São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2007

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Adb Al Malik faz revolução com poesia

Rapper, que diz se sentir como Che Guevara, abriu noite em festival em Bourges para a diva Juliette Gréco

ADRIANA FERREIRA SILVA
DE BOURGES

Há dois anos, jovens das periferias francesas incendiaram o país, escancarando para o mundo as diferenças existentes na nação da "liberdade, igualdade e fraternidade". Mas nem todos optaram por coquetéis molotov. O rapper Abd Al Malik, 32, fez sua revolução por meio da poesia, registrando essas diferenças num dos discos mais comentados de 2006, "Gibraltar".
"Penso nesta península como uma metáfora para o norte e o sul. O norte olha o sul com preconceito, e este vê nos países de cima a chance de realizar sonhos. Mas eles não se conhecem de verdade. Meu álbum representa essa idéia e também pretende ser uma ligação entre duas gerações e estilos musicais diversos", acredita.
Descendente de congoleses criado nos subúrbios parisienses, Malik conversou com a Folha na quarta, pouco antes de sua performance na segunda noite do festival Printemps de Bourges. O show precedeu o da cantora e atriz Juliette Gréco.
Malik representa uma das correntes que renova com vigor a poesia e o rap, a do "slam", um tipo de sarau criado nos Estados Unidos que virou moda na França. Ao vivo, ele declama seus textos ou os interpreta em rap, acompanhado por piano, contrabaixo, percussão e um DJ. O som é puro jazz.
Uma base suave prepara o público para sua entrada. Ele surge marchando e interpreta "Soldat de Plomb" (soldado de chumbo). As músicas são alteradas por improvisações, tratando, principalmente, da situação na França -em período de pré-eleições presidenciais.
Sobre isso, Malik prefere não tomar partido. Abre o show lembrando frase dita durante a entrevista à Folha: "Artistas não são políticos nem jornalistas nem animadores. São somente artistas, e o que dão não são respostas, mas perguntas."
Malik diz que, ao gravar um disco de rap, sente-se como Che Guevara. Sua pequena revolução parece tocar os franceses de todas as idades que assistem à apresentação entusiasmados, interrompendo as canções com gritos e aplausos.
Um breve intervalo após a saída de Abd Al Malik, uma melodia doce de piano ocupa o ambiente e, da penumbra, vem caminhando uma senhora num vestido de veludo negro, que destaca sua aparência frágil.
Fragilidade que desaparece quando sua voz grave ecoa pela sala de concerto. Aos 80, Juliette Gréco, grande dama da "chanson" francesa, mantém a beleza e a elegância que a tornaram a diva da boemia pós-Segunda Guerra. Gréco lançou em 2006 o disco "Le Temps d'une Chanson" (o tempo de uma canção), reunindo clássicas "chansons". Muitas compostas para ela, como "La Javanaise" (Serge Gainsbourg), "Jolie Môme" (Léo Ferré) ou "J'Arrive" (Jacques Brel). As músicas do álbum foram a base do repertório que Gréco mostrou no Printemps, acompanhada pelo marido, o pianista Gérard Jouannest, e pelo acordeonista Jean Louis Matieu. Impressiona a energia com que Gréco canta composições como "Accordeon", de Gainsbourg, ou quando, ao final, faz sua releitura para "Ne me Quitte Pas", de Brel, com uma dramaticidade que parecedifícil de ser superada.


A jornalista ADRIANA FERREIRA SILVA viajou a convite do Consulado da França

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