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crítica
Voz continua bela, mas CD nasce datado
MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando ganhou seu
primeiro disco de
ouro, em 1999,
Nana Caymmi viu coroada
a fórmula instrumental
que vinha sendo repetida
em seus trabalhos havia
pelo menos cinco anos.
Nela, quase toda a canção
de letra triste era arranjada para virar bolero. As
alegrinhas corriam o mesmo risco. E qualquer sutileza que surgisse acabava
soterrada pela pasteurização do geral.
De lá para cá, nada mais
aconteceu nesse quesito.
Com arranjos dos mesmos
Cristóvão Bastos e Dori
Caymmi de 15 anos atrás, o
CD de agora soa como um
disco de 1994. Ainda que o
repertório traga grandes
canções em potencial
-como a pequena pérola
"Pra Quem Ama Demais"
ou a doce "Senhorinha"-,
elas não chegam a acontecer plenamente aqui. A
voz de Nana quer voar,
mas o instrumental prende a âncora no chão. E isso
parece que foi pensado para ser assim. Tanto que
"Fora de Hora", parceria
de Dori Caymmi e Chico
Buarque lançada por Nana
no filme "Lara", chega ao
disco modificada. No cinema, a voz da cantora flutua
livre. Aqui, virou... bolero.
Assim, o álbum novo
nasce datado -e, pior,
com data retroativa. Uma
pena, pois, ao contrário de
seus discos, a voz de Nana
não envelheceu. Continua,
aos 49 anos de carreira,
tão arrebatadora quanto
era antes de os boleros tomarem conta do pedaço.
E se só isso basta para
que seus velhos seguidores não se incomodem
com a falta de novidade,
não chega a ser motivo suficiente para que novos fãs
se aproximem. No fim das
contas, todo mundo perde.
SEM POUPAR CORAÇÃO
Artista: Nana Caymmi
Lançamento: Som Livre
Quanto: R$ 29, em média
Avaliação: regular
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