São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2011

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'Um Rubi no Umbigo', primeira peça solo de Gullar, estreia no Rio

André Paes Leme encena uma versão mais cômica do texto

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

Perseguido pelo regime militar, Ferreira Gullar tinha acabado de cair na clandestinidade -era 1970- quando leu a notícia no jornal: pai é acusado de roubar rubi encravado no umbigo do filho (por razões medicinais) para sanar dívidas da família.
"Eu achei isso tão engraçado e louco que me veio a ideia, independentemente de ser verdade ou não", lembra o poeta e colunista da Folha.
A ideia era usar a história como mote para uma peça, "Um Rubi no Umbigo", que estreou ontem para o público na Caixa Cultural do Rio.
Na época recém-saído do Grupo Opinião, no qual aprendeu a fazer dramaturgia ao lado de figuras históricas como Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), Gullar se aventurava em sua primeira peça individual.
Ao escrever, não perdeu de vista o caráter cômico da história -a obra é uma comédia-, mas, até como reflexo dos tempos sombrios em que vivia, retratou no texto "a relação do ser humano com a riqueza" de modo crítico e desesperançado.
"É um mundo de tal maneira desumanizado que, se você tem algo que pode ser objeto da ambição dos outros, está ferrado", diz.
Quando assistiu à primeira montagem, em 1979 (com direção de Bibi Ferreira), Gullar achou que tinha pesado demais a mão. Decidiu reescrever o final.
"Terminava de uma maneira um tanto macabra. Percebi que estava muito para baixo. Então, eu resolvi criar uma cena irônica, mas menos macabra, sem mudar o sentido geral da peça."
Na montagem que leva aos palcos agora, o diretor André Paes Leme aproveita o espírito desse final mais leve para a história toda.
Comparando-a com a encenação de 1979, diz que a sua versão é "mais cômica, mas sem perder a tensão".
"O riso cria uma possibilidade de crítica e de percepção mais agradável das coisas. O tratamento que a peça teve nos anos 70 era muito mais realista, dramático, e nós, propositalmente, tornamos tudo isso mais frenético, expressionista."
Gullar não participou da atual montagem ("Não estou mais ligado nessa área teatral como antigamente", diz), mas quer vê-la.
"Vou lá me solidarizar com os garotos. Só o fato de eles terem se dedicado a fazer meu texto já é uma grande alegria para mim."

UM RUBI NO UMBIGO
QUANDO de qua. a dom., às 19h30; até 4/9
ONDE Caixa Cultural (av. República do Chile, 230, anexo, Rio, tel.: 0/xx/21/2262-8152)
QUANTO R$ 10 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 12 anos




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