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BIA ABRAMO
Ovos, tomates e votos
A vocação da MTV é publicitária, e aí temos um problema com essas campanhas cidadãs
A MTV botou no ar uma campanha (leia-se: vinhetas de cerca
de um minuto nos intervalos
da programação) a propósito das
eleições. O tom é crítico, tanto em
relação ao governo quanto em relação à oposição, e algo agressivo
("prepare seu saco, os ovos e os tomates"). Entidades estudantis (UNE
e Ubes) interpretaram que a emissora estaria conclamando ao voto nulo
e fizeram uma carta aberta.
Embora a reação de UNE e Ubes
tenha algo de paranóica -a MTV
não fala em voto nulo, e sim sugere
que a campanha eleitoral vai ser de
uma chatice ímpar- e a paranóia
quase sempre seja indicativa de um
grande e profundo medo de revelação, não interessa aqui discutir se há
alguém com maior ou menor razão.
Afinal, trata-se do confronto entre
duas posições políticas legítimas no
sistema democrático e é isso que interessa, no fundo, certo?
O que parece que pode ser um objeto mais rico de discussão são os
formatos utilizados por um e outro
lado nesse conflito de opiniões. A
MTV, bem ou mal, tornou-se uma
espécie de laboratório de experimentação da linguagem televisiva
"jovem" que pode ser absorvida e
utilizada pelo mercado mais amplo
de publicidade.
No fundo, por ampliada que tenha
sido a programação nesses 25 anos, a
vocação da MTV é original e profundamente publicitária, e aí temos um
problema com essas campanhas cidadãs. Quando a discussão é mais ou
menos simples e unânime, como no
caso do uso da camisinha para prevenir o vírus HIV (ok, a Igreja Católica é contra, alguns pais se arrepiam,
muitos jovens hesitam na hora de
usar, mas há mais consenso do que
dissenso), o tom impositivo da propaganda funciona.
A propaganda, por definição, reduz o mundo a proposições simples.
Como a MTV está combatendo a
propaganda eleitoral com o mesmo
armamento, trata-se de jogar querosene para combater o fogo.
Já as entidades estudantis falam a
linguagem do alarme e da indignação. Atropelaram o sentido "rebelde" dos filmetes e viram um caráter
negativista que não estava exatamente lá. Ao mesmo tempo em que
atribuem à MTV um peso exagerado, exigem uma circunspecção que a
emissora não tem a menor obrigação de observar.
Pareceria piada, se tivesse alguma
graça. De um lado, a MTV com suas
armas sofisticadas de propaganda.
De outro, entidades estudantis com
seus métodos tradicionais de manifestação. No meio disso tudo, jovens
sendo disputados a tapa por uns e
outros. O de sempre.
biabramo.tv@uol.com.br
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