São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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Festival de festivais

Com atrações que vão de robôs eletrônicos a produtores vanguardistas, como o americano Jason Forrest, uma série de eventos agita a área musical até o fim do ano

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

A temporada de festivais e grandes shows que chegam ao Brasil terá de robôs eletrônicos que querem ser humanos a quarentões com energia suficiente para levar guitarras e bateria à maior velocidade possível. De Daft Punk a Slayer. Tem também dos roqueiros dançantes Franz Ferdinand ao hip hop abstrato do DJ Shadow. Dos veteranos New Order ao RBD, recente fenômeno popular na América Latina. No meio desse monte de gente estranha entre si, talvez ninguém seja tão estranho quanto Jason Forrest.
Forrest é chamado de artista punk, mas é um punk diferente. Ele é o "punk dos laptops".
Antes, para situar: o norte-americano Forrest estará na edição carioca do Tim Festival, que acontece na Marina da Glória, entre 27 e 29 de outubro. Ele toca no palco dedicado à música eletrônica, entre a noite do dia 29 e a madrugada do dia seguinte.
Então, um punk em noite de eletrônica? Forrest explica: "Shows com laptops normalmente são chatos, o artista fica com os olhos grudados no computador e não interage com o público. Tento fazer algo diferente. Eu canto, converso com a audiência. Às vezes enlouqueço e pulo no meio da platéia".
Equipamentos quebrados, sangue e contusões não são incomuns nos shows de Forrest. Incomuns, também, não são as lembranças de canções antigas que temos ao ouvir sua música.
É que a matéria-prima principal das composições de Forrest são samples, pequenos pedaços de outras obras.
Por exemplo, uma das canções de seu último álbum, "Shamelessly Exciting" (ainda não lançado no Brasil), chama-se "My 36 Favorite Punk Songs", feita, em seus 2 minutos e 20 segundos, com partes das... 36 músicas punk favoritas de Forrest -coisas de Ramones, Clash, Minor Threat...

Originalidade
Ao se utilizar de samples -seja de Van Halen, seja de algum cantor obscuro de soul dos anos 60-, Jason Forrest dá uma alfinetada nas novas bandas roqueiras. "Toco em festivais com um monte dessas bandas novas e sinto que elas estão apenas roubando. Eu uso samples, então entendo bem o que é usar algo de outra pessoa. Mas essas bandas pegam riffs e melodias de uma forma desinteressante, sem nenhuma criatividade", diz. "Um exemplo é o Wolfmother. Já os vi tocando, até gostei, mas cada música deles soava como uma cópia ruim de uma canção dos anos 70."

Música visual
Jason Forrest gosta de falar -afinal, não tem muita coisa a perder ao entrar em polêmica com bandas roqueiras mais conhecidas do que ele-, mas tenta justificar suas opiniões. Ter sido artista plástico o ajuda.
"Na escola de arte eles te treinam a não deixar nada ao acaso, você sempre deve explicar seu trabalho, de onde veio. Essa mentalidade está na música. Encaro as letras como descrições de pinturas ou algo parecido. Algo que seja visual."
Seus discos não chegaram ao Brasil, mas dá para tentar conhecer as músicas de Forrest pela net; bom começo é o site de seu selo (www.cockrockdisco.com) e sua página no MySpace (www.myspace.com/jason-forrest).
Quando começou a lançar suas produções, Forrest utilizava o apelido Donna Summer. Mudou depois que a diva voltou a fazer shows pela Europa.
"Eu até me montava nos shows, mas percebi que podia ser uma distração. É melhor fazer como as bandas punks, aparecer no palco sem muitos enfeites e dar tudo de si."
Apesar desse espírito punk, Forrest não se prende ao estilo na hora de compor e de tocar ao vivo com seu laptop. "Basicamente, cada sample é uma unidade de informação, seja um sample de heavy metal ou de disco, mas claro que os significados são diferentes. Se utilizo um sample do Minor Threat ou do Supertramp, há diferentes emoções por trás deles. É legal brincar com isso."
Em "Shamelessly Exciting", o último disco, os samples têm ficado menores. "Procurei colocar apenas uma nota ou acorde de guitarra, por exemplo, então provavelmente você não reconhecerá de onde eles vieram. Mas talvez eles te passem uma idéia de onde vieram."
Apesar de utilizar a obra alheia, Forrest diz que não tem problemas com isso. "Nunca fui processado. Talvez porque eu use samples como homenagem a artistas que gosto. Eles não vêem isso como insulto."


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