O sr. pensou no caso do
brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela Scotland Yard, como tema de um filme?
Michael Winterbottom - Serão
feitos dois filmes sobre esse caso
para a TV britânica. Fui convidado a dirigir um deles, por uma
pessoa que trabalha com a BBC. A
questão para mim é que, quando
penso num novo filme, quero fazer algo diferente, e não algo semelhante ao que já fiz.
Quando recebi esse convite, eu
havia acabado de concluir "The
Road to Guantanamo", um filme
sobre fatos reais. Além do mais,
filmar a partir de fatos reais é problemático para mim. Gosto de
improvisar e acrescentar coisas ao
roteiro durante as filmagens.
Em "The Road to Guantanamo", ocorreram coisas interessantes durante as filmagens que
não puderam ser incluídas no filme. Foi estranho para mim esse
processo de ficar restrito ao que
aconteceu. Então eu disse não [ao
filme sobre Menezes].
Folha - O sr. parece estar buscando uma forma de mesclar ficção e
documentário em seus filmes. O
que é, na sua opinião, a criatividade no documentário?
Winterbottom - No caso de "A
Cock and Bull History", não há a
mistura de documentário e ficção,
porque tudo nele é ficcional.
Ocorre que é mais fácil acrescentar coisas da vida real.
Nós começamos com um roteiro que era uma adaptação do livro
"A Vida e as Opiniões do Cavaleiro Tristan Shandy". E eu pensei
que deveríamos ter no filme o seu
próprio processo de filmagem.
A principal razão para isso foi
que era mais fácil ter Steve Coogan interpretando Steve Coogan e
Rob Brydon interpretando Rob
Brydon do que inventar personagens fictícios. Era mais fácil filmar
a própria equipe e as situações
reais dos problemas de filmagem
do que inventá-los.
Um das minhas motivações para fazer "Neste Mundo" e "The
Road to Guantanamo" era o fato
de que eu lidaria com problemas
reais que as pessoas enfrentavam.
Mas, no caso de "A Festa Nunca
Termina" e "A Cook and Bull
Story", as cenas baseadas no que
ocorre com as pessoas estão no
filme só porque formam uma boa
história, divertida e interessante.
Folha - O sr. pretende filmar na
Itália seu próximo longa. O fato de
trabalhar em tantos lugares é um
reflexo da globalização na indústria do cinema?
Winterbottom -
Acho que o mundo está menos baseado em nacionalismos. Obviamente há histórias
que lhe interessam, sem ter relação com o lugar
onde você nasceu.
Na minha equipe,
há gente de muitos lugares. E eu
viajo muito pelo
mundo e há muitas coisas que me
interessam filmar
que não estão necessariamente
acontecendo na
Inglaterra.
Folha - Se tivesse
que escolher um
único filme na história do cinema
para ser seu, qual
seria?
Winterbottom -
Um só filme... Isso
é tão difícil. Na Inglaterra, há essa
mania de fazer listas. Tem lista para
tudo. Odeio listas.
Folha - Então o
sr. odeia Nick Hornby [autor britânico de "Alta Fidelidade", em que o
protagonista constrói listas de favoritos, adaptado para o cinema]?
Winterbottom - Odeio Nick
Hornby. Não, quer dizer, gosto de
Nick Hornby, mas definitivamente ele impulsionou essa coisa terrível das listas. Mas não sei...
"Acossado" [de Jean-Luc Godard,
1959] é um grande filme. Meu filme seria esse.
Folha - O sr. transformou sua
master class num bate-papo com o
público. Sente-se desconfortável
ao ter de desempenhar o papel de
mestre?
Winterbottom - Sempre odiei
ouvir palestras. Nunca darei uma.
Palestras são como ditados.
Folha - É a primeira vez que o sr.
vem à América do Sul. Deve voltar
para o Festival do Rio?
Winterbottom - Adoraria. É ótimo participar de festivais. O problema é sempre a agenda, mas eu
adoraria ir ao Festival do Rio.
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