São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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SHOW - CRÍTICA
Só rock e carisma salvam o Kiss do caos

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Para uma platéia de mais de 45 mil pessoas no autódromo de Interlagos, que aguentou um frio de cair a orelha na noite de sábado, o Kiss provou que carisma e o bom e velho rock and roll superam as condições pífias do show em SP.
Três horas antes da apresentação, o trânsito era um bagunça e filas literalmente quilométricas de fãs circundavam o autódromo. Com o público entrando por apenas duas portas, a lentidão irritava. Quando o Rammstein começou a fazer a abertura, houve um princípio de tumulto, porque as milhares de pessoas do lado de fora pensaram estar ouvindo o Kiss.
Mas o quarteto mascarado de Nova York demorou. A apresentação só começou às 22h55, com "Psycho Circus". Desavisadas, muitas pessoas já colocavam o óculos para 3-D que foi distribuído na entrada do show, embora a projeção especial do telão só funcionasse em algumas canções. Quando apareceu o anúncio no telão, antes da quarta música, o público ficou admirado com o efeito, que funcionava perfeitamente.
Quer dizer, quase todo o público ficou admirado, porque parte dele não viu nada, já que houve falta de óculos para algumas milhares de pessoas que estavam no fim da fila -gente que ainda estava entrando na sexta música do show!
No palco, o Kiss desfilou seu repertório de hits. O animado Paul Stanley repetiu o grito "Sao Pólo!" dezenas de vezes e disse estar contente de tocar "na terra de Sérgio Mendes(!), Sonia Braga e Pelé". Surpresa ruim foi a grande utilização de fitas pré-gravadas. Toda a base de guitarra, baixo e bateria era gerada por playback. O baterista Peter Criss não toca mais nada, faz figuração. Efeitos visuais? Fracos. Os fogos de artifício foram um punhado de bombinhas de São João perto do que foi visto nas turnês dos Stones e do U2. O efeito 3-D é divertido, mas muito repetitivo.
Ace Frehley deu tiros com sua guitarra-canhão, a bateria "levitou", Gene Simmons abriu as asas e voou, e Paul Stanley desfilou sobre o público num cabo de aço.
Tudo muito engraçado, mas o que importa mesmo é a música. E o repertório do Kiss é uma paulada. "Into the Void", Shock Me", "Love Gun", "Do You Love Me" e tantas outras fizeram o público cantar junto. E a histeria virou frenesi religioso quando o grupo atacou "Rock and Roll All Nite", hino de todas as bandas de garagem.
No bis, o grande vacilo da noite. A balada "Beth", clássico do grupo, foi apresentada em playback total. Peter Criss empunhou o microfone e fez um karaokê descarado.
Depois, "Detroit Rock City" e "Black Diamond" encerraram a noite de uma banda carismática, que sentiu o peso dos anos, mas agradou a uma platéia que sofreu com a desorganização do show.


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