São Paulo, quarta, 20 de maio de 1998

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MANGUE BEAT
Nação Zumbi homenageia Chico Science

Ernesto Rodrigues/Folha Imagem
O grupo pernambucano Nação Zumbi, que está lançando o álbum duplo "CSNZ", que inclui os CDs "Dia" e "Noite"


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

A Nação Zumbi ainda vive -mas, por enquanto, para homenagear seu ex-líder, Chico Science (1967-1997). O álbum duplo "CSNZ", terceiro da discografia dos pernambucanos Chico Science & Nação Zumbi, dilui quatro faixas inéditas da Nação pós-CS em farto material ainda gravado por Chico.
Inéditas mesmo, só as quatro faixas mais o interlúdio "Interlude Cien-Zia", que faz a transição, no CD 1 (chamado "Dia"), para cinco faixas gravadas ao vivo pelo CSNZ em Recife, na edição 96 do festival Abril pro Rock.
No mais, os cariocas do Planet Hemp fecham o CD 1 com uma releitura de "Samba Makossa"; o CD 2, "Noite", é tomado por dez remixes de canções do repertório da banda, por nomes como Mario Caldato (produtor dos Beastie Boys), Soul Slinger, Mad Professor, Apollo 9, David Byrne e Arto Lindsay; e fecha o projeto "Chico - Death of a Rockstar", a faixa-homenagem lançada pelo inglês Goldie e seu disco do ano passado.
"O CD é completamente uma homenagem a Chico", define o guitarrista Lucio Maia. "Nem ia ter as faixas inéditas, foi só depois de um tempo que começamos a pensar nelas", completa o vocalista e percussionista Jorge Du Peixe.
Entre as inéditas, há "Malungo", que recebe como letristas adicionais Fred Zero Quatro (líder do Mundo Livre S/A), Marcelo D2 (do Planet Hemp) e Falcão (d'O Rappa). Os três e mais Jorge Ben Jor participam da faixa como vocalistas. "Convidamos Jorge Ben, não Jorge Ben Jor. Ele cantou de um jeito que não cantava há muito tempo", define Du Peixe.
A banda admite que foi penosa a volta à composição, estúdio e palco após a morte de Science. "Só fomos gravar nossas primeiras músicas sem ele em agosto de 97. Nem íamos trabalhar esse disco, mas acabamos pegando pique de ensaio, conseguimos preparar um show inteiro", diz Maia.
Todos afirmam que a morte de Science não colocou em risco a vida da banda. "A galera falou que ia acabar, a gente não", diz o vocalista e percussionista Gilmar Bola Oito. "Nós nem chegamos a conversar sobre isso", completa Maia.
"CSNZ" é, segundo eles, um disco de "aquecimento", e não o primeiro da Nação Zumbi sem Science. "Ninguém pode julgar como a Nação está por este CD. É um disco de fase, para depois chegar ao álbum da Nação Zumbi. Esperamos fazer esse disco logo, não queremos esperar", afirma Maia.
O longo aquecimento não significa, para eles, insegurança em encarar o pós-CS. "Já temos o quarto disco pronto", protesta o baterista Pupillo. "Essas faixas do disco não determinam nossa nova fase, só vão sacar como é quando forem ao show."
"Era preciso fazer com calma, não dá pra entrar no palco sem estar pronto", emenda Maia.
A Nação afirma que não há o medo de acusações de oportunismo, que não raro cercam lançamentos póstumos. "Nunca chegamos com uma coisa banal, uma coisa qualquer. O disco de remixes é um projeto inédito no Brasil", afirma Maia. "Podíamos ter lançado o disco logo que ele morreu, aí sim seria oportunismo", diz o baixista Djengue.
A Nação fala, por fim, da falta que Chico faz. "Ele era pilhado, funcionava 24 horas por dia, isso faz falta", diz Du Peixe. "Ele era o mais desinibido, é o que estamos tentando aprender a ser agora", continua Pupillo. "Vejo as coisas novas, o DJ Spooky tocando com a gente, fico pensando que ele ia gostar para caralho", finaliza Gilmar.



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