São Paulo, sábado, 20 de maio de 2006

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LITERATURA

José Luandino Vieira teve três livros publicados no Brasil; autor é conhecido por sua militância política em Angola

Escritor angolano ganha o Prêmio Camões

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Pouco conhecido no Brasil, o escritor angolano José Luandino Vieira ganhou o Prêmio Camões 2006, o mais prestigioso prêmio de literatura de Portugal, já concedido a brasileiros como Jorge Amado e Lygia Fagundes Telles.
Neste ano, o júri do prêmio foi composto pelas autoras portuguesas Agostiniana Bessa-Luís e Paula Morão, os brasileiros Ivan Junqueira e Evanildo Bechara, o moçambicano Francisco Noa e o angolano José Eduardo Agualusa.
No Brasil, Vieira teve apenas três títulos publicados, pela editora Ática: a coletânea de contos "Luuanda", e os romances "A Vida Verdadeira de Domingos Xavier" e "Nós, os do Makulusu", todos já esgotados.
O autor, que vai receber cerca de R$ 280 mil, é o terceiro escritor africano a receber o prêmio, depois do moçambicano José Craveirinha (1991) e do angolano Pepetela (1997).
"Luandino é um dos mais importantes autores em língua portuguesa. É um escritor que alia muito bem um compromisso ético, por conta de sua militância política, com uma dimensão estética especial", diz Rita Chaves, professora de literatura africana de língua portuguesa da Universidade de São Paulo. "O prêmio reconhece a vitalidade da literatura angolana e comprova a riqueza do trabalho de um autor pouco conhecido entre nós, ainda que ele seja bastante estudado."

Trajetória
Nascido em 1935, na cidade de Vila Nova de Ourém, em Portugal, Vieira emigrou para Angola ainda criança. Ele passou toda a infância e juventude em Luanda, capital do país, onde participou do movimento de libertação nacional. Por conta de sua militância, foi preso em 1959 e 1961 pelo regime autoritário português de Antônio de Oliveira Salazar e condenado a 14 anos de prisão.
Em 1964, Vieira foi transferido para o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde passou oito anos, e libertado em 1972, em regime de residência vigiada em Lisboa.
Vieira iniciou nesta época a publicação de seus livros, em grande parte escritos nas diversas prisões por onde passou. Após a independência de Angola, houve um hiato na publicação de sua obra, período em que Vieira ocupou funções públicas diversas.
"Em sua obra, Luandino Vieira faz de Luanda seu espaço preferencial. A Luanda que ele apresenta é a dos bairros periféricos, em plena sociedade colonial", conta Chaves.
Ainda segundo a professora, a obra de Vieira é marcada por uma reinvenção lingüística, de forte identidade angolana. Sua literatura também tem ecos da prosa brasileira, sustenta Chaves.
"Ele foi um escritor atento às obras de Guimarães Rosa e Jorge Amado e afirma que se sentiu autorizado a escrever após ler "Sagarana" na prisão. Em sua obra se vê muitas semelhanças com a literatura de Rosa", avalia Chaves.
Publicado em Portugal pela editora Caminho, Vieira lançou em 2003 o seu último livro, "Nosso Musseque", e prepara atualmente o segundo romance de sua trilogia "De Rios Velhos e Guerrilheiros", cuja primeira parte sai até o fim deste ano em Portugal.


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