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Amigos e fãs se despedem de Raul Cortez
Ator, que morreu de câncer na terça, foi velado no Municipal; cinzas serão jogadas em sítio da família no interior de SP
Cerca de 10 mil
admiradores, incluindo
amigos como Paulo Autran
e José Serra, foram prestar homenagem ao ator
DA REPORTAGEM LOCAL
Às 7h30 de ontem, o ator
Paulo Cesar Pereio observava o
caixão disposto no saguão do
Teatro Municipal de São Paulo
e se debatia com "um paradoxo": "Tenho vontade de dizer o
que o [presidente dos EUA
George W.] Bush disse para [o
premiê britânico Tony] Blair".
A palavra é "merda". Ocorre
que "no teatro essa é uma expressão de boa sorte", e Pereio
ficou em dúvida se era adequada para a despedida do ator
Raul Cortez, o "amigo de 40
anos", que morreu na noite de
terça, de câncer.
"Há certas doenças contra as
quais não adianta querer lutar.
Mas ele resistiu ao máximo",
observou o ator Paulo Autran,
que chegou ao velório às 12h15,
minutos depois de Pereio e das
centenas de presentes terem
encontrado o gesto exato para
simbolizar seu adeus a Cortez
-uma longa salva de palmas.
Os aplausos vieram depois
que 96 vozes do coro do teatro,
regidas por Mário Zaccaro, interpretaram trecho da ópera
"Nabuco", de Verdi. "É um hino
de libertação", disse o diretor
artístico Jamil Maluf, explicando a escolha da peça.
Foi o momento que mais
emocionou a irmã do ator, Lúcia Cortez, as filhas dele, Maria
e Lígia Cortez (que prepara um
livro sobre o pai), e amigos, como a atriz Maria Fernanda
Cândido.
Nessa hora, do lado de fora
do teatro, estimadas 5.000 pessoas aguardavam a abertura
dos portões à população. Maria
Aparecida Marques de Siqueira, 73, era a primeira da fila. Tomou seu lugar às 8h. "Não o conhecia pessoalmente, mas senti tanto a morte dele", disse.
Quando soube que, a pedido
de Cortez, seu caixão permaneceria fechado, dona Maria Aparecida lamentou: "Que pena.
Mas o importante é que eu vim.
O que vale é a intenção".
Integrante da legião de fãs do
ator, Maria de Fátima Cardoso
Santana, 50, que escapuliu do
trabalho no comércio na rua 25
de Março para homenagear
Cortez, concordou com a decisão do ator. "Quando morrer,
também não quero que vejam
meu rosto pálido", afirmou.
Santo Amaro
O caixão foi coberto com uma
bandeira do Estado de São Paulo. "Era um paulistano, de Santo Amaro, zona sul", destacou o
prefeito Gilberto Kassab, que
assistiu à missa de corpo presente, em que o padre pediu a
Deus: "Abri para ele as portas
do Paraíso e a nós, que ficamos,
concedei que nos consolemos
uns aos outros".
Ao lado de Kassab estavam o
secretário das Subprefeituras,
Andrea Matarazzo, o senador
Eduardo Suplicy (PT-SP), os
secretários da Cultura do município, Carlos Calil, e do Estado, João Batista de Andrade.
O candidato do PSDB ao governo do Estado, José Serra, foi
durante a tarde ao velório do
amigo que viu atuar pela primeira vez no teatro Oficina em
"Os Pequenos Burgueses"
(1963), peça de Gorki.
"Será nossa primeira campanha majoritária sem almoço na
casa do Raul. Eu o visitei quando foi operado no Sírio-Libanês, em 2004. Levei o livro do
[Gabriel] García Márquez que
havia acabado de sair, o "Memórias de Minhas Putas Tristes", e até sugeri a ele uma adaptação teatral", disse.
O governador Cláudio Lembo (PFL) ficou menos de 15 minutos no local, o suficiente para
se desentender com uma fã de
Cortez (leia no caderno Brasil,
na pág. A5). Sobre o ator, disse:
"Tenho a imagem positiva de
alguém que vibrava, que queria
bem ao Brasil e, acima de tudo,
representava muito bem".
O ator e secretário da Identidade e da Diversidade Cultural
do Ministério da Cultura, Sérgio Mamberti, amigo de Cortez, representava o ministro
Gilberto Gil, que está na França. Em nota, Gil lamentou a
morte do ator e afirmou que
"as centenas de personagens
interpretadas por ele são o testemunho de quanto um profissional pode ser dedicado, delirante, sério e múltiplo".
Até as 16h44, quando o corpo
seguiu em carro do Corpo de
Bombeiros para uma cerimônia privada de cremação no cemitério da Vila Alpina, multiplicaram-se não só as visitas de
autoridades ao velório mas
também de anônimos (10 mil é
a estimativa final da Guarda Civil Metropolitana), e de atores
e diretores, como Dan Stulbach, Denise Fraga, Juca de
Oliveira, Antonio Petrin, Marilia Gabriela, Betty Faria, Luiz
Fernando Carvalho, Silvio de
Abreu, Antunes Filho. Por decisão de Cortez, suas cinzas serão jogadas num sítio da família em Porto Feliz, no interior
paulista.
(SILVANA ARANTES E VALMIR SANTOS)
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