São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

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Oiticica tem retrospectiva em SP

Mais de cem obras do artista carioca morto há 30 anos estão reunidas a partir de hoje no Itaú Cultural

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

No alto de uma parede de sua "Tropicália", Hélio Oiticica escreveu que "pureza é um mito". Não houve chave melhor para entender um conjunto de obras que revolucionou a arte brasileira, com espasmos de cor e do corpo no resto do planeta.
Quando construiu seus "Metaesquemas", pinturas em guache sobre papel, ensaiou a desmaterialização do quadro e a explosão da cor no espaço, que viria com seus "Relevos Espaciais". Formas flutuam soltas, estilhaços cromáticos suspensos que engolem o público.
Foi o primeiro passo para a invenção dos "Penetráveis", ambientes coloridos que só funcionam quando habitados por espectadores participantes.
Essas obras, que são ao mesmo tempo lugares, estão juntas agora no Itaú Cultural, na maior mostra do artista já feita em São Paulo. É quando as ideias deixadas por Oiticica ganham forma e corpo diante de um público que em grande parte só ouviu falar em "Penetráveis", "Bólides" e "Parangolés".
"Quando a cor não está mais submetida ao retângulo, ela tende a se "corporificar'", escreveu Oiticica. "Ela cria sua própria estrutura, a obra passa então a ser o corpo da cor."
E o corpo do artista era de uma carne sensível. Oiticica queria a dimensão desse corpo ativo dentro da obra, buscava trazer para os trabalhos a experiência dos morros cariocas, o que definiu como "antiarte".
Enquanto o primeiro dos três andares da mostra abriga suas experimentações de cor, os dois subsolos mostram como a cor serve de invólucro para a experiência real, libertina e urbana -começando com o "Parangolé", capa vestida pelo espectador, que se transforma em pintura viva e ambulante.
"Não é um legado formal, é um legado de atitude que o Hélio deixou", resume o curador da mostra, Fernando Cocchiarale. "Com o fim do quadro, some o espectador cotemplativo, ele penetra, está em imersão."
"Tropicália" mistura a arquitetura vulgar das favelas a um chão de areia e pedrinhas. É o que Oiticica chama de "primeiríssima tentativa consciente de impor uma imagem "brasileira" ao contexto da vanguarda".
"Quando eu ando ou proponho que as pessoas andem dentro de um "Penetrável", eu estou sintetizando a minha experiência da descoberta da rua através do andar", escreveu o artista.
"A minha vida é na rua."
Tanto que seus "Bólides", recipientes de toda sorte cheios de pigmento, trazem a cidade para esse espaço. Um conjunto deles têm água de Ipanema e o asfalto da Presidente Vargas, objetos de potência latente, que espreitam o espaço. É como se esperassem o público para detonar experiências estéticas.


HÉLIO OITICICA
Quando:
abertura hoje, às 11h; ter. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 11h às 20h; até 16/5
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1776)
Quanto: entrada franca



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