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Jovens estagiários do departamento disputam quem verá "Harry Potter"
DA ENVIADA A BRASÍLIA
Óculos, camisa social, gravata sob o colete de lã, Otávio
Mendonza tem um rosto que
desmente seu traje. Mendonza
veste-se com a seriedade que a
função de "encarregado do monitoramento" de programas e
filmes pressupõe. Mas fala como o jovem de 23 anos que é.
"Quando vim pra cá, todo
mundo dizia que era o trabalho
dos sonhos. Imagina passar o
dia vendo filme e novela? Mas
não é tão glamuroso como parece", diz, na pouco glamurosa
sala de 2m x 3m onde trabalha.
Cabe a ele, formado em audiovisual pela Universidade de
Brasília (UnB), distribuir, entre
os 32 "analistas" do ministério,
os filmes a serem classificados.
Segundo ele, os mais disputados são os títulos das séries
"Harry Potter" e "X-Men".
Neste ano, passaram por ali
212 longas, muitos deles vistos
na sala de projeção, reequipada
há quatro anos. O projetor anterior era de 1920. A despeito
da praticidade do DVD, muitas
distribuidoras, por medo da pirataria, mandam os filmes em
película em 35 milímetros, com
um acompanhante que não
desgruda da cópia por nada.
Entre os estagiários de Mendonza estão a estudantes da
UnB Rafaela Camelo, 23, que
cursa audiovisual, e Giovanna
Toscano, 24, aluna de psicologia. "Estudo a questão da violência doméstica, e trabalhar
aqui é um outro jeito de ver esse tema", diz a futura psicóloga.
"É difícil conseguir estágio na
área de cinema, e aqui vejo
muita coisa", conta Rafaela. Se
há algo que incomoda é quando
ouvem alguém dizer que um filme tem a "censura" tal.
Os traumas remontam a
1967, quando foi estabelecida a
censura prévia a qualquer obra
que contivesse "ofensa ao decoro público". A divisão de censura foi desativada em 1988 e, em
1990, regulamentou-se a classificação. Durante uma década,
porém, o sistema foi pró-forma.
Apenas em 2000 foi criada uma
nova portaria destinada a "uniformizar" os critérios. Em
2006, aprovou-se o manual em
vigor. Quem segue essa trama
desde o primeiro capítulo é
Fernando Almeida, despachante que protocola, embrulha, desembrulha e carimba filmes e
programas desde 1962. "Gosto
muito desse trabalho. E não
tem jeito. Se vou ao cinema, vejo o filme o tempo todo classificando."
(APS)
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