São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVROS

Cartas de J.D. Salinger são tema de mostra em NY

Correspondência do recluso escritor, morto em janeiro, é exposta em NY

Mensagens foram escritas pelo autor ao amigo Michael Mitchell, ilustrador da capa original de "O Apanhador no Campo de Centeio"

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

Em uma suntuosa sala da Morgan Library, em Nova York, em meio a três andares de estantes repletas de livros, repousam quatro cartas de J.D. Salinger que expõem a intimidade do autor de "O Apanhador no Campo de Centeio", morto em janeiro, aos 91 anos, e conhecido por sua reclusão.
Dividida em duas partes, a primeira inaugurada na terça, a exposição tornará públicas, ao todo, dez cartas e um cartão postal escritos por Salinger ao amigo Michael Mitchell, artista que desenhou a capa original de "O Apanhador" (1951).
Os dois mantiveram relação próxima por mais de 40 anos. Depois de uma briga, nos anos 90, Mitchell vendeu os textos, que foram doados à biblioteca.
Desde 1998, os responsáveis pela coleção a mantinham em segredo, alegando respeito ao desejo de privacidade do autor.
Não à toa. As quatro cartas apresentadas até 11 de abril contam em detalhes episódios da vida privada do autor, da relação com os filhos e das dificuldades para escrever.
Na primeira carta, datilografada em Londres em 1951, o americano conta ao amigo e à mulher dele sobre sua viagem de dois meses por Escócia e Inglaterra, antes da publicação do seu maior sucesso.
Salinger refere-se ao casal como "Buddyroos", saudação usada pelo protagonista de "O Apanhador", Holden Caulfield, e descreve com bom humor os passeios ciceroneados pelo editor Hamish Hamilton.
"Hamilton não poderia ser mais amável ou um anfitrião melhor, mas ele é realmente apenas mais um editor, um profissional das reuniões informais", diz trecho da carta.
Na correspondência seguinte, escrita na pequena cidade de Cornish, nos EUA, em 1966, ele descreve com detalhes uma viagem a Nova York com seus dois filhos. Também datilografada, a carta traz algumas correções com caneta vermelha e a assinatura do autor, ao final: Jerry (apelido para Jerome).
Um tanto mais amargo do que em 1951, agora ele reclama da saudade que sente do amigo. "Agradeço a Deus por termos tido o que tivemos, Mike. É um grande mundo de merda, e piora a cada minuto."
Dali para a frente, o estado de espírito de Salinger não parece melhorar. Ainda em 1966, mais de um ano depois da publicação de seu último texto, "Hapworth 16, 1924", na revista "New Yorker", ele escreve que "não é fácil ter mais de 40 e ainda escrever ou pintar. São tantas descrenças da meia-idade e dúvidas penosas na cabeça".
A primeira parte da mostra se encerra com a única carta escrita à mão e sem data (estima-se que seja de 1969). Com caligrafia compreensível, Salinger diz querer ver a "cara envelhecida [do amigo] algumas vezes mais nessa vida".
Entre 13 de abril e 9 de maio, a Morgan Library exibirá outras correspondências, escritas até 1993, antes do rompimento com o amigo desenhista.

FOLHA ONLINE
Leia entrevista com a curadora da Morgan Library
www.folha.com.br/100781



Texto Anterior: Crítica/ "Banana Mecânica": Diretor faz resgate radical da poesia
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.