São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2011 |
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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA Piano de Nelson Freire se molda idealmente ao romantismo de Liszt IRINEU FRANCO PERPETUO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Chegou o disco mais esperado da grande efeméride pianística de 2011: "Harmonies du Soir", recital solo de Nelson Freire dedicado a Franz Liszt (1811-1886). Húngaro por nascimento e cosmopolita por vocação, Liszt teve uma produção rica e variada, da canção à música sacra, passando pela ópera e pela revolução orquestral representada pelo poema sinfônico. Contudo, foi essencialmente ao teclado que ele se tornou uma figura-chave entre os românticos. Tocando de memória, empregando um virtuosismo esfuziante e improvisando como poucos, Liszt deixou a Europa do século 19 a seus pés, e pode ser tido como o inventor do recital de piano solo como o conhecemos. MOLDE Pelo caráter cheio, generoso, de uma paleta absolutamente infindável de cores, a sonoridade de Freire parece idealmente moldada ao romantismo de Liszt. Com a segurança e a liberdade de quem não precisa provar nada a ninguém, o pianista mineiro pôde deixar de lado itens mais "óbvios" como a "Sonata em Si Menor" ou a "Sonata Dante". Concentrou-se, então, em uma seleção bem pessoal, partindo do brilho de "Waldsrauchen" para chegar ao encantador prenúncio do impressionismo que é "Harmonies du Soir", o "estudo de execução transcendental" que batiza o álbum. Há muita coisa para desfrutar no caminho, como a poesia do "Soneto 104" de Petrarca, uma das menos difundidas das "Rapsódias Húngaras" (a terceira) e a integral das "Consolações" (das quais a terceira, pelo lirismo e melodia, se tornou quase um clichê como bis). A faixa mais surpreendente, porém, talvez seja a mais longa: a pouco gravada "Balada nº 2", uma jornada por contrastantes estados de espírito e registros do teclado. O começo, no grave, já é impactante e, para dar conta da veemente retórica lisztiana, Freire emprega uma inesgotável plêiade de recursos técnicos e expressivos -a tônica de um desses discos que simplesmente se recusam a sair do aparelho de som. LISZT: HARMONIES DU SOIR ARTISTA Nelson Freire (piano) LANÇAMENTO Decca (Universal) QUANTO R$ 29, em média AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Crítica/Jazz: James Farm estreia com arquitetura melódica vibrante Próximo Texto: Música: CDs Índice | Comunicar Erros |
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