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LIVROS
Cartas de J.D. Salinger são tema de mostra em NY
Correspondência do recluso escritor, morto em janeiro, é exposta em NY
Mensagens foram escritas pelo autor ao amigo Michael Mitchell, ilustrador da capa original de "O Apanhador no Campo de Centeio"
CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK
Em uma suntuosa sala da
Morgan Library, em Nova
York, em meio a três andares de
estantes repletas de livros, repousam quatro cartas de J.D.
Salinger que expõem a intimidade do autor de "O Apanhador
no Campo de Centeio", morto
em janeiro, aos 91 anos, e conhecido por sua reclusão.
Dividida em duas partes, a
primeira inaugurada na terça, a
exposição tornará públicas, ao
todo, dez cartas e um cartão
postal escritos por Salinger ao
amigo Michael Mitchell, artista
que desenhou a capa original de
"O Apanhador" (1951).
Os dois mantiveram relação
próxima por mais de 40 anos.
Depois de uma briga, nos anos
90, Mitchell vendeu os textos,
que foram doados à biblioteca.
Desde 1998, os responsáveis
pela coleção a mantinham em
segredo, alegando respeito ao
desejo de privacidade do autor.
Não à toa. As quatro cartas
apresentadas até 11 de abril
contam em detalhes episódios
da vida privada do autor, da relação com os filhos e das dificuldades para escrever.
Na primeira carta, datilografada em Londres em 1951, o
americano conta ao amigo e à
mulher dele sobre sua viagem
de dois meses por Escócia e Inglaterra, antes da publicação do
seu maior sucesso.
Salinger refere-se ao casal
como "Buddyroos", saudação
usada pelo protagonista de "O
Apanhador", Holden Caulfield,
e descreve com bom humor os
passeios ciceroneados pelo editor Hamish Hamilton.
"Hamilton não poderia ser
mais amável ou um anfitrião
melhor, mas ele é realmente
apenas mais um editor, um
profissional das reuniões informais", diz trecho da carta.
Na correspondência seguinte, escrita na pequena cidade de
Cornish, nos EUA, em 1966, ele
descreve com detalhes uma
viagem a Nova York com seus
dois filhos. Também datilografada, a carta traz algumas correções com caneta vermelha e a
assinatura do autor, ao final:
Jerry (apelido para Jerome).
Um tanto mais amargo do
que em 1951, agora ele reclama
da saudade que sente do amigo.
"Agradeço a Deus por termos
tido o que tivemos, Mike. É um
grande mundo de merda, e piora a cada minuto."
Dali para a frente, o estado de
espírito de Salinger não parece
melhorar. Ainda em 1966, mais
de um ano depois da publicação
de seu último texto, "Hapworth
16, 1924", na revista "New Yorker", ele escreve que "não é fácil
ter mais de 40 e ainda escrever
ou pintar. São tantas descrenças da meia-idade e dúvidas penosas na cabeça".
A primeira parte da mostra
se encerra com a única carta escrita à mão e sem data (estima-se que seja de 1969). Com caligrafia compreensível, Salinger
diz querer ver a "cara envelhecida [do amigo] algumas vezes
mais nessa vida".
Entre 13 de abril e 9 de maio,
a Morgan Library exibirá outras correspondências, escritas
até 1993, antes do rompimento
com o amigo desenhista.
FOLHA ONLINE
Leia entrevista com a
curadora da Morgan
Library
www.folha.com.br/100781
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