São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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MÚSICA

Bandas fogem do padrão com "rock matemático"

Grupos como Medications e Battles criam som complexo, dissonante... e ainda assim pop

Músicos consideram "pouco elegante" e sem sentido termo usado para classificar suas canções, que têm andamento não-linear

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

A música não é de fácil digestão, e o nome que deram a ela também não é dos mais convidativos. "Math rock", ou rock matemático, é como foram classificadas bandas como as norte-americanas Medications e Battles.
O termo "math rock" surgiu entre o final dos anos 80 e o começo dos 90, para tentar abarcar algumas bandas norte-americanas aparentemente inclassificáveis, que juntavam como influências compositores eruditos e free-jazz.
É um termo genérico, que reúne artistas cujas músicas fogem do padrão pop roqueiro -têm estrutura rítmica complexa, batidas dissonantes.
O músico paulista Marcelo Fusco ajuda a resolver essa equação: "Os músicos utilizam alguns truques", diz. "Não são canções cantaroláveis. Há uma estrofe, refrão, depois a próxima estrofe é completamente diferente da primeira. Se você tirar cada parte, desconstruir a música, verá que elas são até bem simples. Mas, ao juntar tudo, parecem complexas."
"O andamento não é linear, esses músicos trabalham bastante com o contratempo, a melodia é quebrada. As ba- ses da guitarra e o andamento da bateria correm em ritmos diferentes, e essa estrutura lembra uma fórmula matemática", completa.
Com um formato todo particular, é uma música de assimilação mais difícil do que o rock popular. Mas acaba cativando o ouvinte. Um exemplo é a canção "Atlas", do Battles.
A música acaba de ser lançada em single e pode ser ouvida no site www.myspace.com/battlestheband. Tem riffs quebrados de guitarra, teclados esquizofrênicos, vocal abstrato, mesmo assim é... pop.
O Battles lançou recentemente o seu primeiro álbum, "Mirrored", pelo selo inglês Warp -ainda não há previsão de lançamento no Brasil. A banda é formada por Tyondai Braxton (guitarra, teclado, vocal; filho do jazzista Anthony Braxton), Dave Konopka (guitarra, baixo), Ian Williams (guitarra, teclado) e John Stanier (bateria; ex-Helmet).

"Do coração"
Nenhum músico gosta de ter sua música categorizada. Sobre o termo math rock, Tyondai Braxton diz em entrevista à Folha, por e-mail: "Que música não utiliza matemática? Um termo original seria "rock não-matemático". Porque math rock não significa nada. É como dizer: "Meu favorito tipo de gelo é gelo gelado'".
"É música que vem do coração e não de algum lugar matemático", afirma Devin Ocampo, vocalista do trio Medications, de Washington. "Sim, é uma música que não se encaixa no padrão pop. Mas o termo não é muito elegante."
Banda com um disco lançado, "Your Favorite People All in One Place" (05), o Medications traz em seu rock influências diversas. Principalmente jazz. "Ouvimos rock clássico, folk, muitas coisas. E tudo isso está incorporado na música. Mas talvez o jazz seja um dos mais influentes, o que nos diferencia de outras bandas roqueiras."


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