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Foco
Freqüentadoras de bailes da terceira idade aprovam longa, com alguns poréns
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Elas se olham e não contêm
o riso logo no início do filme
"Chega de Saudade", quando
uma personagem sentencia:
"Homem de salão não presta".
Sabem exatamente o significado da frase. Há anos são freqüentadoras assíduas de bailes
da terceira idade, como o retratado no longa de Laís Bodanzky que estréia amanhã.
Chegam a arrastar os pés sete noites por semana, mas anteontem, a convite da Folha,
trocaram o salão pela pré-estréia do filme, no Espaço Unibanco, em São Paulo.
Professora de matemática
aposentada, Regina Previtelli,
58 anos, 20 de separação e 12
de bailes, foi procurada pela
reportagem e convocou sua
turma. Trouxe quatro amigas,
todas com cabelos pintados de
loiro, duas separadas, duas
viúvas, apenas uma casada. Só
damas, nenhum cavalheiro?
Elas explicam: como em
"Chega de Saudade", boa parte
dos freqüentadores de bailes é
casada. Melhor não dar as caras com as amigas no jornal.
Então é por isso que homem
de salão não presta? "Não só.
Também é comum a gente se
encantar pelo olhar, o toque.
No clima de glamour no baile,
o sapo vira príncipe. Sai de lá, e
o cara não tem muita coisa na
cabeça", conta uma delas, que
pede para não ser identificada
para não magoar os paqueras.
Viúva há 19 anos, a dona-de-casa Marlene Dias, idade não
revelada, dança quase todo dia
desde 1995 e sabe que, "apesar
de flutuar no salão, é preciso
manter os pés no chão".
Já arrumou namorados nos
bailes, dois deles 18 anos mais
jovens. "Mas vem uma ciumeira porque eles trabalham, não
podem dançar toda noite, e eu
vou mesmo assim. Se tenho
que escolher, fico com o baile",
diz ela, que há quatro anos tem
a companhia da filha, a fonoaudióloga Marlise, 42.
"Achava que os bailes eram
só para a minha mãe. Mas me
separei e comecei a ir. Cada
vez tem mais jovem, e até minha filha de 19 anos adora."
Única casada do grupo, Neusa Vasconcelos, 67, dona-de-casa, enfrenta o ciúme do marido para dançar. "Ele não gosta, então vou com as amigas."
Mais que especializadas no
assunto, elas aprovaram a
obra de Bodanzky, com alguns
poréns. "Nossos bailes são
mais bonitos", diz Miriam Seneor, 62, vestido de oncinha,
salto alto com plataforma, viúva há dez anos, bailes há nove.
"E nunca vi cena "caliente" como aquela [no filme, um casal
se masturba num canto escuro]." Para Miriam, o salão deu
um rumo a sua vida. "Quando
meu marido morreu, pensei:
"O que vou fazer?" Descobri os
bailes. Começo a trabalhar às
8h, paro às 20h, cansada. É só
uma amiga me chamar para
dançar que em minutos me
transformo. Coloco bobes na
cabeça, tomo um banho, me
maquio, boto vestido, salto alto e me sinto linda. Me acabo
de dançar e durmo feliz."
"Promoter" desta reunião,
Regina é suspeita para dar sua
opinião sobre o filme. De tão
assídua nas noites, foi convidada a ser figurante. Suas amigas morreram de rir na cena
em que ela aperta o bumbum
de um garçom. "Vocês também queriam, né?", brincou.
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