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Para Padilha, "Garapa" fala de ausência
Documentário sobre a fome teve pré-estreia anteontem, seguida de debate, e entra em cartaz no dia 29
FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para o jornalista Gilberto Dimenstein, "é quase um "Big
Brother" da miséria". Para o cineasta José Padilha, "é a fome
do ponto de vista de quem lida
com ela". As classificações para
"Garapa" surgiram no debate
promovido anteontem pela Folha e pelo Cine Bombril, após
exibição do documentário, que
estreia no próximo dia 29.
O novo filme de Padilha após
"Tropa de Elite" segue três famílias no Ceará que passam fome -situação em que, segundo
a ONU, vivem mais de 960 milhões de pessoas no mundo.
Padilha argumentou que,
apesar de o documentário não
ter valor estatístico, reúne valores universais, como o fato de a
mulher ser o esteio da família
em situação de insegurança alimentar grave e de o alcoolismo
predominar entre os homens
desses grupos.
A compra de alimentos altamente calóricos e baratos, como a garapa (bebida feita de
água quente e açúcar para as
crianças), também se repete.
""Garapa" é um filme sobre
três famílias. Porém, eu arrisco
falar que, dos filmes que eu fiz,
é o mais universal deles", disse.
Também participou do bate-papo com os cerca de 250 espectadores Francisco Menezes, do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), ONG criada por Betinho e que auxiliou Padilha no
começo da produção, em 2005.
Para ele, o filme é fundamental para ampliar o debate sobre
a fome e fazer uma revisão de
como se entende o problema
no Brasil. No filme, uma mulher gorda tem filhos subnutridos, embora o fato de ela estar
acima do peso não a excluir da
desnutrição, disse Menezes.
Para Dimenstein, membro
do Conselho Editorial da Folha, o documentário em preto e
branco é muito mais violento
que "Tropa de Elite". "A violência desse filme me incomodou
500 vezes mais do que aquela
outra violência", disse.
O diretor falou de suas escolhas para realizar a obra sem
cores, sem música, sem zoom.
"Esse filme é sobre a ausência",
disse. "A família sente falta não
só de comida. Não tem roupa,
não tem remédio, não tem diversão, não tem projeto."
Padilha contou que chegou a
dar remédios às famílias e levar
uma criança ao dentista durante as filmagens, apesar de não
ter registrado tudo. Hoje, ele e o
produtor do filme, Marcos Prado, enviam dinheiro aos pais.
"Eu não podia dar comida
[...], senão eu não conseguia fazer o filme que fiz. Mas eu sabia
que eles não iam morrer de fome [...]. E eu sabia que no final
eu ia poder ajudar."
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