São Paulo, sábado, 20 de junho de 1998

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Nossa melhor amiga

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Com o perdão de todos os terriers do mundo, a encantadora Glorinha Kalil é a melhor amiga do homem. Com seu manual de estilo "Chic Homem", ela tranca em casa todas as palpiteiras que sempre quiseram impor seu gosto às roupas do marido.
Com o livro da Glorinha, os homens vão ficar sabendo de tudo. Inclusive o que é "chambray", uma mescla de fio de algodão, ideal para quem só gosta de camisas azuis. Glorinha Kalil quer os homens sempre em roupas muito confortáveis em sua elegância. Autoriza, como a santa Kalil dos trópicos, o uso dos tão queridos bermudões, com camisa pólo, em que a fralda de trás é mais comprida que a da frente.
Seguindo a linguagem corrente do país, ela chama de blazer até aqueles paletós de lã, sem botões de metal. Enquanto, no que só pode ser idiossincrasia, aconselha que sejam foscos os botões dourados dos únicos paletós que merecem o nome de blazer.
O manual "Chic" acompanha o homem em todas as ocasiões. Não só nas festas em que se usa o "summer jacket" como também na aparência mais adequada para um homem no difícil momento de uma entrevista com um possível empregador. Limpo e bem cuidado, o candidato só precisa se vestir de acordo com o cargo que deseja.
Nunca deixe de ler o que a autora desaconselha com a palavra "evite". Na lista, estão os alçapões mais terríveis em que se pode cair. Glória Kalil não está com pena dos carecas, quando diz que as mulheres não ligam para essa ausência de cabelos. Ela não quer enganar ninguém. Os barrigudos logo descobrem isso. São destroçados de tal maneira que, antes da primeira segunda-feira, estão fazendo regime ou exercícios apenas adequados. Ser barrigudo é horrível, mas a correção não está na chibata.
Foi bom saber que Glória Kalil tem ótima opinião das parkas e quimonos. Surpreendente a revelação de que a rua, agora, manda na moda. Mas não é que é isso mesmo? Os ricos procuram o Giorgio Armani. Os pobres invadem, em quase todas as cidades do mundo, o Empório Armani. Isso é que é revolução.
Casar? Nunca mais. Glorinha ensina o que se põe na mala, de acordo com a ocasião. E também nos nécessaires. O das viagens e aquele que se guarda no escritório. Além disso, lembra da necessidade de cuidar da hidratação da pele com os hidratantes e com uma profissional limpeza de pele. Já que se está num salão, ela diz que mulher detesta brilho nas unhas das mãos dos homens. É claro que homem já sabia disso e também detesta.
Glória Kalil é tão prática que ensina também como se dá nó em gravata. Podia ter omitido o laço Windsor. Só ficava bem no pescoço do duque que o inventou. É muita intromissão? Esperem para ler a lista de tudo o que as mulheres odeiam num homem. Tirando aquela história da tampa do vaso e do saco, são praticamente as mesmas coisas que os homens odeiam nas mulheres.
Por falar nisso, as mulheres, depois desse livro, vão também odiar a Glória Kalil. Os homens vão adorá-la ainda mais. Aquela ridicularização das constantes invasões dos sucos nas refeições é uma vingança adorável. Como tudo, na adorável Glória Kalil.



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