São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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Jovens estagiários do departamento disputam quem verá "Harry Potter"

DA ENVIADA A BRASÍLIA

Óculos, camisa social, gravata sob o colete de lã, Otávio Mendonza tem um rosto que desmente seu traje. Mendonza veste-se com a seriedade que a função de "encarregado do monitoramento" de programas e filmes pressupõe. Mas fala como o jovem de 23 anos que é.
"Quando vim pra cá, todo mundo dizia que era o trabalho dos sonhos. Imagina passar o dia vendo filme e novela? Mas não é tão glamuroso como parece", diz, na pouco glamurosa sala de 2m x 3m onde trabalha. Cabe a ele, formado em audiovisual pela Universidade de Brasília (UnB), distribuir, entre os 32 "analistas" do ministério, os filmes a serem classificados. Segundo ele, os mais disputados são os títulos das séries "Harry Potter" e "X-Men".
Neste ano, passaram por ali 212 longas, muitos deles vistos na sala de projeção, reequipada há quatro anos. O projetor anterior era de 1920. A despeito da praticidade do DVD, muitas distribuidoras, por medo da pirataria, mandam os filmes em película em 35 milímetros, com um acompanhante que não desgruda da cópia por nada.
Entre os estagiários de Mendonza estão a estudantes da UnB Rafaela Camelo, 23, que cursa audiovisual, e Giovanna Toscano, 24, aluna de psicologia. "Estudo a questão da violência doméstica, e trabalhar aqui é um outro jeito de ver esse tema", diz a futura psicóloga. "É difícil conseguir estágio na área de cinema, e aqui vejo muita coisa", conta Rafaela. Se há algo que incomoda é quando ouvem alguém dizer que um filme tem a "censura" tal.
Os traumas remontam a 1967, quando foi estabelecida a censura prévia a qualquer obra que contivesse "ofensa ao decoro público". A divisão de censura foi desativada em 1988 e, em 1990, regulamentou-se a classificação. Durante uma década, porém, o sistema foi pró-forma. Apenas em 2000 foi criada uma nova portaria destinada a "uniformizar" os critérios. Em 2006, aprovou-se o manual em vigor. Quem segue essa trama desde o primeiro capítulo é Fernando Almeida, despachante que protocola, embrulha, desembrulha e carimba filmes e programas desde 1962. "Gosto muito desse trabalho. E não tem jeito. Se vou ao cinema, vejo o filme o tempo todo classificando." (APS)

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