São Paulo, domingo, 20 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China tenta emplacar megaprodução

Magnata produz filme de maior orçamento da história do cinema do país, ao custo de US$ 100 milhões até agora

Produção, prevista para 2011, mistura "Avatar" com "Gladiador", mas sofre com 40 versões de roteiro e troca de diretor

EDWARD WONG
XIYUN YANG
DO "NEW YORK TIMES", EM HUAIROU

O filme tem guerreiros da antiguidade chinesa, piratas, reinos submarinos, um vilão chamado Mago Demônio e sereias que matam os homens durante o ato sexual.
Há também uma "Bond girl" sensual no papel da rainha sereia. A maioria dos atores é americana, e as câmeras usam tecnologia 3D.
Mas "Empires of the Deep" (impérios das profundezas) não é uma fantasia de Hollywood: está sendo concebido e rodado no maior estúdio de cinema do mundo, em Huairou, ao norte de Pequim.
Espécie de cruzamento entre "Avatar", "Gladiador" e "Piratas do Caribe", tudo misturado em um caldeirão chinês, o filme é fruto da visão de um magnata imobiliário obcecado por cinema: Jon Jiang, 40, listado pela "Forbes" em 2002 como um dos homens mais ricos da China.
É também o maior esforço já empreendido para firmar o país como força na produção cinematográfica mundial.
Se Jiang alcançar seu intento, "Empires of the Deep" pode atrair ao país cineastas internacionais para rodar filmes com aparência de Hollywood, mas feitos com os custos e mão de obra chineses.
Os produtores dizem que o orçamento de "Empire" é de US$ 100 milhões, menos que os blockbusters de Hollywood, mas o maior de qualquer filme chinês feito até hoje. Os atores vêm dos Estados Unidos, Brasil, França, Japão e outros países; o roteiro, de Jiang, já passou por 40 versões com a ajuda de dez roteiristas de Hollywood.

PROVAÇÕES
Existe, é claro, o risco de que "Empires", previsto para estrear em meados de 2011, vire o maior fracasso do cinema chinês.
Um diretor francês (Pitot) e dois norte-americanos (Jonathan Lawrence e Michael French) já desistiram do projeto, que já tem seu quarto diretor (Scott Miller). E o orçamento dobrou em relação aos US$ 50 milhões iniciais.
Jiang fez pouco caso das provações enfrentadas pelo projeto. Sem nenhuma experiência anterior em produção, ele se compara não a cineastas chineses como Zhang Yimou, mas a George Lucas, James Cameron e Peter Jackson.
"Sou um produtor internacional", disse ele. "Não conheço o jeito chinês de contar histórias." O primeiro filme de um cineasta da China continental a ter tido apelo global foi "Herói", de Zhang Yimou, que rendeu US$ 177 milhões em todo o mundo. Nenhum outro filme de um diretor chinês continental superou seus lucros internacionais.
Para Jiang, embora Zhang e outros chineses de sucesso façam filmes competentes, eles limitaram o setor ao usarem atores e tramas chineses. "Eles não estão qualificados para meus filmes", disse.
Na China, os nomes de marca ocidentais ainda são os mais valorizados também no setor cinematográfico. Os criadores de "Empires" afirmam que o filme é uma coprodução com uma companhia de Hollywood, a E-magine Studios -que pertence a Jiang e seus amigos. Outro grande investidor tem sede na Província de Zhejiang.
Para ajudar a abrir mercados internacionais, os produtores estão contratando estrangeiros. A maior estrela do filme -no papel da rainha sereia- é Olga Kurylenko, a ucraniana de "007 -Quantum of Solace" (Jiang queria Monica Bellucci ou Sharon Stone, que recusaram).
"Se o filme parecer que foi produzido com US$100 milhões, começará a atrair mais coproduções reais para cá, não apenas parceiras que sejam empresas de fachada com sede em Los Angeles", disse Jonathan Landreth, correspondente na China do "The Hollywood Reporter".

CENSURA
Por insistência do governo, os produtores de "Empires" tiveram de acrescentar uma corrida do povo-dragão e convocar um importante ator chinês, Hu Jun, para o filme. Tais cenas devem aparecer apenas na versão lançada na China.
Entre outros problemas durante meio ano de produção, houve cronogramas de filmagens desrespeitados, atrasos de pagamentos e diretores que se irritaram e deixaram o projeto. Jiang admitiu que algumas pessoas estão recebendo com atraso em razão de "problemas de liquidez".
Em seu escritório em Pequim, onde dezenas de chineses trabalham em cubículos criando imagens computadorizadas, uma lousa apresenta um cronograma informal do projeto. Três itens revelam suas ambições: "Quantos dias faltam para Monica Bellucci comparecer ao set. Quantos dias faltam para o Festival de Cannes. Quantos dias faltam para a grande première".
Não há nada anotado ao lado de cada item.

Tradução de CLARA ALLAIN


Texto Anterior: Raio-x: Inezita Barboso
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.