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Adb Al Malik faz revolução com poesia
Rapper, que diz se sentir como Che Guevara, abriu noite em festival em Bourges para a diva Juliette Gréco
ADRIANA FERREIRA SILVA
DE BOURGES
Há dois anos, jovens das periferias francesas incendiaram o
país, escancarando para o mundo as diferenças existentes na
nação da "liberdade, igualdade
e fraternidade". Mas nem todos
optaram por coquetéis molotov. O rapper Abd Al Malik, 32,
fez sua revolução por meio da
poesia, registrando essas diferenças num dos discos mais comentados de 2006, "Gibraltar".
"Penso nesta península como uma metáfora para o norte
e o sul. O norte olha o sul com
preconceito, e este vê nos países de cima a chance de realizar
sonhos. Mas eles não se conhecem de verdade. Meu álbum representa essa idéia e também
pretende ser uma ligação entre
duas gerações e estilos musicais diversos", acredita.
Descendente de congoleses
criado nos subúrbios parisienses, Malik conversou com a Folha na quarta, pouco antes de
sua performance na segunda
noite do festival Printemps de
Bourges. O show precedeu o da
cantora e atriz Juliette Gréco.
Malik representa uma das
correntes que renova com vigor
a poesia e o rap, a do "slam", um
tipo de sarau criado nos Estados Unidos que virou moda na
França. Ao vivo, ele declama
seus textos ou os interpreta em
rap, acompanhado por piano,
contrabaixo, percussão e um
DJ. O som é puro jazz.
Uma base suave prepara o
público para sua entrada. Ele
surge marchando e interpreta
"Soldat de Plomb" (soldado de
chumbo). As músicas são alteradas por improvisações, tratando, principalmente, da situação na França -em período
de pré-eleições presidenciais.
Sobre isso, Malik prefere não
tomar partido. Abre o show
lembrando frase dita durante a
entrevista à Folha: "Artistas
não são políticos nem jornalistas nem animadores. São somente artistas, e o que dão não
são respostas, mas perguntas."
Malik diz que, ao gravar um
disco de rap, sente-se como
Che Guevara. Sua pequena revolução parece tocar os franceses de todas as idades que assistem à apresentação entusiasmados, interrompendo as canções com gritos e aplausos.
Um breve intervalo após a
saída de Abd Al Malik, uma melodia doce de piano ocupa o
ambiente e, da penumbra, vem
caminhando uma senhora num
vestido de veludo negro, que
destaca sua aparência frágil.
Fragilidade que desaparece
quando sua voz grave ecoa pela
sala de concerto. Aos 80, Juliette Gréco, grande dama da
"chanson" francesa, mantém a
beleza e a elegância que a tornaram a diva da boemia pós-Segunda Guerra. Gréco lançou
em 2006 o disco "Le Temps
d'une Chanson" (o tempo de
uma canção), reunindo clássicas "chansons". Muitas compostas para ela, como "La Javanaise" (Serge Gainsbourg), "Jolie Môme" (Léo Ferré) ou
"J'Arrive" (Jacques Brel). As
músicas do álbum foram a base
do repertório que Gréco mostrou no Printemps, acompanhada pelo marido, o pianista
Gérard Jouannest, e pelo acordeonista Jean Louis Matieu.
Impressiona a energia com
que Gréco canta composições
como "Accordeon", de Gainsbourg, ou quando, ao final, faz
sua releitura para "Ne me Quitte Pas", de Brel, com uma dramaticidade que parecedifícil de
ser superada.
A jornalista ADRIANA FERREIRA SILVA viajou
a convite do Consulado da França
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