FÁTIMA GIGLIOTTI
da Reportagem Local

Sim, há vida inteligente em Hollywood. Claro que com uma mãozinha considerável do inglês Mike Newell ("Quatro Casamentos e um Funeral"). Pode-se dizer que ele é o maestro por trás da sinfonia de testosterona e humor que faz de "Alto Controle" uma das surpresas do ano no cinema.
Newell deve muito à originalidade e espírito do roteiro de Glen e Les Charles (do seriado "Cheers"), inspirado num artigo da "New York Times Magazine". E a seu talento para orquestrar, na exata medida, os compassos dos diálogos pontiagudos, das interpretações precisas, da encenação.
O cenário já é de outro mundo, pelo menos no sentido cinematográfico: a sala dos controladores de vôo de Nova York, que são responsáveis pelas decolagens e aterrissagens de cerca de 7.000 aviões por dia, nos três aeroportos da cidade (Newark, JFK e LaGuardia).
Uma tensão e tanto. Mas, para Nick Falzone, (John Cusack) brincar de video game com os aviõezinhos no radar é um barato. Ele é o maioral. Até a chegada do caipirão Russell Bell (Billy Bob Thornton), que tem sangue de índio, um comportamento irritantemente zen e o mesmo gosto pelo video game. Só que não brinca em serviço, e transforma o trabalho num arriscado jogo, com as mais arriscadas manobras.
Se ele faz isso de propósito ou não, não interessa. Interessa apenas que acaba ferindo os brios exacerbados de Nick. E começa a competição entre os machos. O que parece previsível ganha vitalidade e aspereza com os diálogos afinados dos roteiristas, tarimbados pela experiência na TV, e com as performances impecáveis de Cusack e Thornton, um deleite.
Quando os dois ultrapassam os limites da sala de controle, a rivalidade cai no inevitável: Nick acaba com a mulher (Angelina Jolie, um coquetel de progesterona) de Russell, que dá o troco com a mulher (Cate Blanchett, um assombro) do inimigo. E elas não são tão inocentes assim. Bem-feito.
Quando o riso solto começa a ficar nervoso, o filme descamba para um epílogo piegas. Que cai muito bem nesse microcosmo da sociedade americana, retratado por Newell com um tom patético. Apenas o que tinha de ser.

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