São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2011

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o eterno retorno

Crítico britânico ataca obsessão da música em copiar passado cada vez mais recente

Daniel Boczarski/WireImage
O produtor Ariel Pink

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Autor de livros fundamentais sobre a cena eletrônica e o pós-punk, o crítico musical britânico Simon Reynolds lançou um livro tentando explicar um dos fenômenos mais evidentes da cultura pop atual: por que tanta música nova parece cópia de música mais antiga?
Em "Retromania - Pop Culture's Addiction to its Own Past" (em tradução livre, retromania - a obsessão da cultura pop por seu próprio passado), ainda inédito no Brasil, Reynolds traça um panorama nada otimista da cena cultural do século 21.
Em entrevista à Folha, Reynolds afirma que os downloads de música e a oferta infinita de produtos são "um desastre para artistas e para fãs".
"A cultura digital se fundamenta na facilidade, e a facilidade de acesso e o custo mínimo de aquisição têm levado a uma depreciação no valor da música e à degradação da experiência audiófila."
Segundo o autor, todo grande movimento cultural buscou inspiração em alguma manifestação do passado. O problema é que artistas atuais estão buscando suas musas num passado cada vez mais próximo.
"Nunca houve, na história universal, uma sociedade tão obcecada com os artefatos culturais de seu passado imediato. É o que distingue 'retrô' de história", afirma.
Isso criaria, segundo Reynolds, um círculo vicioso, em que as influências que cada artista sofreu têm mais peso que a inspiração artística.
No livro, o autor analisa os fenômenos das turnês de reunião de bandas, o aumento impressionante da venda de discos de catálogo, a influência do YouTube como "arquivo infinito" da cultura pop e a forma como a música é consumida hoje, "muito mais como pano de fundo para outras atividades, como trabalhar no computador ou andar de metrô".
A conclusão é pouco animadora: "Acho que hoje há muita coisa legal para ouvir, mas a maioria envolve, de certa forma, a reinterpretação do passado".
"Não tenho ouvido coisas que, na época, me pareceram tão novas e radicais quanto 'Remain in Light', do Talking Heads, por exemplo, um disco que, especialmente no segundo lado, parece conter em cada canção uma nova direção para a música."


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