São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

As garotas da capa

Eduaro Knapp/Folha Imagem
Carolina Dieckmann segura o chapéu na piscina de areia


Carolina Dieckmann acaba de chegar! Recebida com sorrisos cautelosos no estúdio do fotógrafo André Schiliró, ela tira os óculos Prada e dá uma bufadinha entediada, para logo em seguida ficar simpática.

 

Dieckmann vai posar para a capa do primeiro número da revista "Shape", de saúde e beleza, e estão à espera dela no estúdio 15 pessoas: o fotógrafo, o assistente e dois "apoios"; o diretor editorial, a editora-chefe, a editora de arte, a chefe de arte, a editora de web e a editora de saúde e beleza; o agente da atriz; o cabeleireiro, o maquiador e a manicure; a stylist, com cerca de 70 looks. "Vamos fazer três fotos", diz Schiliró.

 

A atriz caminha até uma arara para ver do que gosta. Tensão. "O olho da Carol é verde, então esse [modelo] aqui puxa para o brilho do rosto dela", diz a stylist, Manu Carvalho.

 

A produção da capa de uma revista mensal pode começar até 60 dias antes, com o cruzamento das disponibilidades de horários do fotógrafo, cabeleireiro, stylist (produtor). "Dispúnhamos de um prazo bom. Deu pra esperar o momento em que todos podiam", diz a editora-chefe, Diana Cortez.

 

Basicamente, quem decide se interessa para a atriz estar em uma publicação é o agente, já que ela não ganha nada para posar: o retorno é a exposição de sua imagem. "Hoje, não é suficiente estar na TV. A atriz tem que estar em uma boa revista, ter atitude, se colocar bem perante a sociedade. Aí, é capaz de vender telefonia, refrigerante... O que dá dinheiro não é novela, é publicidade. Elas ficam ricas, poderosas até", diz Márcio Damasceno, agente de Dieckmann.

 

Aparecendo nas capas e "se colocando bem perante a sociedade", a celebridade ajuda o agente a ficar "rico e poderoso" também. Ele ganha entre 10% e 20% do valor de cada campanha publicitária (o que, no caso de uma atriz de horário nobre, pode chegar a R$ 300 mil).

 

Muito diligentes, esses assessores indicam aos produtores da capa uma lista de preferências da atriz. "O Márcio me cerca de cuidados. Se eu quiser comer queijo branco em vez de amarelo, tem, entende?", explica Carolina Dieckmann, ao lado do bufê com sanduíches de metro com recheios variados, pães de queijo, chocolates, refrigerantes light e normal, morangos, requeijão, pães de forma, barras de cereal, queijo prato, branco, peito de peru defumado e biscoitos de polvilho.

 

Além de "organizar a logística", como diz Márcio, o agente eventualmente dá pitacos na sessão de fotos. Ike Cruz, o de Juliana Paes, conta: "A gente estava fazendo a capa da "Vogue RG", e o (maquiador) Duda (Molinos) perguntou à Juliana o que ela achava de "colocar boca" (batom forte). Aí, eu entrei: "Em que cor você está pensando?" Porque eu não gosto da Juliana com boca. Fica "over'".

 

Ike explica como costuma argumentar com os clientes. "Digo: "Desculpe, mas você conhece o seu produto. Quem conhece a Juliana sou eu". Assim como a [agência de publicidade] Almap sabe tudo sobre a Volkswagen, eu sei sobre a Juliana." No caso da "Vogue", Ike diz que escolheu até o jornalista que escreveu a matéria. "Eu pedi o Bruno Astuto. Adoro. É meu amigo, antes de ser jornalista."

 

Carolina Dieckmann vai vestir o primeiro look. O produtor chama o repórter em um canto e diz que ela não quer que a fotografem de biquíni. Depois, ela explica: "É muita exposição". Momentos antes, ela deliciava os circunstantes dizendo que não tem "o menor problema com os paparazzi". "Outro dia, eu tava com uns amigos na praia [de biquíni], no Recreio, e, de repente, apareceram uns 20. Foi bom porque eles iam buscar água de coco pra gente." A atriz já foi fotografada em dezenas de biquínis: fio dental, de oncinha -até topless.

 

Embora seja considerada "difícil", Carolina está tranquila no set. Só não gostou do cabelo: "Nem pensar! Você não acha estranha essa franja lisa com babyliss na lateral?", pergunta ao cabeleireiro, Thiago Fortes, que liga o secador no máximo e aponta para o babyliss. Ela brinca: "Ai, que grosso!" Ele ri.

 

Produções de capas de revistas rendem histórias inesquecíveis, que todo mundo nesse mercado adora contar, mas ninguém quer se identificar. Não dá pra queimar o filme com os agentes e se arriscar a perder potenciais futuras capas. "Fizemos uma com a Ivete [Sangalo] que custou três vezes mais do que o de costume. Só com o carro, que normalmente custa R$ 4.000, foram R$ 14 mil porque eles pediram um blindado e tinha de ser de determinada empresa", conta uma editora, que pede anonimato. A assessoria de Ivete não comenta.

 

Por via das dúvidas, todos no estúdio de Schiliró paparicam Carolina Dieckmann. Mostram-se impressionados quando ela diz, magérrima (1,60 m, 50 kg), que não faz regime, não vai ao dermatologista e nunca fica doente. Ao comentar a raiz de seu cabelo mais escura, Carolina ironiza. "Isso é para você ver como eu sou vaidosa." Descobre-se em seguida que se trata de um desvelo estudado. A editora Diana Cortez explica que Carolina "lançou moda de deixar a raiz sem pintar". "Eu acho "cool'", diz Manu, a stylist.

 

Fofocas sobre desentendimentos em produções de capas espalham-se rapidamente. O exemplo mais recente foi o "bafão" entre o maquiador Lili Ferraz e a atriz Vanessa Lóes, que ia fotografar para a revista "Corpo a Corpo". "Ela passou a mão no rosto, tirou o corretivo, disse que tinha problema de pele envelhecida e que, daquele jeito, não ia dar. Já não gostei", diz Lili. Segundo ele, a atriz teria dito que precisava se sentir bem para sair bem. "Eu não estava ali pra fazer ninguém se sentir bem, mas para fazer uma capa de revista."

 

Vanessa saiu chorando. As assessoras foram acalmá-la no banheiro. Quando ela voltou, Lili ("pra mostrar que estava tudo bem"), sugeriu que ela colocasse o pé em cima da bancada, para relaxar (e reclinar a cabeça). "Ficava bom pra ela e para mim." Nova crise de choro. André Schiliró, que só aparece "na hora do clique", ouviu a confusão e foi ver o que era. Decidiu que não faria mais a foto. Vanessa ainda o aguardou, mas ele não apareceu mais. Ela fez depois, com André Wanderley, no Rio. A assessoria de Vanessa não respondeu à coluna. A revista informa que "nenhuma das pessoas que acompanharam os ensaios faz parte da redação hoje em dia".

 

Para a fotógrafa Nana Moraes, que fez as capas da revista "Nova" durante 13 anos, "a produção não envolve as vontades de apenas uma estrela, mas de uma constelação".

 

Ela se diverte contando a história da foto que fez com Regina Duarte, Bruna Lombardi e Luiza Brunet para a edição de 20 anos da revista. "A Regina se sentou em frente à câmera, colocou aquele sorriso no rosto e ficou, do começo ao fim, como se nada estivesse acontecendo. A Bruna dava cotoveladas na Luiza, tipo "chega pra lá". Aí, quando eu conseguia ajeitar as três, a Bruna dizia: "Ah, tô com vontade de fazer xixi" e saía. A Luiza queria matar."

 

Para Nana, o pior não é a produção, mas a perda do controle sobre o Photoshop. "Não dá pra fazer um trato, tipo "agora ninguém mexe mais". Se a diretora quer a mulher mais magra, ou torneada, vai mexer."

 

Carolina Dieckmann agora posa ajoelhada num cercadinho baixo, cheio de areia, que faz as vezes de praia. A cada sequência com um determinado look, ela vai ao monitor ver o resultado. No final, é ela quem escolhe as fotos. Diana diz: "Maravilhosa essa!", e Manu: "Tá lindo, Carol!" Carolina suspira, apaziguada. A produção idem, quando ela finalmente vai embora.


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