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TV chega à era 3D com programas do arco da velha
Raul Gil, 72, e Inezita Barroso, 85, comemoram neste mês a sobrevivência no ar com sucesso há décadas
LAURA MATTOS
DE SÃO PAULO
O telespectador investe em
um televisor bem bacana,
desses fininhos, alta definição, alguns até com 3D.
Liga o controle remoto
cheio de botões, e lá está,
com imagem de cinema, Inezita Barroso, 85, cantando
"lampião de gás/ lampião de
gás/ quanta saudade você
me traz", gravada em 1958.
Nesta semana, em São
Paulo, dois eventos mostraram que o chamado "televisor do futuro" leva ao ar alguns dos mesmos programas
veiculados desde os tempos
em que se usava palha de aço
na antena para melhorar a
imagem preta e branca.
Na quarta-feira, Raul Gil,
72, recebeu jornalistas em
um restaurante de São Paulo
para falar sobre sua troca de
canal, da Band para o SBT.
No ar há mais de 40 anos,
ele ocupará quase cinco horas das tardes de sábado (das
14h15 às 17h), com seu microfone de ouro e velhos quadros, como o do chapéu e o
show de talentos mirins.
No mesmo dia, à tarde,
Inezita Barroso gravou no
Auditório Ibirapuera o especial dos 30 anos do "Viola,
Minha Viola", da TV Cultura.
Pelo palco passaram várias duplas caipiras com
mais de 60 anos de carreira.
O "Viola" é um dos programas com maior audiência da
emissora pública e já levou
ao ar 1.400 edições, com o
mesmíssimo formato com o
qual foi lançado, em 1980.
BORRACHA NA HISTÓRIA
Por mais que novas mídias
e tecnologias apareçam sem
parar, não há ainda muita
saída para os conteúdos de
massa, além dos gêneros tradicionais, na avaliação do sociólogo Sérgio Miceli.
"A maior parte do conteúdo que circula na internet é
reciclagem da produção de
televisão e da própria imprensa. Não há como fazer
uma triagem na qual os personagens antigos estejam excluídos", diz o professor da
Universidade de São Paulo.
Miceli é autor de "A Noite
da Madrinha", conceituado
ensaio da década de 70 sobre
o sucesso de Hebe Camargo e
o poder da TV no Brasil.
Hebe, claro, é outro exemplo de sobrevivência dos velhos formatos na nova TV.
"Não há como passar uma
borracha na história, começar do zero. Essas pessoas se
tornaram personagens com
autenticidade, são referências históricas de apresentadores", avalia Miceli.
Ele menciona outro resgate histórico recente da televisão. "A minissérie de Dalva
de Oliveira na Globo foi um
sucesso, apesar de tudo aquilo ser hoje obsoleto. Quem
sabe o que é intriga entre as
estrelas de rádio? Nada mais
daquilo existe", afirma.
Apesar disso, Miceli adverte que o conteúdo televisivo
está em processo de declínio.
"Outro dia estava vendo novela pela internet. Ela fica
chapada naquela telinha. É
claro que aquela produção
está muito mais próxima do
teatro e do cinema do que da
internet", ressalta.
RAUL NO TWITTER
Raul Gil e Inezita podem
não estar diretamente preocupados com esse anacronismo, mas suas equipes estão.
Diretor do programa do
pai, Raul Gil Jr. criou um twitter para a atração e orientou
os jurados do programa a fazerem o mesmo. "Meu filho
vê twitter até no celular. E ele
vem me mostrar o que estão
falando", conta Raul.
"Eu tento colocar o programa na atualidade, até falo
para o meu pai usar menos
gravata, colocar calça jeans.
Ele às vezes concorda, mas
não pode ficar falso", diz Jr.
Diretor do "Viola", Maurício Valim convenceu Inezita
a gravar áudios para o seu site. "Estamos também digitalizando todo o acervo dela.
Mas para o nosso público isso ainda não faz diferença. A
televisão está em 96% das casas do país, a internet está
chegando a 40%", pondera.
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