São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Cinema/estréia

Hollywood aproxima atores brasileiros

Rodrigo Santoro e Alice Braga atuam juntos pela 1ª vez em longa americano

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Os atores Rodrigo Santoro e Alice Braga na última terça, em São Paulo

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi em Hollywood que as carreiras dos atores brasileiros Rodrigo Santoro e Alice Braga se cruzaram pela primeira vez.
Em "Cinturão Vermelho", de David Mamet, que estréia hoje no país, eles interpretam os irmãos Bruno e Sondra.
No filme, os dois são brasileiros vivendo e trabalhando (legalmente) nos EUA e se ajustam às regras do business.
Ela tem seu próprio negócio, de venda de tecidos, e tenta impulsionar o marido norte-americano, Mike Terry -vivido pelo inglês Chiwetel Ejiofor, protagonista do longa-, a transformar em dinheiro seu talento com as artes marciais.
Bruno, por sua vez, busca vender como um show de entretenimento na TV americana as habilidades de seu irmão Augusto Silva (John Machado), ás do jiu-jítsu no Brasil.
Em suma, nem Bruno nem Sondra correspondem ao estereótipo do personagem latino -criminoso ou pobre-coitado imigrante ilegal- comum em filmes norte-americanos.
"Há cinco anos, na primeira vez que tive contato com o mercado externo do cinema, a realidade era uma. Hoje, está muito diferente, muito mais aberta [ao estrangeiro]", avalia Santoro. Em 2003, ele atuou no ligeiro "As Panteras Detonando" e na comédia romântica "Simplesmente Amor".

Aventuras
É como "uma aventura" que Santoro avalia suas primeiras experiências profissionais fora do Brasil. "Eu estava tocando de ouvido, sentindo a situação, viajando, conhecendo culturas diferentes e aproveitando isso tudo para a minha própria experiência de vida", diz ele.
Quando filmou "Cinturão Vermelho", com Mamet, e o épico "Che", com Steven Soderbergh, no ano passado, o ator passou a ver Hollywood de modo menos aventureiro.
"Trabalhar com os dois me deu incentivo para tentar buscar lá fora também esse tipo de experiência -de coisas que me satisfazem artisticamente", diz.
Pelo escritor e diretor Mamet, Santoro cultiva uma admiração antiga. Vem desde que leu "True and False: Heresy and Common Sense for the Actor" (falso e verdadeiro: heresia e senso comum para o ator), de 1997, e achou "fascinante" o modo como Mamet questiona um pressuposto de muitos atores -Santoro inclusive- na eficácia do método de interpretação proposto por Stanislavski.
Quando convidado a fazer um teste para "Cinturão Vermelho", o ator achou que a prova valeria por si só, ou melhor, pela oportunidade de conhecer Mamet pessoalmente, ainda que o diretor não o escolhesse para o papel.
Na hora H de ler o roteiro com Mamet, Santoro buscou "estar confortável na situação de desconforto" e lembrar-se de que "o teste depende de como você o encara". Venceu-o.

Êxtase
Aproximar-se de seus ídolos em Hollywood tem sido uma experiência cada vez mais corriqueira também na vida de Alice Braga. Antes de "Cinturão Vermelho", ela dividiu com Will Smith os créditos de "Eu Sou a Lenda". Depois, filmou os ainda inéditos "Repossession Mambo", com Jude Law e Forest Whitaker, e "Crossing Over", com Harrison Ford e Sean Penn.
"A possibilidade de trabalhar com esses atores foi muito rica. Sean Penn sempre foi uma referência para mim. Continua sendo. Na semana que passei com ele na caçamba de um carro, fazendo uma cena em que éramos só eu e ele, olhando um no olho do outro, juro por Deus, eu saía todo dia do set em êxtase", conta ela.
Em comum com Santoro, Alice tem ainda a opinião de que "Hollywood está mais aberta para o estrangeiro, para o que o ator vai trazer, com interesse no ser humano, e não em saber de onde ele vem, qual é o seu sotaque específico".
No caso dela, "os personagens que foram pintando foram diferentes do estereótipo da latina, que seria o clássico shortinho, roupa justa".

The book is...
Para os dois, atuar em inglês é um desafio. "E sempre vai ser, porque não está no DNA. Ainda mais quando você não aprende desde criança", diz Santoro.
"Eu fui aprender a falar inglês com 27 anos. Sabia "The book is on the table" e "Where is the restroom" [onde fica o banheiro?], para não fazer xixi na calça. Hoje em dia tenho mais fluência pela prática e por ter metido a cara para estudar."
Para Alice, "não tem isso de fiz um [filme em inglês], faço 20". Mas ela diz que "é um desafio, prazeroso e instigante de seguir, porque é interessante conhecer outra língua, a maneira que se fala, onde vai a ênfase em cada palavra e fazer aquilo ser seu".


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