São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2011

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Batata frita no Oscar da comida

Premiação e "after party" do maior evento gastronômico do mundo, anteontem em Londres, tem frituras e babação de ovo

LUISA BELCHIOR
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

De pé em um bar de Londres, amigos em traje casual traçavam mini-hambúrgueres com batatas fritas na noite de anteontem, durante um bate-papo para relaxar as tensões do dia.
Normal? Seria, se os tais amigos não fossem chefs como o brasileiro Alex Atala, o espanhol Juan Mari Arzak e o dinamarquês René Redzepi, três dos dez melhores do mundo, segundo a revista britânica "Restaurant".
Horas antes, eles estavam na antiga sede da prefeitura londrina, o Guildhall, para o "Oscar da gastronomia".
O evento definiu o novo ranking dos cem melhores restaurantes do mundo, além de tendências como a descontraída cozinha sul-americana e a simplicidade do menu do bicampeão Noma, do chef Redzepi.
O clima no coquetel de abertura do evento tampouco era de formalidade: de blazers, vestidinhos e tênis com calça cigarrete, os convidados batiam altos papos -em volume superior ao que pede a etiqueta britânica- entre uma e outra fatia de presunto ibérico degustados com garrafinhas de cerveja e pão com azeite de avelã.
Apesar da apreensão pelo sobe e desce do ranking -só entre os dez mais, oito mudaram de posição- e o mal-estar com a queda do Fat Duck, de Heston Blumenthal, de terceiro para quinto, o clima foi de reunião de amigos.
Todos falavam de Atala. Já estava no ar a ascensão do chef brasileiro ainda na entrada da cerimônia. "As notícias circulam", comentou o espanhol Juan Mari Arzak, homenageado da noite com um prêmio especial pela trajetória -seu restaurante figura na oitava posição, uma abaixo de Atala.
E um desavisado mal notaria que o tão comentado chef brasileiro já estava ali, em um cantinho, brincando com o microfone de uma TV na entrada da festa.
Mas não teria dúvidas diante dos entusiasmados aplausos que escaparam da plateia quando se anunciava a sétima posição, antes de se mencionar seu nome.
Porque ganhou também o título de melhor sul-americano, o brasileiro foi convidado ao palco -benefício dado apenas aos que faturam prêmios extras. Desta vez, não cometeu a gafe de 2006, quando, na 50ª posição, subiu sem ser convidado.
Ao contrário: desceu antes do tempo, enquanto a música ainda tocava e o apresentador Marken Durden-Smith, incrédulo, discursava sobre seu restaurante.

AMÉRICA DO SUL
"É inegável a força da América do Sul hoje. São Paulo compete com Europa e Japão", disse à Folha o editor da "Restaurant", William Drew, sobre o upgrade de Atala e a entrada do peruano Astrid y Gastón, em 42º.
Muitos ali, contudo, nem sequer provaram os concorrentes da América do Sul, como confessou Redzepi.
"Acho incríveis a cozinha do Gastón, que tem impacto social, e o D.O.M., que está mudando o cenário gastronômico. Mas em termos de sabor, não provei ainda."
A ascensão latina não ofuscou, no entanto, a supremacia no ranking da cozinha europeia, que ocupa sete lugares entre os dez.
"Isso mostra que ainda há muito movimento por aqui", afirmou a francesa, Sophie Pic, melhor chef feminina, que se confessou algo preocupada com a repercussão do título. "Claro que tudo muda quando se ganha este prêmio. É o preço. As pessoas cobram muito mais."
A cozinha espanhola levou três das dez primeiras colocações -apesar da ausência do catalão Ferran Adrià. Ele foi campeão quatro vezes com seu El Bulli.
"Ele quis que fosse assim. Quer fazer mais, investigar, transmitir mais conhecimento. Abre caminhos para a cozinha mundial", frisou o conterrâneo Juan Mari Arzak, que, apesar de seu prêmio, só se vangloriava pela filha, Elena Arzak, eleita uma das três melhores do mundo.


Texto Anterior: Cinema: Filmes brasileiros têm exibições em paralelas de Cannes
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.