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Festival de festivais
Com atrações que vão de robôs eletrônicos a produtores vanguardistas, como o americano Jason Forrest, uma série de eventos agita a área musical até o fim do ano
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
A temporada de festivais e
grandes shows que chegam ao
Brasil terá de robôs eletrônicos
que querem ser humanos a
quarentões com energia suficiente para levar guitarras e bateria à maior velocidade possível. De Daft Punk a Slayer. Tem
também dos roqueiros dançantes Franz Ferdinand ao hip hop
abstrato do DJ Shadow. Dos veteranos New Order ao RBD, recente fenômeno popular na
América Latina. No meio desse
monte de gente estranha entre
si, talvez ninguém seja tão estranho quanto Jason Forrest.
Forrest é chamado de artista
punk, mas é um punk diferente.
Ele é o "punk dos laptops".
Antes, para situar: o norte-americano Forrest estará na
edição carioca do Tim Festival,
que acontece na Marina da Glória, entre 27 e 29 de outubro.
Ele toca no palco dedicado à
música eletrônica, entre a noite
do dia 29 e a madrugada do dia
seguinte.
Então, um punk em noite de
eletrônica? Forrest explica:
"Shows com laptops normalmente são chatos, o artista fica
com os olhos grudados no computador e não interage com o
público. Tento fazer algo diferente. Eu canto, converso com
a audiência. Às vezes enlouqueço e pulo no meio da platéia".
Equipamentos quebrados,
sangue e contusões não são incomuns nos shows de Forrest.
Incomuns, também, não são as
lembranças de canções antigas
que temos ao ouvir sua música.
É que a matéria-prima principal das composições de Forrest são samples, pequenos pedaços de outras obras.
Por exemplo, uma das canções de seu último álbum,
"Shamelessly Exciting" (ainda
não lançado no Brasil), chama-se "My 36 Favorite Punk
Songs", feita, em seus 2 minutos e 20 segundos, com partes
das... 36 músicas punk favoritas
de Forrest -coisas de Ramones, Clash, Minor Threat...
Originalidade
Ao se utilizar de samples
-seja de Van Halen, seja de algum cantor obscuro de soul dos
anos 60-, Jason Forrest dá
uma alfinetada nas novas bandas roqueiras. "Toco em festivais com um monte dessas bandas novas e sinto que elas estão
apenas roubando. Eu uso samples, então entendo bem o que
é usar algo de outra pessoa. Mas
essas bandas pegam riffs e melodias de uma forma desinteressante, sem nenhuma criatividade", diz. "Um exemplo é o
Wolfmother. Já os vi tocando,
até gostei, mas cada música deles soava como uma cópia ruim
de uma canção dos anos 70."
Música visual
Jason Forrest gosta de falar
-afinal, não tem muita coisa a
perder ao entrar em polêmica
com bandas roqueiras mais conhecidas do que ele-, mas tenta justificar suas opiniões. Ter
sido artista plástico o ajuda.
"Na escola de arte eles te treinam a não deixar nada ao acaso,
você sempre deve explicar seu
trabalho, de onde veio. Essa
mentalidade está na música.
Encaro as letras como descrições de pinturas ou algo parecido. Algo que seja visual."
Seus discos não chegaram ao
Brasil, mas dá para tentar conhecer as músicas de Forrest
pela net; bom começo é o site
de seu selo (www.cockrockdisco.com) e sua página no
MySpace (www.myspace.com/jason-forrest).
Quando começou a lançar
suas produções, Forrest utilizava o apelido Donna Summer.
Mudou depois que a diva voltou a fazer shows pela Europa.
"Eu até me montava nos
shows, mas percebi que podia
ser uma distração. É melhor fazer como as bandas punks, aparecer no palco sem muitos enfeites e dar tudo de si."
Apesar desse espírito punk,
Forrest não se prende ao estilo
na hora de compor e de tocar
ao vivo com seu laptop. "Basicamente, cada sample é uma
unidade de informação, seja
um sample de heavy metal ou
de disco, mas claro que os significados são diferentes. Se utilizo um sample do Minor
Threat ou do Supertramp, há
diferentes emoções por trás
deles. É legal brincar com isso."
Em "Shamelessly Exciting",
o último disco, os samples têm
ficado menores. "Procurei colocar apenas uma nota ou acorde de guitarra, por exemplo,
então provavelmente você não
reconhecerá de onde eles vieram. Mas talvez eles te passem
uma idéia de onde vieram."
Apesar de utilizar a obra
alheia, Forrest diz que não tem
problemas com isso. "Nunca
fui processado. Talvez porque
eu use samples como homenagem a artistas que gosto. Eles
não vêem isso como insulto."
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