São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

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Garoto animado

Damon Albarn, inglês que ficou conhecido com o Blur, reaparece com o terceiro disco da banda-cartum Gorillaz

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

"Welcome to the World of the Plastic Beach."
Este é, além de título da primeira música (na verdade, é a segunda faixa do álbum; a primeira é uma introdução) do terceiro disco do Gorillaz, uma síntese do que encontraremos no universo multicolorido dessa banda/cartum/virtual.
Há climas diversos (ora sisudo, ora alegre), de batidas diversas (lentas; rápidas), de sensações diversas (dançante; soul; hip hop; disco; pop). Tudo em uma única música. E tudo isso é transportado para o restante do disco, deliciosamente caótico e disforme.
Talvez isso aconteça porque o Gorillaz funciona como uma válvula de escape para Damon Albarn, inglês que ficou conhecido nos anos 1990 como vocalista da banda britpop Blur (leia nesta página texto sobre DVD ao vivo da banda).
Se no Blur Albarn ficava preso a um padrão pop-rock de guitarra/baixo/bateria, no Gorillaz ele está livre para atirar para todos os lados -e, neste disco, acerta a maioria deles.
O Gorillaz é formado por Albarn e pelo designer gráfico Jamie Hewlett. Enquanto Albarn cuida da música, Hewlett se encarrega da imagem da banda: dos quatro integrantes/personagens em cartum; do site, que também é uma espécie de game; da concepção visual dos shows, feita por jogos de luz e sombra (eles vão fechar uma das noites do enorme festival Coachella, nos EUA, em abril).

Convidados estrelados
Para ajudá-lo com a paleta de cores de "Plastic Beach", Albarn convidou de Snoop Dogg a Lou Reed; de De La Soul a Gruff Rhys (do grupo Super Furry Animals); de Mark E. Smith (The Fall) a Bobby Womack.
Apenas uma brincadeira de Albarn, o Gorillaz transformou-se em seu mais bem-sucedido projeto -os dois primeiros discos já venderam mais de 15 milhões de cópias e atingiram um sucesso nos EUA que o Blur nunca conseguiu. Isso dá moral para Albarn tirar Lou Reed de sua zona de conforto e o colocar para cantar sobre bases eletrônicas leves.
Ou para juntar Mos Def e o soulman Bobby Womack em "Stylo", faixa lisérgica e de tempero black. Ou para chamar uma orquestra libanesa e criar uma atmosfera oriental em "White Flag".
As faixas sem convidados não são menos ousadas. Em "Broken" e "On Melancholy Hill", há sintetizadores retrô que nos transportam tanto para os anos 1960 quanto para os 1980.
Já "Rhinestone Eyes" é quase infantil, com o vocal de Damon passando por efeitos -que voltam a ser bastante usados para dar um ar futurista à faixa título.
Essa quase infinidade de ritmos presentes no disco do Gorillaz é algo que não pode ser deslocado para o Blur. Ali o que se faz é britpop, canções com melodias reconhecíveis.
Inquieto, Damon Albarn criou o Gorillaz para brincar e experimentar. No início, levou várias pancadas -como assim fazer uma banda-cartum?, questionavam muitos. Com uma trajetória que deságua em "Plastic Beach", ele prova que sempre esteve certo.


PLASTIC BEACH
Artista:
Gorillaz
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: ótimo



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