São Paulo, domingo, 20 de junho de 2010

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TV chega à era 3D com programas do arco da velha

Raul Gil, 72, e Inezita Barroso, 85, comemoram neste mês a sobrevivência no ar com sucesso há décadas

LAURA MATTOS
DE SÃO PAULO

O telespectador investe em um televisor bem bacana, desses fininhos, alta definição, alguns até com 3D.
Liga o controle remoto cheio de botões, e lá está, com imagem de cinema, Inezita Barroso, 85, cantando "lampião de gás/ lampião de gás/ quanta saudade você me traz", gravada em 1958.
Nesta semana, em São Paulo, dois eventos mostraram que o chamado "televisor do futuro" leva ao ar alguns dos mesmos programas veiculados desde os tempos em que se usava palha de aço na antena para melhorar a imagem preta e branca.
Na quarta-feira, Raul Gil, 72, recebeu jornalistas em um restaurante de São Paulo para falar sobre sua troca de canal, da Band para o SBT.
No ar há mais de 40 anos, ele ocupará quase cinco horas das tardes de sábado (das 14h15 às 17h), com seu microfone de ouro e velhos quadros, como o do chapéu e o show de talentos mirins.
No mesmo dia, à tarde, Inezita Barroso gravou no Auditório Ibirapuera o especial dos 30 anos do "Viola, Minha Viola", da TV Cultura.
Pelo palco passaram várias duplas caipiras com mais de 60 anos de carreira.
O "Viola" é um dos programas com maior audiência da emissora pública e já levou ao ar 1.400 edições, com o mesmíssimo formato com o qual foi lançado, em 1980.

BORRACHA NA HISTÓRIA
Por mais que novas mídias e tecnologias apareçam sem parar, não há ainda muita saída para os conteúdos de massa, além dos gêneros tradicionais, na avaliação do sociólogo Sérgio Miceli.
"A maior parte do conteúdo que circula na internet é reciclagem da produção de televisão e da própria imprensa. Não há como fazer uma triagem na qual os personagens antigos estejam excluídos", diz o professor da Universidade de São Paulo.
Miceli é autor de "A Noite da Madrinha", conceituado ensaio da década de 70 sobre o sucesso de Hebe Camargo e o poder da TV no Brasil.
Hebe, claro, é outro exemplo de sobrevivência dos velhos formatos na nova TV. "Não há como passar uma borracha na história, começar do zero. Essas pessoas se tornaram personagens com autenticidade, são referências históricas de apresentadores", avalia Miceli.
Ele menciona outro resgate histórico recente da televisão. "A minissérie de Dalva de Oliveira na Globo foi um sucesso, apesar de tudo aquilo ser hoje obsoleto. Quem sabe o que é intriga entre as estrelas de rádio? Nada mais daquilo existe", afirma.
Apesar disso, Miceli adverte que o conteúdo televisivo está em processo de declínio. "Outro dia estava vendo novela pela internet. Ela fica chapada naquela telinha. É claro que aquela produção está muito mais próxima do teatro e do cinema do que da internet", ressalta.

RAUL NO TWITTER
Raul Gil e Inezita podem não estar diretamente preocupados com esse anacronismo, mas suas equipes estão.
Diretor do programa do pai, Raul Gil Jr. criou um twitter para a atração e orientou os jurados do programa a fazerem o mesmo. "Meu filho vê twitter até no celular. E ele vem me mostrar o que estão falando", conta Raul.
"Eu tento colocar o programa na atualidade, até falo para o meu pai usar menos gravata, colocar calça jeans. Ele às vezes concorda, mas não pode ficar falso", diz Jr.
Diretor do "Viola", Maurício Valim convenceu Inezita a gravar áudios para o seu site. "Estamos também digitalizando todo o acervo dela. Mas para o nosso público isso ainda não faz diferença. A televisão está em 96% das casas do país, a internet está chegando a 40%", pondera.


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