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China tenta emplacar megaprodução
Magnata produz filme de maior orçamento da história do cinema do país, ao custo de US$ 100 milhões até agora
Produção, prevista para 2011, mistura "Avatar" com "Gladiador", mas sofre com 40 versões de roteiro e troca de diretor
EDWARD WONG
XIYUN YANG
DO "NEW YORK TIMES", EM HUAIROU
O filme tem guerreiros da
antiguidade chinesa, piratas,
reinos submarinos, um vilão
chamado Mago Demônio e
sereias que matam os homens durante o ato sexual.
Há também uma "Bond
girl" sensual no papel da rainha sereia. A maioria dos
atores é americana, e as câmeras usam tecnologia 3D.
Mas "Empires of the Deep"
(impérios das profundezas)
não é uma fantasia de Hollywood: está sendo concebido
e rodado no maior estúdio de
cinema do mundo, em Huairou, ao norte de Pequim.
Espécie de cruzamento entre "Avatar", "Gladiador" e
"Piratas do Caribe", tudo
misturado em um caldeirão
chinês, o filme é fruto da visão de um magnata imobiliário obcecado por cinema: Jon
Jiang, 40, listado pela "Forbes" em 2002 como um dos
homens mais ricos da China.
É também o maior esforço
já empreendido para firmar o
país como força na produção
cinematográfica mundial.
Se Jiang alcançar seu intento, "Empires of the Deep"
pode atrair ao país cineastas
internacionais para rodar filmes com aparência de Hollywood, mas feitos com os custos e mão de obra chineses.
Os produtores dizem que o
orçamento de "Empire" é de
US$ 100 milhões, menos que
os blockbusters de Hollywood, mas o maior de qualquer filme chinês feito até hoje. Os atores vêm dos Estados
Unidos, Brasil, França, Japão
e outros países; o roteiro, de
Jiang, já passou por 40 versões com a ajuda de dez roteiristas de Hollywood.
PROVAÇÕES
Existe, é claro, o risco de
que "Empires", previsto para
estrear em meados de 2011,
vire o maior fracasso do cinema chinês.
Um diretor francês (Pitot) e
dois norte-americanos (Jonathan Lawrence e Michael
French) já desistiram do projeto, que já tem seu quarto diretor (Scott Miller). E o orçamento dobrou em relação
aos US$ 50 milhões iniciais.
Jiang fez pouco caso das
provações enfrentadas pelo
projeto. Sem nenhuma experiência anterior em produção, ele se compara não a cineastas chineses como
Zhang Yimou, mas a George
Lucas, James Cameron e Peter Jackson.
"Sou um produtor internacional", disse ele. "Não conheço o jeito chinês de contar histórias."
O primeiro filme de um cineasta da China continental
a ter tido apelo global foi
"Herói", de Zhang Yimou,
que rendeu US$ 177 milhões
em todo o mundo. Nenhum
outro filme de um diretor chinês continental superou seus
lucros internacionais.
Para Jiang, embora Zhang
e outros chineses de sucesso
façam filmes competentes,
eles limitaram o setor ao usarem atores e tramas chineses.
"Eles não estão qualificados
para meus filmes", disse.
Na China, os nomes de
marca ocidentais ainda são
os mais valorizados também
no setor cinematográfico. Os
criadores de "Empires" afirmam que o filme é uma coprodução com uma companhia de Hollywood, a E-magine Studios -que pertence
a Jiang e seus amigos. Outro
grande investidor tem sede
na Província de Zhejiang.
Para ajudar a abrir mercados internacionais, os produtores estão contratando estrangeiros. A maior estrela do
filme -no papel da rainha
sereia- é Olga Kurylenko, a
ucraniana de "007 -Quantum of Solace" (Jiang queria
Monica Bellucci ou Sharon
Stone, que recusaram).
"Se o filme parecer que foi
produzido com US$100 milhões, começará a atrair mais
coproduções reais para cá,
não apenas parceiras que sejam empresas de fachada
com sede em Los Angeles",
disse Jonathan Landreth,
correspondente na China do
"The Hollywood Reporter".
CENSURA
Por insistência do governo, os produtores de "Empires" tiveram de acrescentar
uma corrida do povo-dragão
e convocar um importante
ator chinês, Hu Jun, para o
filme. Tais cenas devem aparecer apenas na versão lançada na China.
Entre outros problemas
durante meio ano de produção, houve cronogramas de
filmagens desrespeitados,
atrasos de pagamentos e diretores que se irritaram e deixaram o projeto.
Jiang admitiu que algumas pessoas estão recebendo com atraso em razão de
"problemas de liquidez".
Em seu escritório em Pequim, onde dezenas de chineses trabalham em cubículos criando imagens computadorizadas, uma lousa apresenta um cronograma informal do projeto.
Três itens revelam suas
ambições: "Quantos dias faltam para Monica Bellucci
comparecer ao set. Quantos
dias faltam para o Festival de
Cannes. Quantos dias faltam
para a grande première".
Não há nada anotado ao
lado de cada item.
Tradução de CLARA ALLAIN
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