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LITERATURA
José Luandino Vieira teve três livros publicados no Brasil; autor é conhecido por sua militância política em Angola
Escritor angolano ganha o Prêmio Camões
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Pouco conhecido no Brasil, o escritor angolano José Luandino
Vieira ganhou o Prêmio Camões
2006, o mais prestigioso prêmio
de literatura de Portugal, já concedido a brasileiros como Jorge
Amado e Lygia Fagundes Telles.
Neste ano, o júri do prêmio foi
composto pelas autoras portuguesas Agostiniana Bessa-Luís e
Paula Morão, os brasileiros Ivan
Junqueira e Evanildo Bechara, o
moçambicano Francisco Noa e o
angolano José Eduardo Agualusa.
No Brasil, Vieira teve apenas
três títulos publicados, pela editora Ática: a coletânea de contos
"Luuanda", e os romances "A Vida Verdadeira de Domingos Xavier" e "Nós, os do Makulusu", todos já esgotados.
O autor, que vai receber cerca de
R$ 280 mil, é o terceiro escritor
africano a receber o prêmio, depois do moçambicano José Craveirinha (1991) e do angolano Pepetela (1997).
"Luandino é um dos mais importantes autores em língua portuguesa. É um escritor que alia
muito bem um compromisso ético, por conta de sua militância
política, com uma dimensão estética especial", diz Rita Chaves,
professora de literatura africana
de língua portuguesa da Universidade de São Paulo. "O prêmio reconhece a vitalidade da literatura
angolana e comprova a riqueza
do trabalho de um autor pouco
conhecido entre nós, ainda que
ele seja bastante estudado."
Trajetória
Nascido em 1935, na cidade de
Vila Nova de Ourém, em Portugal, Vieira emigrou para Angola
ainda criança. Ele passou toda a
infância e juventude em Luanda,
capital do país, onde participou
do movimento de libertação nacional. Por conta de sua militância, foi preso em 1959 e 1961 pelo
regime autoritário português de
Antônio de Oliveira Salazar e condenado a 14 anos de prisão.
Em 1964, Vieira foi transferido
para o campo de concentração do
Tarrafal, em Cabo Verde, onde
passou oito anos, e libertado em
1972, em regime de residência vigiada em Lisboa.
Vieira iniciou nesta época a publicação de seus livros, em grande
parte escritos nas diversas prisões
por onde passou. Após a independência de Angola, houve um hiato
na publicação de sua obra, período em que Vieira ocupou funções
públicas diversas.
"Em sua obra, Luandino Vieira
faz de Luanda seu espaço preferencial. A Luanda que ele apresenta é a dos bairros periféricos,
em plena sociedade colonial",
conta Chaves.
Ainda segundo a professora, a
obra de Vieira é marcada por uma
reinvenção lingüística, de forte
identidade angolana. Sua literatura também tem ecos da prosa brasileira, sustenta Chaves.
"Ele foi um escritor atento às
obras de Guimarães Rosa e Jorge
Amado e afirma que se sentiu autorizado a escrever após ler "Sagarana" na prisão. Em sua obra se vê
muitas semelhanças com a literatura de Rosa", avalia Chaves.
Publicado em Portugal pela editora Caminho, Vieira lançou em
2003 o seu último livro, "Nosso
Musseque", e prepara atualmente
o segundo romance de sua trilogia "De Rios Velhos e Guerrilheiros", cuja primeira parte sai até o
fim deste ano em Portugal.
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