São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2011

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Retorno de modas do passado não é algo aleatório

VIVIAN WHITEMAN
EDITORA DE MODA

Cuidado com a moda, que a moda te pega. O jogo de reedição de décadas faz parte do sistema e vive enganando os menos atentos, aqueles que pensam o circuito fashion como uma tola brincadeira de cobiçar e consumir.
O retorno de períodos do passado ao topo da moda nunca é aleatório. Não basta detectar que certa época voltou à cena, é preciso ler as oscilações das vitrines.
A camisa xadrez largada, que vem dos trabalhadores braçais e do campo e que já foi símbolo grunge, agora é adotada pelos tais "hipsters".
Ou seja, a roupa de trabalho dos caipiras virou símbolo da antimoda de Kurt Cobain e companhia, para ressurgir como uniforme dos modernos -que se dizem avessos a modismos, mas usam, na verdade, a tendência do momento.
Entre as moças, por outro lado, o vestidinho de vovó e o revival comportado dos anos 50 e início dos 60 estão com tudo. O mercado de moda e suas grandes empresas querem fazer da caretice o hit do verão.
Nas capas de revistas como a "Vogue", o estilo madame de família aparece adaptado ao clima tropical, assim, sabe, mais alegrinho.
O estilinho da mamãe perfeita e da mocinha ingênua, porém, foi desconstruído pela grande dama torturada da música desta geração: Amy Winehouse (1983-2011).
Amy escolheu essas roupas para dar cara às suas letras doloridas e ao seu drama pessoal. Os fãs entenderam.
Então, o retrô comportadinho vindo das donas-de-casa reprimidas virou figurino irônico de diva atormentada e agora está sendo vendido como o look ideal para as adeptas do reacionário retorno aos ditos "bons valores tradicionais".
Enquanto o mundo pega fogo e as "princesas" boazinhas tricotam e brincam de casinha, mansas feito carneiros, o mercado dá seus pontos. Nenhum deles sem nó.


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