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Oiticica tem retrospectiva em SP
Mais de cem obras do artista carioca morto há 30 anos estão reunidas a partir de hoje no Itaú Cultural
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
No alto de uma parede de sua
"Tropicália", Hélio Oiticica escreveu que "pureza é um mito".
Não houve chave melhor para
entender um conjunto de obras
que revolucionou a arte brasileira, com espasmos de cor e do
corpo no resto do planeta.
Quando construiu seus "Metaesquemas", pinturas em guache sobre papel, ensaiou a desmaterialização do quadro e a
explosão da cor no espaço, que
viria com seus "Relevos Espaciais". Formas flutuam soltas,
estilhaços cromáticos suspensos que engolem o público.
Foi o primeiro passo para a
invenção dos "Penetráveis",
ambientes coloridos que só
funcionam quando habitados
por espectadores participantes.
Essas obras, que são ao mesmo tempo lugares, estão juntas
agora no Itaú Cultural, na
maior mostra do artista já feita
em São Paulo. É quando as
ideias deixadas por Oiticica ganham forma e corpo diante de
um público que em grande parte só ouviu falar em "Penetráveis", "Bólides" e "Parangolés".
"Quando a cor não está mais
submetida ao retângulo, ela
tende a se "corporificar'", escreveu Oiticica. "Ela cria sua própria estrutura, a obra passa então a ser o corpo da cor."
E o corpo do artista era de
uma carne sensível. Oiticica
queria a dimensão desse corpo
ativo dentro da obra, buscava
trazer para os trabalhos a experiência dos morros cariocas, o
que definiu como "antiarte".
Enquanto o primeiro dos três
andares da mostra abriga suas
experimentações de cor, os
dois subsolos mostram como a
cor serve de invólucro para a
experiência real, libertina e urbana -começando com o "Parangolé", capa vestida pelo espectador, que se transforma em
pintura viva e ambulante.
"Não é um legado formal, é
um legado de atitude que o Hélio deixou", resume o curador
da mostra, Fernando Cocchiarale. "Com o fim do quadro, some o espectador cotemplativo,
ele penetra, está em imersão."
"Tropicália" mistura a arquitetura vulgar das favelas a um
chão de areia e pedrinhas. É o
que Oiticica chama de "primeiríssima tentativa consciente de
impor uma imagem "brasileira"
ao contexto da vanguarda".
"Quando eu ando ou proponho que as pessoas andem dentro de um "Penetrável", eu estou
sintetizando a minha experiência da descoberta da rua através
do andar", escreveu o artista.
"A minha vida é na rua."
Tanto que seus "Bólides", recipientes de toda sorte cheios
de pigmento, trazem a cidade
para esse espaço. Um conjunto
deles têm água de Ipanema e o
asfalto da Presidente Vargas,
objetos de potência latente, que
espreitam o espaço. É como se
esperassem o público para detonar experiências estéticas.
HÉLIO OITICICA
Quando: abertura hoje, às 11h; ter. a
sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das
11h às 20h; até 16/5
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista,
149, tel. 0/xx/11/2168-1776)
Quanto: entrada franca
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